Negociações do acordo nuclear iraniano recomeçam em Viena com expectativas baixas

Teerão quer uma remoção total e imediata das sanções económicas, mas os diplomatas ocidentais receiam que a posição inflexível do regime mantenha as conversações num impasse.

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O novo Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, é um crítico do acordo nuclear EPA/Iran Presidential Office / HANDOUT

As negociações com o objectivo de reavivar o acordo nuclear com o Irão são retomadas em Viena esta segunda-feira, embora as partes envolvidas estejam a reduzir as expectativas de sucesso.

A ronda negocial que começa esta semana está a ser apresentada como a última hipótese de impedir que o acordo assinado em 2015, mas rejeitado pelos EUA três anos depois, se torne letra morta em definitivo. As primeiras seis rondas negociais indirectas decorreram entre Abril e Junho, mas foram suspensas por causa da eleição do novo Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, um político ultra-conservador e crítico das negociações.

Como tem acontecido até agora, os EUA não vão estar presentes nas conversações, que são mediadas pela União Europeia.

Os negociadores iranianos e das seis potências mundiais que subscreveram o acordo (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: EUA, França, Reino Unido, China e Rússia, e a Alemanha) estão pressionados pela aproximação do “breakout”, o ponto a partir do qual o programa nuclear de Teerão terá reunido o material físsil necessário para construir um engenho nuclear. Ainda assim, as autoridades iranianas avisam que estão ainda a dois anos de conseguir produzir uma ogiva capaz de ser usada como arma nuclear.

Desde o abandono pela Administração de Donald Trump do acordo que o Irão passou a desenvolver actividades de enriquecimento de urânio, ultrapassando os limites previstos pelo acordo. Ao mesmo tempo, as equipas de inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica foram impedidas de aceder a uma instalação vista como fundamental para monitorizar a actividade nuclear.

O regime iraniano insiste nos objectivos pacíficos do seu programa nuclear. Porém, o desenvolvimento deste programa preocupa os seus vizinhos, sobretudo Israel e a Arábia Saudita, com quem Teerão está envolvido numa disputa pela hegemonia no Médio Oriente.

Ainda este domingo, o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse estar preocupado com “a disponibilidade” dos negociadores internacionais para remover as sanções e “permitir a entrada de milhares de milhões no Irão em troca de restrições pouco satisfatórias no campo nuclear”.

Sanções

Para o Irão, a prioridade imediata das conversações é a remoção das sanções económicas que voltaram a ser impostas depois de Washington ter abandonado o acordo. O chefe da equipa negocial iraniana, e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Ali Bagheri Kani, diz que uma das prioridades de Teerão é “remoção total, assegurada e verificável das sanções que foram impostas ao povo iraniano”. “Sem isso”, continua, num artigo de opinião publicado este domingo no Financial Times, “o processo irá continuar indefinidamente”.

A posição irredutível do regime iraniano é criticada pelos seus interlocutores. “Se esta é a posição que o Irão vai continuar a manter na segunda-feira, então não estou a ver uma solução negociada”, disse à Reuters um diplomata europeu.

As autoridades iranianas estão igualmente a responder à pressão interna. As sanções económicas têm esmagado a economia nacional, muito dependente da exportação de petróleo.

Para piorar o quadro, o Governo enfrenta há já várias semanas uma onda de protestos por causa da escassez de água numa região altamente dependente da actividade agrícola. Na sexta-feira, a polícia reprimiu de forma violenta pelo menos um dos focos da contestação, segundo o New York Times.

Uma pequena réstia de esperança encontra-se na possibilidade de a Rússia e a China, aliados importantes do Irão, poderem exercer algum tipo de influência sobre o regime para que adopte uma postura mais flexível. Este domingo, na véspera do relançamento das negociações, a equipa iraniana esteve reunida com as delegações destes dois países, em Viena, de acordo com a agência semi-oficial ISNA.

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