O grupo etário com mais infecção de covid-19 é o das crianças abaixo dos 9 anos?

A directora-geral da Saúde disse esta quarta-feira que as crianças mais novas são o grupo etário “que mais infecção tem”. O que nos dizem os números divulgados pela DGS?

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Graça Freitas deu uma entrevista esta semana à RTP3 LUSA/MIGUEL A. LOPES

A frase

“Neste momento, o grupo que mais infecção tem, de todos, é o dos 0 aos 9 anos, particularmente dos 5 aos 9 porque é o único que não está vacinado”

Directora-geral da Saúde, Graça Freitas, em entrevista à RTP a 1 de Dezembro

O contexto

Em entrevista à RTP, na quarta-feira, e questionada sobre a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos, a directora-geral da Saúde disse que este grupo é o que “mais infecção tem”, em particular o “grupo dos 5 aos 9”. “Porque é o único grupo que não está vacinado, é o único grupo em que o vírus circula sem barreira”, explicava Graça Freitas, depois de ter referido que a Direcção-Geral da Saúde aguarda a decisão da comissão técnica de vacinação contra a covid-19 quanto à inoculação destas crianças, sendo que já recebeu o parecer de “um grupo externo de pediatras e especialistas em saúde infantil”.

Sem querer avançar com previsões da decisão, Graça Freitas esclareceu que as vacinas, não tendo uma taxa de prevenção de contágio a “80% ou 90%”, é efectiva para 50%, havendo uma “vantagem física” em vacinar estas crianças. Além disso, a directora referiu que “há casos graves de covid-19” entre crianças saudáveis.

“Não há internamentos zero. Numa criança saudável, a probabilidade não é alta como nos idosos nem como nos adultos. Mas não é muito residual. Um internamento de uma criança é sempre um aspecto preocupante”, referiu.

Os factos

Os números de novos casos, segundo os dados divulgados nos boletins epidemiológicos diários da Direcção-Geral da Saúde, mostram que esta sexta-feira se registou uma média dos 14 dias anteriores de 372 casos diários no grupo etário dos 0 aos 9 anos. Este registo é apenas o quarto mais alto entre as faixas etárias consideradas: a média mais elevada é nos 40 aos 49 anos, com cerca de 469 casos registados por dia nas últimas duas semanas; e a este grupo segue-se o dos 30 aos 39 anos, com uma média de 397 casos, e o dos 20 aos 29 anos, com 373.

Se olharmos para a incidência cumulativa, a faixa etária dos 0 aos 9 anos é a que apresenta o valor mais alto, com 591 casos a 14 dias por 100 mil habitantes, de acordo com os cálculos do PÚBLICO – um registo 25% superior à segunda incidência mais alta de 471 casos por 100 mil habitantes verificada nos 20 aos 29 anos.

No que diz respeito aos internamentos, não são divulgados dados que permitam verificar a afirmação de Graça Freitas. O PÚBLICO questionou a DGS quanto aos números de internamentos por faixas etárias, sem resposta até ao momento.

No entanto, os relatórios semanais das “linhas vermelhas”, divulgado pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) apresentam dados relativos às hospitalizações em unidades de cuidados intensivos. Neste indicador, o documento divulgado na semana passada indicava que havia duas crianças entre os 0 e os 19 anos em estado grave – o que correspondia, à altura, a 1,9% dos 103 doentes em UCI. Já no relatório desta sexta-feira refere-se que não há qualquer criança ou jovem entre os 0 e os 19 anos a precisar de cuidados intensivos.

Em resumo

O grupo dos 0 aos 9 anos não é o que tem registado mais casos diários de covid-19. Por outro lado, esta é a faixa etária com o registo mais elevado de incidência cumulativa a 14 dias por cem mil habitantes, algo que também pode ser interpretado a partir das declarações de Graça Freitas. Assim, não é possível concluir com certeza se a afirmação é verdadeira ou falsa.

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