Dielmar, ponto final: fábrica fecha e operários vão para desemprego

Grupo Valérius, de Barcelos, interessado em 200 trabalhadores e com acordo para alugar o imóvel de Alcains, oferece 250 mil euros pela marca e propõe criar uma nova empresa.

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Nuno Ferreira Santos (arquivo)

Cem dias depois do pedido de insolvência, a Dielmar viu declarada a sua morte. Sem propostas de compra da fábrica de Alcains, os credores decidiram esta quarta-feira aprovar uma proposta de encerramento definitivo da empresa.

Os 244 trabalhadores, que estavam em casa desde o pedido de insolvência, a 2 de Agosto, vão para o desemprego. São 56 anos de história industrial que chegam ao fim em Castelo Branco, mas a notícia da morte da Dielmar até pode ser exagerada: o grupo têxtil Valérius, de Barcelos, oferece 250 mil euros para ficar com a marca e uma parte do activo, estando interessado na contratação de 200 trabalhadores. Isso significa que pode estar no horizonte o início de um novo capítulo - uma “nova” Dielmar”, mais pequena, com nova gestão, mas garantindo emprego num concelho interior que não oferece tantas saídas profissionais quanto outros da mesma dimensão no litoral

A proposta de encerramento definitivo foi aprovada por unanimidade na assembleia de credores realizada esta tarde no Tribunal do Fundão. O administrador judicial, João Gonçalves, foi o primeiro a usar da palavra na sessão, confirmando a desistência do concorrente Outfit 21, de Leiria, cuja proposta de compra estava condicionada à aprovação de um empréstimo bancário, que não chegou a bom porto.

João Gonçalves confirmou também que o outro suposto concorrente, Cláudio Nunes, não concretizou, até à data, as propostas que tinha apresentado na assembleia anterior, a 26 de Outubro: constituição de uma nova empresa e um depósito de dois milhões de euros para garantir uma compra que envolveria o pagamento total de dez milhões.

O administrador judicial considerou ainda que esta proposta deveria ser “desconsiderada por não se afigurar credível”. Cláudio Nunes, como o PÚBLICO noticiou, foi acusado em Abril num processo no tribunal de Viseu pelos crimes de burla e falsificação, depois de ter inventado empresas e oferecido postos de trabalho fictícios a pessoas que apresentaram queixa ao Ministério Público. Na véspera desta assembleia de hoje, o próprio surge citado em declarações no jornal Eco, pondo em causa a notícia do PÚBLICO e garantindo que a proposta dos dez milhões era para manter. Algo que, como se viu, não se confirmou.

Sem uma solução para a sobrevivência da Dielmar, João Gonçalves tinha porém uma novidade na manga. Disse que recebeu na terça-feira, pelas 17h, uma proposta do grupo Valérius, no valor de 250 mil euros para, depois do encerramento e extinção dos postos de trabalho, adquirir a marca Dielmar e parte do activo da empresa.

Um representante deste grupo têxtil de Barcelos, Nuno Marques, explicou que esta proposta tinha a vantagem de permitir o recrutamento de cerca de 200 trabalhadores da Dielmar, que passariam por uma formação em contexto de sala e em contexto industrial, podendo vir a trabalhar depois numa empresa sucessora, eventualmente até no mesmo edifício da Dielmar, visto que o grupo já tem um acordo com o fundo estatal (FIEAE) que é dono do imóvel para um futuro aluguer.

O mesmo representante sublinhou ainda que também já tem um acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional para a realização desta formação. Ficou claro que nem todos os trabalhadores serão recrutados e que a adesão dos que vierem a ser seleccionados também é voluntária. Quem não quiser, recusa.

O procurador presente na assembleia resumiu as vantagens desta proposta da Valerius frisando que, desta forma, o processo “moroso” de liquidação ficaria desde já resolvido. No entanto, foram levantadas diversas dúvidas sobre o procedimento legal para a entrega dos despojos da Dielmar àquele grupo. 

A proposta da Valerius acabou por não ser votada na hora. Representantes dos trabalhadores manifestaram-se a favor, com a excepção dos sete funcionários representados pelo advogado Sérgio Bento, que, tal como credores institucionais, têm agora cinco dias para se pronunciarem sobre a proposta da Valérius. O Banco Português de Fomento, que concentra as participações do Estado na Dielmar, e a Garval, já deram luz verde a esta proposta.

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