Eleições: alguém que se sente à mesa com os jovens para debater o futuro, se faz favor

São várias as razões para exigir dos vários actores políticos que se altere o paradigma de campanha e que, de uma vez por todas, sem ter medo das questões que lhe sejam dirigidas, se sentem à mesa com aqueles que se preparam hoje para entrar no futuro.

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John Schnobrich/Unsplash

Fomos todos convocados para que, no próximo dia 30 de Janeiro, possamos exercer de novo o direito ao voto. As próximas eleições revestem-se de grande importância pelo facto de estar nas nossas mãos a chave que abrirá a porta ao próximo Governo. Já sabemos com o que contar a partir do Natal, mais coisa menos coisa.

Vamos de novo assistir às jantaradas seguidas de comícios, de arruadas ao som do um barulho infernal dos tambores e vamos tropeçando aqui e ali entre vários candidatos. Não faltarão cartazes espalhados pelas ruas, beijos e abraços e ainda os debates nas televisões com o frente a frente onde se perde demasiado tempo a discutir o acessório e a história do “Sei o que fizeste nos governos passados”. O essencial ficará para os minutos finais e nós ficamos a saber o mesmo, ou seja, nada.

Está tão caduca forma de fazer chegar aos cidadãos as propostas que cada um deles terá para o país, vai cavando um buraco, cada vez mais fundo, entre os eleitores e os eleitos.

Ouvimos com frequência, por esta altura de eleições, uma grande preocupação de todos os dirigentes partidários com os jovens.

Fazem a sua campanha recheada de propaganda e promessas como se cada um deles soubesse exactamente aquilo que os jovens precisam ou ambicionam, ou mesmo quais são verdadeiramente os seus anseios e o que esperam de Portugal e da política. No entanto, tudo vai correndo alegremente pelas ruas, mas ninguém se senta à mesa com eles para os escutar.

A questão essencial para se governar em nome de uma nação é sentir primeiro o que ela tem a dizer e conhecê-la, mas se toda a classe política se afasta cada vez dos mais jovens e de todos os cidadãos em geral não lhes poderá ser “exigido” o mero exercício do dever cívico.

Há muito mais a discutir para além do apelo ao voto.

A problemática da abstenção em cada eleição que passa é sintomática do afastamento cada vez maior entre a classe política e os jovens. A velha expressão a eles dirigida em todas as eleições “Vocês são o futuro de Portugal” já não é bastante. É preciso mais, muito mais, e as palavras e os slogans com frases feitas já não convencem ninguém.

Se querem e desejam que os jovens sejam mais activos e participativos nas eleições, então que a política e os seus agentes também sejam mais activos na procura de soluções adequadas para os mais novos. Debater o país e as questões da empregabilidade, bem como tudo aquilo que afecta a vida de cada jovem português, não pode significar mais do mesmo, como temos sistematicamente assistido: ou seja, debater não é debitar promessas e programas que ninguém lê. Debater significa chamar os intervenientes da sociedade e convidá-los a fazerem parte da solução.

Este é um momento de excepção. Vindos de uma pandemia que assolou o mundo inteiro, a recuperação da economia a nível europeu com um novo “Plano Marshall” (leia-se Plano de Recuperação e Resiliência) encerra em si mesma uma certa angústia sobre o não saber como será o dia seguinte. É preciso então dar confiança e mostrar que os políticos que ainda estão na nossa praça merecem que neles se confie. Convido cada político a reflectir se está, na verdade, a dar um bom exemplo ao país no merecimento dessa confiança.

São várias as razões para exigir dos vários actores políticos que se altere o paradigma de campanha e que, de uma vez por todas, sem ter medo das questões que lhe sejam dirigidas, se sentem à mesa com aqueles que se preparam hoje para entrar no futuro.

Que se ouça aquilo que os mais jovens ambicionam. Se todos sabemos que é preciso discutir o país, por que razão essa discussão não se faz com quem é parte integrante dele?

Não acreditarão os políticos na capacidade dos nossos jovens para encontrar soluções de políticas públicas que lhes digam respeito? Se sim, por que razão não são eles trazidos ao debate?

Esta assustadora distância entre a classe política e os mais jovens tem causas e tem nomes, mas quando os políticos quiserem acabar com este fosso, talvez se consiga perceber que não são os jovens que estão afastados da política, mas sim o contrário.

Se urge ouvir, urge também reflectir, por parte da nossa classe política, sobre uma nova forma de comunicar com os cidadãos mais jovens porque, com aquela que tem sido seguida, os resultados estão à vista.

Para começar, podem fazê-lo nas universidades e nos politécnicos onde certamente perceberão o quão importante é ter os jovens a debater o país de forma séria, clara e objectiva.

Alguém vê algum político em campanha numa qualquer universidade questionar os alunos sobre o que eles esperam quando saírem do seu percurso académico? Alguém vê algum candidato reunido com jovens empresários na busca de melhores soluções para o desenvolvimento e competitividade das empresas que lançam no mercado?

Se é deles o futuro, certamente será importante ouvir o que há a dizer, quer se goste quer não se goste.

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