Vacinas contra a covid a partir dos cinco anos são seguras, diz Sociedade de Pediatria. Mas lembra que casos graves da doença são raros

Pediatras afirmam que as crianças têm sido fortemente prejudicadas pela pandemia por causa dos confinamentos. “Assim, e provada a segurança e eficácia da vacina, poderá ser considerada a sua aplicação neste grupo etário, se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças.”

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Sociedade Portuguesa de Pediatria afirma que vacinas contra a covid são eficazes e protegem contra doença grave Jose Fernandes

“As vacinas contra a covid-19 são seguras e eficazes, protegem contra doença grave e reduzem a transmissão da infecção, embora não a impeçam por completo”, afirma a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), numa posição conjunta com a comissão de vacinas da mesma sociedade. O documento divulgado esta terça-feira surge numa altura em que a Direcção-Geral da Saúde está a avaliar a recomendação para a vacinação contra a covid nas crianças entre os cinco e os 11 anos.

“A vacinação contra o SARS-CoV-2 foi avaliada num ensaio clínico em crianças dos cinco aos 11 anos de idade, no qual foram vacinadas 1517 crianças. Os resultados mostraram que é segura e eficaz contra a covid-19, tal como noutros grupos etários, pelo que foi já aprovado o seu uso pela FDA [agência americana que aprova os medicamentos] e aguarda aprovação pela EMA [Agência Europeia de Medicamentos], lê-se no parecer.

Os pediatras recordam que a covid-19 “é habitualmente uma doença assintomática ou ligeira” e que “continuam a ser raros os casos graves que obrigam a internamento ou admissão em unidades de cuidados intensivos”, situações mais graves, acrescentam, que ocorrem maioritariamente em crianças com factores de risco.

Apesar deste cenário, “as crianças têm sido fortemente prejudicadas na pandemia devido aos confinamentos sucessivos que afectam seriamente a sua aprendizagem e saúde mental e aumentam o risco de pobreza e de maus tratos”, admitem. “Assim, e provada a segurança e eficácia da vacina, poderá ser considerada a sua aplicação neste grupo etário, se isso permitir trazer normalidade à vida das crianças”, assumem.

A SPP lembra que “é natural que a proporção de novos testes positivos encontrados em crianças seja maior do que antes”, tendo em conta a testagem intensiva nas escolas e o elevado número de adultos vacinados.

E recorda que a Comissão Técnica de Vacinação da DGS, que está a avaliar a decisão da vacinação nas crianças entre os cinco e os 11 anos, “tem acesso aos dados em tempo real sobre o número de casos por grupo etário, os surtos nas escolas e ambiente familiar e a seroprevalência neste grupo etário”. “Na decisão irá certamente pesar a disponibilidade das vacinas no nosso país, bem como a premência de dar doses de reforço aos adultos de maior risco”, refere a SPP no parecer.

Rever medidas de isolamento

Em declarações à Lusa, a propósito do parecer, a presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria defendeu que a decisão sobre a vacinação contra a covid-19 nas crianças mais novas deve ser analisada em conjunto com uma revisão das medidas de isolamento impostas nas escolas. “Só se conseguirmos diminuir os confinamentos prolongados e recorrentes das crianças vale a pena vacinar nesta idade, dado que a doença grave é muito rara nestes grupos etários”, disse Inês Azevedo.

“É uma decisão de saúde pública, em que os responsáveis terão de ter em conta não só os números actuais [da infecção], como perceber se através da vacinação é possível reduzir as medidas de confinamento que têm sido impostas até ao momento nas escolas e que estão a prejudicar seriamente as crianças”, reforçou a especialista, que sublinhou a importância de rever as medidas de isolamento definidas para as escolas (quando surgem casos suspeitos ou positivos), defendendo que a SPP será favorável a tudo o que ajude a normalizar a vida das crianças.

A vacinação nas crianças foi muito discutida na altura em que foi tomada a decisão de vacinar de forma universal os jovens a partir dos 12 anos, com os pediatras a dividirem-se sobre a importância de imunizar os mais jovens, tendo em conta que a maioria dos casos de infecção não provoca doença grave. A questão volta a colocar-se agora, perante a decisão de vacinar as crianças entre os cinco e os 11 anos.

Inês Azevedo defende que, para avaliar a importância de vacinar as crianças, “é preciso ter também em conta os casos por faixa etária, a transmissão e a responsabilidade das crianças na infecção, dados aos quais a sociedade não tem acesso”. “Os estudos científicos indicam que essa transmissão parece ser baixa em idades mais jovens, mas não conhecemos os dados nacionais e será necessário ter acesso a esses dados para perceber a importância de vacinar crianças neste grupo etário”, explicou.

 

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