Ómicron vai tornar as vacinas menos eficazes, diz administrador da Moderna

Bolsas caem com suspeitas de que a eficácia das vacinas e de tratamentos de anticorpos monoclonais será reduzida. Responsáveis das agências de saúde pública europeias tentam incutir confiança.

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Empresas de biotecnologia admitem ter de alterar vacinas e medicamentos contra a covid-19 EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

O administrador da Moderna, a empresa que fabrica uma das vacinas de ARN mensageiro contra a covid-19, disse ao Financial Times esperar que a variante Ómicron torne as actuais vacinas muito menos eficazes contra o novo coronavírus, e avisou que levará meses até que as farmacêuticas consigam produzir à escala necessária novas versões do seu produto. As bolsas deram um tombo ao serem conhecidas as palavras de Stepháne Bancel, e também o comunicado da Regeneron, que anunciou que o seu tratamento de anticorpos para a covid-19 pode ser menos eficaz contra a variante Ómicron.

“Não vamos ter, acho eu, a eficácia que tínhamos com a variante Delta”, disse Bancel ao jornal britânico, referindo-se às actuais vacinas contra a covid-19. “Acho que vamos ter uma queda substantiva. Só não sei quanto, porque precisamos de esperar pelos dados. Mas todos os cientistas com que falei dizem-me ‘isto não vai ser bom’”, relatou o administrador da Moderna, que tal como os outros fabricantes de vacinas está a acelerar no estudo da variante Ómicron para ver se precisa de fazer alterações.

Quanto à Regeneron, as mutações presentes na variante Ómicron indicam que “pode haver uma redução na actividade de neutralização [do vírus] induzida pela vacina e da imunidade conferida pelos anticorpos monoclonais”, diz um comunicado da empresa, referindo-se ao seu cocktail de anticorpos monoclonais designado Regen-Cov. Mas estão ainda a decorrer análises para avaliar o potencial impacto da variante, nos sintomas, nas vacinas e nos tratamentos. “Tal como os fabricantes de vacinas, vamos ter de nos adaptar constantemente”, disse o administrador Len Schleifer, numa entrevista à CNBC.

A Eli Lilly, que fabrica um outro tratamento de anticorpos monoclonais, está também a fazer testes para avaliar como este se comporta face à Ómicron, disse a empresa à Reuters. As acções da Regeneron caíram 3% durante a manhã, as da Eli Lilly 2,5%.

Outra empresa rival avançou que com base na sequência genética da variante Ómicron, o tratamento para a covid-19 de anticorpos monoclonais que fabrica, o sotrovimab, deve manter a actividade contra o vírus. Mas anunciou que, tal como as outras empresas de biotecnologia, está a fazer estudos para comprovar isto o mais rapidamente possível.

Os mercados só animaram um pouco com as declarações das responsáveis pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), Emer Cooke, e do Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças, Andrea Ammon, que estiveram numa audição numa comissão do Parlamento Europeu. Garantiram que as actuais vacinas continuam a conferir protecção contra a doença, e que os casos da variante Ómicron, que neste momento existem em dez países da União Europeia, são de doença ligeira ou sem sintomas – embora todos sejam em pessoas mais jovens, que tendem a ter doença menos grave.

Os testes laboratoriais para determinar a validade das vacinas levarão no entanto duas semanas a estar prontos, sublinhou Emer Cooke, citada pela Reuters. Mas se forem necessárias novas versões das vacinas, a EMA levará três ou quatro meses a aprová-las, assegurou.

A Universidade de Oxford, onde foi desenvolvida a vacina fabricada pela AstraZeneca, diz que não existem provas de que as actuais vacinas não evitem formas graves da doença causada pela variante Ómicron, mas mostrou-se pronta a actualizar a vacina que desenvolveu, se tal for necessário. A Moderna, a Pfizer-BioNtech e a Johnson & Johnson estão também a fazer testes para determinar como actualizar as suas vacinas, se se confirmar essa necessidade.

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