O Sporting vai a Amesterdão com um dilema

Ir aos Países Baixos ganhar dinheiro importante ou preparar jovens jogadores? O dilema de Rúben Amorim para a Champions não é fácil de resolver – o próprio lançou publicamente esses dois prismas –, mas parece haver um plano em Alvalade: o futuro depende de “miúdos” preparados.

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Treino do Sporting LUSA/RODRIGO ANTUNES

O Sporting vai fechar a fase de grupos da Liga dos Campeões no segundo lugar do grupo C e o Ajax no primeiro. Este é um dado que retira ao Ajax-Sporting desta quarta-feira (20h, TVI) alguma relevância, mas apenas no prisma competitivo. Há, depois, três domínios importantes pelos quais se vão reger os “leões”: um é mensurável, os outros dois nem tanto. E não são propriamente compatíveis entre si.

No plano menos relevante dos três, o Sporting quererá reverter o 5-1 sofrido em Alvalade, frente ao Ajax. Seja por vingança ou apenas para “limpar” a imagem, vencer o Ajax é um prestígio pelo qual os portugueses poderão lutar. E na Champions não se fala de “prestígio” sem falar de euros  esse, sim, é o plano importante.

Na Champions, estão sempre em jogo 2,8 milhões de euros em caso de vitória num jogo – para um clube português, um cheque de quase três milhões não é dinheiro desdenhável. O próprio treinador do Sporting, Rúben Amorim, lembrou na antevisão do jogo que é esse dinheiro que permitirá ao clube não vender os seus craques.

O problema é que a terceira motivação poderá não ir ao encontro desta avidez pelo dinheiro europeu e pelo prestígio. Na antevisão do jogo, Amorim garantiu que vai rodar a equipa. E explicou: “O jogo com o Ajax tem que ver com algo maior. O nosso plano é a longo prazo. É dar oportunidade a alguns jovens para serem titulares na Champions e terem espaço de crescimento. Nos oitavos-de-final vamos apanhar uma grande equipa e todos os jogadores têm de estar preparados para ajudar. Se todos estiverem no mesmo patamar, vamos estar mais preparados para vencer”.

Este “plano maior”, pensado a longo prazo, dá ao Sporting um dilema: vale mais dar minutos aos jovens craques, correndo maiores riscos de perder o jogo, ou vale mais um triunfo e, por extensão, o dinheiro que ajudará a manter esses craques em Alvalade no futuro?

A conferência de imprensa de Amorim não ajudou a resolver o dilema – e foi o próprio técnico que avançou estes dois prismas teoricamente inconciliáveis –, mas o plano do crescimento individual e colectivo poderá mesmo acabar por impor-se ao da tesouraria, até pela forma como Amorim já várias vezes “falou para dentro”, ao mostrar aos jovens jogadores que, ficando em Alvalade, terão minutos no futebol de topo. As poupanças no último derby lisboeta de 2020/21, numa fase em que havia em jogo um recorde de invencibilidade, já foram, há uns meses, uma pista conclusiva do plano que há em Alvalade.

Rúben Amorim não teve problema em apontar até alguns dos jovens que irão a jogo em Amesterdão. Um é João Virgínia, que vai “jogar pela vida” na Johan Cruyff Arena. Quem o garantiu, sem o dizer por estas palavras, foi o próprio treinador. “O Virgínia será titular, porque no final do ano temos uma decisão para tomar [o jogador está emprestado ao Sporting] e temos de o ver nestes momentos”, apontou, na antevisão do jogo.

E disse também que haverá um ala-direito em estreia: “Entre o Nazinho e o Esteves, um deles será titular. Fico muito contente por o Ajax não rodar a equipa e nós vamos aproveitar cada minuto para ver alguns jogadores nesta competição”.

Ajax queria “ajudar"

O que se perde com este plano de desenvolvimento individual de jovens? Além da possível perda do dinheiro, Amorim perde a oportunidade de desenvolver o “onze” habitual frente a este tipo de equipa.

A derrota frente ao Ajax na primeira jornada foi uma partida na qual os “leões” foram profundamente incapazes de jogar – erros individuais, mas também limitações no plano de jogo –, havendo, portanto, uma oportunidade para o técnico mostrar agora aos adeptos, à equipa habitualmente titular e a si próprio que consegue montar uma estratégia de sucesso frente a este tipo de adversário. E entre 32 equipas na Champions estamos a falar da segunda que mais remates faz por jogo, da quarta com mais posse de bola e da quinta com mais tempo passado no terço de campo adversário.

Em suma, este é um tipo de adversário com o qual o Sporting não está habituado a jogar internamente, pelo que os “leões” carecem de desenvolvimento individual e colectivo nesta adversidade, sob pena de os “oitavos” da Champions correrem da pior forma.

E até Erik tem Hag, treinador do Ajax, parecia disposto a oferecer ao Sporting este “dia de treino”, garantindo que não vai entrar em poupanças. Há, para os neerlandeses, a possibilidade de serem a primeira equipa dos Países Baixos a acabar a fase de grupos da Champions só com vitórias.

“Pode ser um jogo histórico. Somos uma equipa ambiciosa e queremos bater todos os recordes que aparecem à nossa frente. Por isso, vamos tentar, mesmo sabendo que já está tudo definido quanto ao apuramento e ao primeiro lugar”, afirmou Erik ten Hag.

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