Quatro dias em Dezembro para reforço de vacinados com Janssen. DGS quer 2,5 milhões vacinados até Janeiro

O plano de vacinação está a ser “revisto” e ainda não se sabe se a vacina vai ser recomendada em crianças dos cinco aos 11 anos. Conferência de imprensa ocorre horas depois da recomendação do ECDC de dar a dose de reforço a todos os adultos, começando por aqueles com mais de 40 anos.

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Vacina da Janssen EPA/SANDER KONING

A 5, 8, 12 e 19 de Dezembro estarão abertos centros de vacinação para as pessoas com mais de 50 anos que receberam a vacina da Janssen. Os restantes serão progressivamente agendados consoante a faixa etária, afirmou esta quarta-feira o secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, numa conferência de imprensa no Ministério da Saúde, em Lisboa, sobre a campanha de vacinação contra a covid-19 e contra a gripe sazonal.

A redução de seis para cinco meses (após a última dose da vacina) e a admissão de pessoas que receberam a vacina da Janssen fizeram com que o universo de pessoas elegíveis para a dose de reforço tenha sido alargado de 1,5 milhões para 2,5 milhões. Todo o plano de vacinação está a ser “revisto”, disse Lacerda Sales.

“Vacinaremos 1,5 milhões pessoas previstas na primeira fase”, afirmou, e o objectivo é ter 2,5 milhões de pessoas inoculadas até Janeiro com a dose de reforço. A prioridade é “vacinar as pessoas mais vulneráveis” nesta “tempestade pandémica que ainda não passou”.

Mais de 850 mil pessoas já receberam a dose de reforço contra a covid-19 em Portugal e mais de 1,6 milhões foram vacinadas contra a gripe, revelou. 

Com o Natal a aproximar-se, há maior “pressão” no sistema para ter o máximo de pessoas vacinadas – dentro da população elegível para a dose de reforço. Na terça-feira, foram vacinadas entre 60 e 70 mil pessoas. “O processo está a correr muito bem”, avaliou António Lacerda Sales.

A velocidade do processo dependerá do stock (para já, há cerca de quatro milhões de doses em armazenamento) e das pessoas que se dirijam aos centros de vacinação. “O ritmo que vamos impor tem de ver com a população-alvo que está a ser vacinada e com as disponibilidades que existem e que podem condicionar o processo”, afirmou o coordenador do núcleo de coordenação do plano de vacinação contra a covid-19, coronel Carlos Penha Gonçalves. “O plano mudou, os objectivos mudaram e temos de ajustar o plano”, concluiu, dizendo que o processo de vacinação vai acelerar-se, fruto desta reestruturação.

Vacinar crianças entre os cinco e 11 anos?

A avaliação das vacinas para crianças entre os cinco e os 11 anos ainda está em curso, afirmou a directora-geral da Saúde. “Preciso de ter total confiança na vacinação [antes de a recomendar às crianças], disse Graça Freitas. 

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) vai publicar esta quinta-feira um parecer sobre a vacinação nestas faixas etárias, explicou, adiantando que “esta vacina é uma vacina pediátrica, feita especialmente” para estas idades. “Quando a EMA aprovar – é essa a nossa expectativa –, a vacina vai tornar-se oficialmente aprovada”, referiu Graça Freitas, não adiantando qual a decisão que será tomada em Portugal. Ainda assim, diz que ficará “muito satisfeita”, se todas as entidades derem parecer positivo e a vacinação for aprovada para esta faixa etária.

“O grupo dos zero aos nove anos está todo vulnerável [por não estar vacinado] e é o que apresenta a maior incidência de casos no nosso país – transmitem entre elas e também transmitem a outras pessoas vulneráveis”, argumentou Graça Freitas, admitindo, porém, que a doença não é tão grave nestas fases etárias. À infecção, diz, junta-se o incómodo do período de isolamento.

O importante agora, diz Graça Freitas, é proteger os mais vulneráveis – aquelas pessoas que, se vierem a contrair a infecção, têm mais probabilidade de serem internadas e, “no pior desfecho”, de morrerem. “Vamos vacinando por grupos etários decrescentes, o que não quer dizer que – como vai acontecer agora com a vacina da Janssen – em simultâneo não se abra outra linhagem de vacinação.” É o que poderá acontecer, se a vacinação em crianças for aprovada.

As vacinas contra a covid-19 em Portugal são administradas a partir dos 12 anos. A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) emitiu um parecer na terça-feira em que diz que as vacinas em crianças a partir dos cinco anos são “seguras e eficazes, protegem contra a doença grave e reduzem a transmissão da infecção, embora não a impeçam por completo”. Ainda assim, dizem que os casos graves da doença nestas faixas etárias são raros.

Já o presidente do Colégio de Especialidade de Pediatria considera que “ainda não há evidência que justifique” a vacinação contra a covid-19 em menores de 12 anos.

ECDC pede reforço para todos os adultos

Esta conferência de imprensa surge horas depois da recomendação do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) de dar a dose de reforço da vacina contra a covid-19 a todos os adultos, começando por aqueles com mais de 40 anos. Estas recomendações do ECDC não são vinculativas, mas servem para guiar os governos dos países da União Europeia (UE).

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Ricardo Lopes

Portugal tem cerca de 3,7 milhões de pessoas com mais de 40 anos e menos de 65 anos. Para levar a dose de reforço, é preciso que tenham passado entre cinco a seis meses desde a última dose da vacina ou desde que tenha havido recuperação da infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2. Portugal já administrou mais de 850 mil doses de reforço da vacina – o que corresponde a mais de metade das pessoas elegíveis para a dose de reforço e o equivalente a cerca de 8% da população portuguesa. 

Para já, em Portugal, são elegíveis para a dose de reforço:

  • pessoas com mais de 65 anos de idade;
  • pessoas com imunossupressão (com mais de 16 anos);
  • residentes e utentes de estruturas residenciais de idosos e unidades de cuidados continuados;
  • profissionais dos serviços de saúde e outros cuidados;
  • bombeiros envolvidos no transporte de doentes;
  • e pessoas com mais de 18 anos que tenham levado a vacina da Janssen.

A modalidade “casa aberta” para levar a dose de reforço está disponível para pessoas que tenham 75 ou mais anos de idade. “Os utentes continuam a ser convocados através de uma SMS para a toma em simultâneo da vacina contra a gripe e contra a covid-19 ou apenas para a vacina contra a gripe (se não forem elegíveis para a da covid-19)”, alerta a DGS. Além disso, as pessoas com mais de 65 anos podem fazer o auto-agendamento da vacina no portal do Ministério da Saúde.

Esta quarta-feira foi divulgado que houve 17 mortes por covid-19 e 3773 casos no último dia – o número mais elevado há quatro meses. O número de internamentos de pessoas com covid-19 está a subir há 19 dias consecutivos. A incidência e o índice de transmissibilidade da doença também estão a aumentar e deixam o país na zona “vermelha” da matriz de risco.

“Temos uma pandemia que continua a crescer”, afirmou a ministra da Saúde, esta quarta-feira. “Temos um programa de vacinação que temos de continuar a realizar e acompanhar e a efectivar, temos cuidados para recuperar”, disse Marta Temido numa audição da Comissão Parlamentar de Saúde sobre o Centro Hospitalar de Setúbal.

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