Os vinhos que marcaram a minha vida: Filipa Tomaz da Costa

A directora de enologia da Bacalhôa Wines elege os vinhos da sua vida – categoria onde a inovação é um atributo central.

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Marisa Cardoso

Nasceu ribatejana, mas passou mais de metade da vida com o Sado por perto. A directora de enologia da Bacalhôa chegou à quinta de Azeitão em 1981, e assistiu ao primeiro engarrafamento do celebrado tinto da casa. De caminho, passaram-lhe também pelas mãos, ao longo destas quatro décadas, outros vinhos emblemáticos como o branco Catarina ou os multipremiados moscatéis de Setúbal da Bacalhôa. Em retrospectiva, Filipa Tomaz da Costa elege os vinhos da sua vida – categoria onde a inovação é um atributo central.

Catarina Branco, Bacalhôa

É um vinho que me acompanhou a vida toda. E que bebo muito em casa. Gosto muito de brancos da Borgonha e o Catarina tem um estilo parecido. Uma parte estagia em barrica ou leva um pouco de madeira. Tanto acompanha peixes e pratos mais suaves como pode acompanhar carne, são vinhos tanto de Inverno como de Verão. Posso destacar o 1997, estava belíssimo, uma colheita fresca-média. Dos antigos, destaco o 1981 e o 1985. Envelhece muito bem em garrafa.

Quinta da Bacalhôa Tinto

Outro vinho que me acompanhou a vida toda. Foi inovador na altura, feito com cabernet sauvignon e 10% merlot. A região é óptima para o cabernet sauvignon. Engarrafado só depois do estágio em barricas novas, com algum estágio em garrafa. Havia muito pouca coisa em Portugal e o Quinta da Bacalhôa criou logo nome por causa disso. Era diferente daquilo a que se estava habituado. Foi explosivo.

Bacalhôa Moscatel Superior 10 Anos

Não posso deixar de falar dos moscatéis de Setúbal. São completamente diferentes dos outros feitos na bacia mediterrânica, têm mais acidez, mais frescura na boca. Quando comecei, já produzíamos mas não engarrafávamos como marca. Porém, guardámos reservas – e a primeira colheita, o 1983, daqui a dois anos fará 40. A ter de escolher um moscatel de Setúbal, escolho o 10 Anos. O que está no mercado é o 2004, que tem tido imensos prémios.

Periquita Superyor, José Maria da Fonseca

De certa forma, é uma escolha por amizade. Mas também porque o Periquita – agora tem a designação Periquita Superyor – foi o primeiro vinho engarrafado de Portugal. Está de tal modo implantado na região que ainda se chama periquita à casta, e não castelão.

Cavalo Maluco, Herdade de Portocarro

Este produtor foi inovador, com vinhos ligeiramente diferentes dos da zona de Palmela – com alguma cor, redondos na boca, de perfil moderno, que agrada às pessoas. Os vinhos da Península de Setúbal, por vezes, precisam de tempo (a região não é tão quente como se pensa), mas ali [no Torrão], como apanham os ventos quentes do sul, saem mais encorpados e fáceis de beber mais cedo. A região está a transformar-se, com coisas novas e produtores mais pequenos que vêm enriquecê-la.


Depoimento recolhido por João Mestre

Este artigo foi publicado no n.º 2 da revista Solo.

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