Vacinados com Janssen vão receber dose de reforço. Recuperados elegíveis também

Basta terem 18 anos ou mais e terem passado pelo menos 90 dias após a toma da vacina de dose única da Janssen. Pessoas que recuperaram da doença e se incluem no grupo de indivíduos elegíveis poderão também receber dose de reforço.

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Paulo Pimenta

As pessoas com 18 anos ou mais que receberam a vacina contra a covid-19 de dose única da Janssen vão passar a estar elegíveis para receberem uma dose de reforço, desde que tenham passado pelo menos 90 dias após a vacinação inicial, anunciou, esta quinta-feira, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas.

Serão cerca de “um milhão” as pessoas que receberam anteriormente a vacina de dose única da Janssen e que estarão agora elegíveis para receber uma dose de reforço, segundo revelou Graça Freitas em conferência de imprensa. Os dados do Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) confirmam que Portugal administrou cerca de 1.125.841 vacinas da Janssen.

Quanto às doses de reforço para a população actualmente elegível — que inclui os maiores de 65 anos, os profissionais de saúde e do sector social e os bombeiros que transportam doentes —, o intervalo entre a toma da segunda dose da vacina e o reforço será encurtado, passando dos actuais seis meses (180 dias) para um mínimo de cinco meses (150 dias). Significa isto que, a partir de agora, o reforço poderá ser tomado entre cinco a seis meses após a toma da dose anterior. O objectivo é “vacinar mais pessoas, mais precocemente”.

Além disso, as pessoas elegíveis que já recuperaram da doença passarão também a receber a dose de reforço. A excepção são aquelas pessoas que, por algum motivo, já receberam duas doses da vacina, com 150 a 180 dias de intervalo, depois de terem tido a doença. “Essas pessoas obviamente já fizeram o seu reforço antes até da campanha de reforços. De resto, todos os recuperados serão vacinados de acordo com os grupos que estão a ser agora seleccionados”, disse a directora-geral da Saúde.

O critério da vacinação dos recuperados será por “faixas etárias descendentes, como sempre”. “Vamos começar pelos mais velhos recuperados, esses vão ser os primeiros a serem chamados”, disse Graça Freitas, acrescentando que o grupo de recuperados actualmente elegíveis para receberem a dose de reforço não é “muito grande”, sendo constituído por cerca de 140 mil pessoas. “Facilmente será todo chamado ao processo de vacinação. Mas, por uma questão de equidade e de risco, começamos sempre pelos mais vulneráveis”, afirmou.

Porém, a directora-geral da Saúde alertou que pode haver casos de pessoas ligeiramente mais novas a receberem a dose de reforço primeiro do que o vizinho. “Cada centro de saúde tem a sua dinâmica e não se devem perder oportunidades de vacinação.”

As doses de reforço serão sempre com uma vacina de mRNA, ou seja, da Pfizer ou da Moderna, independentemente da vacina que tenham tomado inicialmente.

"Estamos a dar uma boa utilização às vacinas"

A conferência de imprensa começou com uma mensagem clara: “A pandemia ainda não acabou, nem em Portugal nem em nenhum lugar do mundo”. “Assiste-se na Europa a uma intensa circulação do vírus SARS-CoV-2. Mesmo em Portugal, que tem 86,5% da população vacinada, assiste-se a um aumento do número de casos. A melhor forma de nos protegermos e de passarmos o Inverno mais seguros e tranquilos é vacinar. Fazer a vacinação primária — para quem está a iniciar agora a vacinação ou não se vacinou em devido tempo — ou para todos os 86,5% da população que já se vacinaram fazer a dose de reforço”, asseverou a directora-geral da Saúde.

Questionada sobre o facto de haver ainda seis milhões de doses por administrar, Graça Freitas explicou que “Portugal, por segurança, adquiriu mais vacinas do que aquelas que são necessárias para a sua população presente”. O país tem “vários mecanismos”, entre os quais a administração das vacinas a “diversos grupos” em território nacional, as “revendas para outros países” e a doação de vacinas através de mecanismos europeus (como a iniciativa COVAX) e mecanismos bilaterais, “sobretudo para os países de língua oficial portuguesa, mas também para outros”. “Estamos a dar uma boa utilização às vacinas. Ou usamos na nossa população, de acordo com as recomendações e boas práticas, ou doamos ou revendemos”, afirmou.

Segundo Graça Freitas, a meta de vacinar 1,5 milhões de pessoas até 19 de Dezembro “é mais do que uma meta”, “é um desígnio nacional”. Cumpri-lo depende da população, disse. “O Estado português comprou as vacinas. As estruturas do Ministério da Saúde estão a trabalhar em conjunto. Temos um núcleo de coordenação e estamos preparados para vacinar. As nossas administrações regionais de saúde têm a sua organização montada”, afirmou, garantindo que atingir esta meta depende da “adesão à vacinação dos portugueses e das pessoas residentes em Portugal”.

Chegar ao Inverno com imunidade reforçada

“O Inverno é sempre uma estação agressiva para a nossa saúde quer pela circulação de vários vírus respiratórios quer pelo efeito directo do frio nas doenças crónicas”, destacou. Por isso, a directora-geral da Saúde sublinhou a importância de “entrar neste Inverno com a nossa imunidade reforçada” e apelou à adesão às doses de reforço.

“As doses que levamos antes deram-nos protecção durante seis meses, sobretudo aos mais idosos. É uma espécie de prazo de validade. Os estudos indicaram que essa protecção vai decaindo ao longo do tempo e esta dose de reforço é para voltar a haver uma subida de anticorpos para nos dar protecção quando chegarmos ao Inverno”, explicou.

A propósito das várias modalidades de vacinação e a possibilidade de alargar o regime de “casa aberta” a outras faixas etárias, Graça Freitas notou que este é um “processo sequencial” e recomendou as pessoas com 65 anos ou mais a recorrerem ao auto-agendamento ou a esperarem pelo agendamento central ou do próprio centro de saúde. “Temos também os regimes de ‘Casa Aberta’, de um modo geral, para todo o país acima dos 75 anos e poderá haver adaptações a nível local de acordo com as disponibilidades”, acrescentou. Aconselhou ainda as pessoas a consultarem online os horários dos centros de vacinação e grupos elegíveis antes de se dirigirem aos locais. “Por norma, a partir de agora, não recusaremos uma pessoa que apareça na ‘casa aberta’. Mas não queremos que o processo seja muito desordenado e leve a filas”, disse. “Vamos estar a vacinar sete dias por semana.”

A directora-geral da Saúde deixou também uma porta aberta no que diz respeito ao alargamento das doses de reforço aos maiores de 18 anos. “A norma precede sempre a logística e, portanto, agora a norma vai permitir que o núcleo que faz o planeamento da vacinação programe estas pessoas”, afirmou.

Descrédito nas vacinas? Olhem para países pouco vacinados

Quanto às pessoas que estão actualmente a morrer com covid-19 em Portugal, Graça Freitas destacou que são “predominantemente pessoas com muita idade, com 80 anos ou mais”, muitas das quais vacinadas. “O perfil habitual é terem várias doenças e, estando esta população praticamente toda vacinada, a maior parte das pessoas que morre é vacinada. Não quer dizer que sejam todas, mas isso faz parte porque esta população tem uma taxa de cobertura [vacinal] de noventa e muitos por cento”, notou.

Em relação a um eventual descrédito nas vacinas perante os apelos à toma de uma dose de reforço, a directora-geral da Saúde pediu que olhassem para os países onde a taxa de vacinação ficou aquém do esperado. “Os países que não se vacinaram ou que vacinaram muito pouco, mesmo na Europa, têm uma mortalidade incomparavelmente superior à de Portugal. Se Portugal, apesar de tudo, mantém estes números é porque tem a sua população vacinada”, garantiu.

Contudo, “o nível de protecção foi diminuindo ao longo do tempo” e “as pessoas devem fazer um reforço”. “Sempre dissemos que era uma incógnita quanto tempo durava a imunidade”, afirmou, destacando que “há vacinas que se levam uma vez na vida e que nos dão protecção para sempre, há vacinas que precisam de reforços na infância e vacinas que precisam de reforços na idade adulta”. Graça Freitas deu o exemplo da vacina do tétano, “que requer reforços toda a vida”. “É uma excelente vacina, mas tem um prazo de duração da sua imunidade óptima. Os reforços são isso: são para reforçar, melhorar e voltar a pôr a imunidade num patamar muito elevado.”

“Estrutura está montada para uma nova etapa”

Em relação a um eventual regresso do vice-almirante Gouveia e Melo para liderar o processo de vacinação, Graça Freitas afastou a hipótese. “Neste momento, temos uma estrutura montada no Ministério da Saúde com praticamente todas as instituições que estiveram na primeira etapa de vacinação. Temos capacidade de dar resposta. As pessoas têm de manter a confiança na vacinação. A vacinação é necessária neste momento”, respondeu.

Embora admita que possam “ter mudado várias coisas”, a directora-geral da Saúde garante que “a estrutura está montada para uma nova etapa”. “Não estamos no estado em que estávamos no início da pandemia.”

Questionada sobre se o aumento de casos em Portugal está a ser impulsionado pelas pessoas que tomaram a vacina da Janssen, Graça Freitas explicou que está a ser feita, neste momento, uma “análise vacina a vacina”. “O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em colaboração com o Infarmed, está a estudar a efectividade das vacinas para cada marca. Num horizonte relativamente curto teremos informação específica sobre a marca”, disse. A decisão de dar uma dose de reforço aos vacinados com Janssen baseia-se em estudos internacionais, que “indicam que a tal diminuição da imunidade se verificava mais com esta vacina do que com as outras”.

Graça Freitas revelou que, até à data, 600 mil pessoas já levaram a dose de reforço em Portugal, mais de um milhão tomaram a vacina da gripe e cerca de 400 mil fizeram a co-administração das duas. “Num processo que envolve duas linhas de vacinação e tantos milhares de pessoas haverá situações que estão a ser corrigidas e que nos são reportadas. Faz parte do processo e aconteceu também na primeira etapa”, admitiu.

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