Trabalhadores da Efacec suspendem greve depois de garantido novo empréstimo de 45 milhões

Garantia do Estado, através do Banco de Fomento, viabilizou empréstimo de 45 milhões de euros, concedido por quatro bancos nacionais, incluindo a CGD.

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Trabalhadores da Efacec têm reclamado financiamento para compra de matérias-primas LUSA/JOSÉ COELHO

A greve parcial dos trabalhadores da Efacec prevista para esta quinta-feira foi suspensa na sequência da concretização do financiamento de 45 milhões de euros à empresa, avançou à agência Lusa fonte sindical.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), “após saberem da intenção do Estado” de viabilizar a injecção de 45 milhões de euros na Efacec, “os trabalhadores entenderam suspender a greve do dia 16 de Dezembro e realizar, nesse dia, plenários em que se discutirá o que irão fazer no futuro”.

Numa nota enviada à Lusa, a direcção do sindicato salienta que “esta nova injecção de capital tem de ser devidamente fiscalizada” e que “os trabalhadores têm a expectativa de que o dinheiro, tal como foi dito pelo ministro da Economia, seja realmente para comprar matérias-primas e colocar a fábrica a laborar”.

Garantindo que “estará atento ao destino” deste financiamento, o Site-Norte avisa que “novas formas de luta serão marcadas no caso de o dinheiro não ser utilizado para a compra de matérias-primas”.

“Nesse sentido – avança - irá pedir reuniões à Parpública e à administração da Efacec e reiterar esses pedidos aos ministérios competentes”.

O sindicato lembra ainda que continuam “em aberto” as reivindicações dos trabalhadores quanto à não reprivatização da empresa e à demissão da actual administração, relativamente às quais “também exigem respostas e acção do Estado”.

A Efacec recebeu esta semana um novo financiamento bancário com garantia pública, de 45 milhões de euros, que o ministro da Economia tinha avançado na passada quinta-feira que devia “estar a chegar”, confirmou esta quarta-feira à Lusa fonte oficial da empresa.

Garantido pelo Banco de Fomento, o empréstimo foi obtido junto de um sindicato bancário constituído pela CGD, Novo Banco, Millennium BCP e Montepio e visa permitir à empresa manter a operação até conclusão do processo de reprivatização, no âmbito do qual prosseguem as negociações com o único candidato ainda na corrida, o grupo português DST.

Esta seria a quarta greve parcial, em pouco mais de um mês, cumprida pelos trabalhadores da Efacec, que reclamam a intervenção do Estado na empresa para garantir a normal laboração da unidade, que dizem que tem estado “parada” nos últimos meses “devido à falta de matéria-prima, em consequência da falta de pagamento a fornecedores”.

Nas três greves realizadas até agora – em 10 e 30 de Novembro e em 9 de Dezembro - os trabalhadores pararam entre as 14h00 e a 16h00 para exigir ao Governo que, “enquanto dono da empresa”, garanta a compra das matérias-primas necessárias à normal laboração.

Reclamam ainda que o Estado se mantenha no capital da Efacec e que a actual administração seja demitida.

Numa declaração enviada à Lusa no dia da última greve, a 09 de Dezembro, fonte oficial da Efacec afirmou que “não entende as motivações” da greve, nem “se revê nas acusações de que é alvo, nomeadamente de estar inactiva”.

“Uma empresa parada não conquista clientes, não é distinguida com prémios, não é escolhida por centenas de empresas para ser parceira na candidatura a cinco projectos altamente estruturantes para o futuro do país, não investe na criação de uma nova estrutura organizacional, para se tornar mais eficiente, não alcança receitas superiores a centenas de milhões de euros”, sustentou na altura.

Convictos de que “foi também a luta dos trabalhadores que pressionou o Estado a injectar mais 45 milhões de euros na Efacec”, os trabalhadores salientam que, com as greves realizadas, alertaram para “o facto de o Estado e o Governo manterem a liderar a administração os mesmos que no passado despediram e perseguiram trabalhadores, que criam cargos de direcção e dão aumentos aos ‘amigos’”, mas não aos trabalhadores”.

Destacam ainda que, com as paralisações, “deram a conhecer as suas preocupações com o destino dos 70 milhões de euros que foram injectados na Efacec” em 2020, com garantia do Estado.

O Governo pretende que o processo de reprivatização dos 71,73% do capital social da Efacec actualmente nas mãos do Estado esteja concluído até ao final do ano, sendo que o grupo português DST SGPS foi o único a apresentar uma proposta final de compra, segundo anunciou recentemente a Parpública.

A entrada do Estado na Efacec decorreu da saída de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, da esfera accionista, na sequência do envolvimento no caso Luanda Leaks, no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária.

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