Lavrov alerta Europa de que o “pesadelo de um confronto militar” na Ucrânia pode voltar

Se a Rússia “decidir entrar em confronto, haverá consequências sérias”, garantiu o secretário de Estado norte-americano. Se a Ucrânia for arrastada para “jogos geopolíticos” dos EUA, Moscovo não deixará de reagir, respondeu o ministro russo.

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Blinken e Lavrov na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro de meia hora Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, avisou que a Europa pode estar prestes a regressar ao que descreve como “pesadelo de um confronto militar na Ucrânia”. Num encontro da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), em Estocolmo, e antes de se reunir com o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, ​Serguei Lavrov referiu a ideia de um novo pacto de segurança que impeça a NATO de continuar o seu alargamento a leste. Na véspera, precisamente numa cimeira da Aliança Atlântica, Anthony Blinken acusara a Rússia de preparar um “ataque em larga escala” à Ucrânia.

As tensões militares na Europa estão a aumentar, admitiu Lavrov no seu discurso no encontro anual de ministros da OSCE, responsabilizando por isso as ambições da NATO. “A arquitectura de estabilidade estratégica está a ser rapidamente destruída e a NATO recusa avaliar construtivamente as nossas propostas para diminuir as tensões e evitar incidentes perigosos”, disse ainda Lavrov, há 17 anos à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

“A infra-estrutura militar da Aliança está a ser irresponsavelmente trazida cada vez para mais perto das fronteiras da Rússia, na Roménia e na Polónia, com sistemas de defesa antimísseis que podem ser usados num ataque”, acusou. “Mísseis norte-americanos de médio alcance estão prestes a surgir na Europa, trazendo de volta o cenário de pesadelo de um confronto militar”, acrescentou o diplomata.

Depois de repetir avisos sobre as intenções russas em relação à Ucrânia – Kiev e vários responsáveis ocidentais acusam Moscovo de ter reunido perto de 100 mil soldados e equipamento pesado na fronteira – e de evocar “uma série de medidas económicas de grande impacto que [os EUA evitaram] usar no passado”, Blinken apelou a uma saída diplomática da nova crise e à retirada das tropas russas da fronteira ucraniana.

“Os EUA estão dispostos a facilitar isso, mas… se a Rússia decidir entrar em confronto, haverá consequências sérias”, disse o dirigente norte-americano na conferência de imprensa conjunta depois do encontro. Lavrov, por seu turno, disse a Blinken que Moscovo não deixará de responder, se a Ucrânia for arrastada para quaisquer “jogos geopolíticos” dos EUA, cita a agência de notícias russa Interfax.

Na descrição da Casa Branca, tratou-se de uma reunião “séria, sóbria e profissional”. Em declarações aos jornalistas na capital sueca, Lavrov insistiu que Moscovo “não quer conflitos, como disse o Presidente [Vladimir] Putin” e está disponível para negociar com Kiev.

Os EUA acreditam que a Rússia está preparada para uma nova invasão. “Não sabemos se o Presidente Putin já decidiu invadir. Sabemos que está a reunir a capacidade para o fazer em pouco tempo, caso tome essa decisão”, afirmou Blinken, ainda durante a reunião da NATO.

O tom para as intervenções de Lavrov tinha sido dado, na véspera, por Putin, durante uma recepção no Kremlin aos novos embaixadores, quando afirmou que a sua “prioridade máxima” é “conseguir acordos que excluam qualquer movimento futuro da NATO em direcção a leste”. O líder russo já dissera esta semana que Moscovo tem uma arma hipersónica recém-testada, pronta para um cenário em que os países ocidentais instalem ​na Ucrânia mísseis que podem atingir a capital russa em poucos minutos. A Rússia considera a Ucrânia parte da sua zona de influência.

O encontro entre Blinken e Lavrov deu-se num momento em que a Bielorrússia também continua no centro das divergências, com os países europeus a acusarem o regime bielorrusso de provocar uma crise nas fronteiras da UE ao incentivar as tentativas de passagem de milhares de requerentes de asilo a partir do seu país para a Polónia e, em menor número, para a Lituânia e a Letónia, com o apoio da Rússia. Dizendo temer ser arrastada também para esta crise, a Ucrânia aumentou nos últimos dias o número de forças junto à fronteira com a Bielorrússia, receando igualmente que Moscovo possa usar o território bielorrusso para uma incursão.

As relações entre os EUA e a União Europeia, por um lado, e a Rússia, por outro, atravessam um dos momentos mais delicados desde o colapso da URSS, um facto que o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, sublinhou em tom casual durante uma visita à Coreia do Sul, faz notar a Reuters: “O melhor cenário… é não vermos uma incursão da União Soviética na Ucrânia.”

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