Montepio, mais do que um banco

O Montepio Geral encontra-se hoje perante os problemas criados por sucessivas equipas de governação da Associação Mutualista que se apaixonaram pelo admirável mundo novo da especulação financeira e pelos salários milionários dos gestores da banca.

Pode não parecer, mas o Montepio começa por ser uma ideia. A ideia de que cidadãos vindos de diferentes percursos de vida se podem associar e que juntando recursos podem coletivamente encontrar soluções de provisão que respondem às suas necessidades. Em diferentes etapas da vida encontrariam soluções para necessidades habitacionais e acesso a cuidados de saúde, sistemas de complementos de reformas e cuidados na velhice, e a remuneração justa e sustentável das suas poupanças.

Essa ideia de associativismo e cooperação solidária que lhe está na base é o mutualismo – a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), com mais de um século de história, testemunha a vitalidade do modelo mutualista que foi, e continua, a ser inspiradora da capacidade coletiva de criar bem-estar. É por acreditar nisso mesmo que encabeço a Lista C à Assembleia de Representantes nas eleições que se realizarão no próximo dia 17 de Dezembro para a AMMG.

Contudo, hoje, não basta celebrar essa história. Interessa agora saber se tem futuro. Esse futuro depende das escolhas que vão ser feitas na sua gestão, porque delas depende a sua sustentabilidade.

O Montepio Geral encontra-se hoje perante os problemas criados por sucessivas equipas de governação da Associação Mutualista que se apaixonaram pelo admirável mundo novo da especulação financeira e pelos salários milionários dos gestores da banca. Argumentando que esse era o caminho da “modernização” do mutualismo, essas equipas reduziram o Banco Montepio a um banco igual aos outros, e procuraram transformar o que era um instrumento de provisão mutualista em (mais um) instrumento de aventureirismo financeiro. Os resultados estão à vista nos sucessivos problemas enfrentados pela associação mutualista e nos resultados negativos do Banco Montepio. Diz-se, e bem, que não é inteligente continuar a fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Os resultados do Montepio mostram que é necessária uma outra lógica de gestão e de organização da Associação Mutualista.

A vontade de retomar no Montepio a ideia mutualista não é apenas uma enunciação de uma desejabilidade. É que esse trabalho de provisão mutualista é hoje muitíssimo necessário perante os desafios que enfrentam tantos cidadãos e tantas famílias em Portugal. A sociedade portuguesa necessita de encontrar soluções de habitação a preços acessíveis para todos aqueles que não encontram resposta na oferta pública e a quem o mercado exclui, com os seus preços exorbitantes. A sociedade portuguesa precisa de encontrar formas de complementar reformas a partir de soluções de investimento e de remuneração de poupanças que sejam sólidas e que não se aloquem na volatilidade do investimento financeiro especulativo. A sociedade portuguesa precisa de criar cuidados e soluções dedicados à terceira idade a custos acessíveis. Aqui, o Montepio tem que deixar de ser apenas mais um banco e retomar a capacidade de oferecer soluções mutualistas, sólidas e sustentáveis. Porque o Montepio é mesmo mais do que um banco, é preciso mudá-lo hoje para que o mutualismo possa ser futuro amanhã.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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