Músicos e alunos do Instituto de Música do Afeganistão acolhidos em Portugal, que vai passar a ser a sede da escola

Fundador e alunos do Afghanistan National Institute of Music, integrados num grupo de 273 afegãos acolhidos por Portugal, chegaram segunda-feira a Lisboa. Escola reconhecida internacionalmente vai reabrir em Portugal.

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Uma pianista da orquestra Zohra, composta por 35 mulheres, no Instituto de Música do Afeganistão em 2016 Ahmad Masood/Reuters

Portugal recebeu segunda-feira 273 refugiados afegãos, cerca de metade dos quais são jovens membros do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, cuja sede passará agora a ser em território português. São sobretudo mulheres e seus familiares, que têm como objectivo continuar a tocar e “salvaguardar a tradição musical do Afeganistão para o futuro” como disse à agência de notícias AFP Ahmad Sarmast, director e fundador da instituição. Em breve, a escola deverá reabrir em Portugal.

“Agradeço à comunidade internacional ter salvo as nossas vidas”, disse uma das estudantes do Afghanistan National Institute of Music (ANIM, na sigla em inglês, como é mais conhecida), Shogula Safi, à saída do avião em Lisboa, citada pela agência AFP. “Vai permitir-nos continuar a tocar música e isso deixa-me verdadeiramente feliz”, acrescentou Murtaza Mahammadi, outro aluno e músico da escola.

O grupo de refugiados afegãos aterrou segunda-feira no aeroporto militar de Lisboa e entre eles encontram-se “estudantes, jovens mulheres e homens, com os seus familiares directos, incluindo irmãos (crianças), que terão oportunidade de viver e retomar os seus estudos em Portugal”, como detalhou o primeiro-ministro, António Costa, numa mensagem na sua conta oficial na rede social Twitter na segunda-feira.

A chegada destes estudantes e profissionais é o culminar de um longo processo, detalhou por seu turno o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em Bruxelas também na segunda-feira. Após a fuga do Afeganistão em Outubro, depois da saída das tropas norte-americanas do país e da tomada do poder pelos taliban em Agosto, estes cidadãos encontravam-se no Qatar, de onde viajaram até Lisboa.

Perpetuar a música afegã

O Instituto Nacional de Música do Afeganistão foi criado em 2008 para gerar um espaço de formação musical para jovens e com vista a manter a tradição musical do país, tendo contado com o apoio do governo de Cabul bem como com mecenas como o Banco Mundial ou o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão. A sua abertura formal aconteceu em 2010. Quando o site da instituição foi actualizado pela última vez, a escola contava com 300 alunos, sendo 35% do corpo estudantil do sexo feminino — quase 60% dos alunos eram provenientes de famílias carenciadas.

Agora, o objectivo é reabrir a escola, como disse à AFP o seu fundador, Ahmad Naser Sarmast. “Temos uma missão importante, perpetuar a música afegã.”

A chegada e acolhimento destes profissionais e alunos em Portugal correspondeu a uma das prioridades do país no apoio a cidadãos afegãos em risco perante o regime fundamentalista taliban. Entre eles figuram os “activistas de direitos humanos”, “jornalistas”, “ex-funcionários da administração anterior afegã” ou mulheres “que, por serem desportistas, por serem músicas, por serem profissionais, são vulneráveis a perseguições do lado do Afeganistão”, explicou Santos Silva segunda-feira em Bruxelas.

Citado pela agência Lusa, o chefe da diplomacia portuguesa detalhou: “Basta pensar que a participação de mulheres no desporto e na música foi banida e, aliás, a música foi banida pelo regime taliban, para perceber os perigos que corriam”. Em Outubro, Portugal acolheu dezenas de jogadoras da selecção afegã de futebol feminino e seus familiares.

Portugal decidiu assim apoiar o Instituto Nacional de Música do Afeganistão e seus alunos e músicos, que beneficiarão “das medidas de apoio ao acolhimento e à primeira integração que caracterizam a resposta de Portugal em matéria humanitária e de apoio aos refugiados”.

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