Macron arranca périplo no Golfo Pérsico com venda de 80 caças aos Emirados

Presidente francês visita Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arábia Saudita, onde se reunirá com o príncipe herdeiro, numa viagem muito criticada por organizações de direitos humanos.

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Macron vai a três monarquias do Golfo em dois dias SARAH MEYSSONNIER/Reuters

O Presidente francês, Emmanuel Macron, e o xeque Mohammed ben Zayed, príncipe herdeiro e líder de facto do emirado do Abu Dhabi, estiveram presentes na assinatura: o acordo de compra de 80 aviões de combate Rafale pelos Emirados Árabes Unidos à França é “um contrato histórico” que “cimenta uma parceria estratégica mais sólida do que que nunca e contribui directamente para a estabilidade regional”, congratulou-se a ministra da Defesa de Paris, Florence Parly.

A compra dos caças Rafale e de 12 helicópteros à empresa Dassault Aviation, formalizada esta sexta-feira de manhã no Dubai, constitui uma encomenda sem precedentes no valor de 16 mil milhões de euros. Descrevendo esta venda como sinal de “confiança mútua” a somar à “presença de três bases militares francesas” na federação do Golfo Pérsico, a presidência francesa saudou em comunicado “uma grande conquista da parceria estratégica entre os dois países”.

Eric Trappier, director-geral da Dassault Aviation, falou de “excelentes notícias para França e a sua indústria aeronáutica”.

Para os Emirados, a compra representa um avanço considerável nas suas capacidades militares. Os caças “vão actualizar significativamente as capacidades do poder aéreo dos Emirados Árabes Unidos em termos de ataque e reconhecimento”, disse à Associated Press Charles Forrester, analista das revistas de defesa da empresa Janes. Para a Dassault, o país árabe ganha “uma ferramenta capaz de garantir a sua soberania e a independência operacional”.

Os Emirados são actualmente o quinto maior cliente da indústria de defesa francesa, com encomendas de 4,7 mil milhões de euros entre 2011 e 2020, diz a France 24. Nos últimos anos, a França tem sido criticada porque parte destas armas foram usadas na mortífera guerra do Iémen, onde a Arábia Saudita e os Emirados são acusados de crimes de guerra por várias organizações não-governamentais, como a Amnistia Internacional.

Macron faz assim uma rápida visita de dois dias à região que o levará ainda ao Qatar (onde chega a tempo do jantar) e à Arábia Saudita, onde será o primeiro dirigente ocidental a encontrar-se com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman depois da divulgação de um relatório da CIA que confirma que este “aprovou uma operação em Istambul para capturar e matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”, sublinha o jornal Le Monde. Khashoggi, um dissidente que vivia nos Estados Unidos e colaborava com o jornal The Washington Post, foi assassinado e desmembrado no interior do consultado de Riad em Istambul, em Outubro de 2018.

MBZ, nos Emirados, e MBS, no reino saudita, como os príncipes são conhecidos, são considerados os dois homens mais poderosos da região. Mais novos do que os seus antecessores (MBZ já tem 60 anos, MBS tem 36), são vistos como responsáveis pela aceleração de aberturas e reformas políticas no Médio Oriente, mas também como um factor de instabilidade. A sua intervenção militar no Iémen, onde se envolveram para combater os rebeldes houthis, próximos do Irão (com quem Riad disputa a hegemonia regional), depressa se mostrou um fracasso impossível de transformar em vitória, enquanto provocava o aumento da crise humanitária iemenita.

Dos Emirados, Macron parte para Doha, no Qatar, e sábado vai encontrar-se com MBS na cidade saudita de Jidá, no mar Vermelho. Para além de clientes da sua indústria de armamento, os três são regimes que Paris considera interlocutores importantes na luta contra o terrorismo e são, ao mesmo tempo, regimes envolvidos em muitas violações de direitos humanos.

Em cada etapa da viagem, “o objectivo é, em particular, aprofundar a cooperação na luta contra o terrorismo, debater a estabilidade regional e alargar as trocas económicas”, resume o Monde, notando que a visita tem sido “duramente criticada por muitas associações de direitos humanos”.

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