“Temos de pensar sete gerações à frente”, dizem activistas pelo clima no maior protesto em Glasgow

Manifestações repetiram-se por todo o mundo no Dia Global Pela Justiça Climática, pedindo mais medidas aos decisores.

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Marcha pelo clima neste sábado, a maior marcha até agora durante a COP26, em Glasgow YVES HERMAN/reuters

Milhares de pessoas – cerca de 100 mil, segundo os organizadores do protesto – enfrentaram a chuva em Glasgow para se manifestar este sábado na cidade em que decorre a cimeira da COP26, com activistas defensores do ambiente de vários grupos, juntando representantes de comunidades indígenas, grupos anti-capitalismo, jovens ou partidos políticos a pedir mais acção aos decisores.

“Há tantas pessoas aqui de origens tão diferentes”, congratulava-se, em declarações ao diário britânico The Guardian, uma manifestante, Lucy Bell, que trabalha num supermercado vegan online. “É fácil desanimar com as negociações feitas à porta fechada mas esta manhã estou optimista apesar da chuva”, disse.

A enorme marcha em Glasgow foi o maior dos protestos que têm decorrido à margem da COP26 e começou com representantes de grupos indígenas de todo o mundo, incluindo da bacia do Amazonas ou do território Kahnawake Mohawk no Québeque (Canadá). “É evidente que as pessoas indígenas têm as respostas, têm de começar a ouvir e a pensar sete gerações à frente, não só nas necessidades imediatas,” disse Karahkwintha, 23 anos.

A manifestação decorre a meio das cerca de duas semanas que dura a cimeira COP26 (31 de Outubro a 12 de Novembro) e foi apenas uma de várias pelo mundo a assinalar um Dia Global Pela Justiça Climática: de Manila a Seul, de Paris a Amesterdão, passando pelo Porto, muitas pessoas saíram à rua.

O grupo Extinction Rebellion ocupou uma ponte no centro de Glasgow. Na Escócia, juntaram-se 20 cientistas, desde estudantes a um professor reformado, vestidos com casacos brancos como os usados nos laboratórios, presos uns aos outros pelo pescoço.

“Já houve 25 COP sem nenhum impacto nas emissões” de gases que provocam efeitos de estufa, disse Tim Hewlett, co-fundador do movimento Extinction Rebellion, que estava na ponte, ao Guardian. Os cientistas já não podem “confiar nos nossos líderes para que nos salvem”, disse pelo seu lado Charlie Gardner, do Instituto Durrell de Conservação e Ecologia (em Kent) à BBC, e por isso, têm “um dever moral de agir”.

O grupo Extinction Rebellion acredita que a desobediência civil é o único meio de lutar contra as alterações climáticas. A BBC diz que os manifestantes que bloquearam a ponte em Glasgow foram detidos. A acção decorreu cerca de meia hora antes da marcha.

Entre os manifestantes nas ruas de Glasgow estavam também participantes na cimeira, como Tracy Sonny, 37 anos, negociadora do Botswana. “Temos de ver mais vontade política e uma mudança de quadro mental – já estamos a sentir o impacto das alterações climáticas, temos de responder já”, cita o Guardian.

“Estou aqui porque o Bangladesh é uma vítima inocente das alterações climáticas”, disse por outro lado à agência Lusa Sohanur Rahman, da organização YouthNet for Climate Justice, queixando-se dos cada vez mais frequentes ciclones e inundações que afectam o país. 

“Contribuímos com 0,04% das emissões de carbono, mas [o país] está a pagar um preço alto e a morrer. Estou aqui em representação de milhões de habitantes que querem compensação pelos danos que estamos a sofrer”, acrescentou. 

Outros problemas apontados pelos manifestantes foram, por exemplo, a acessibilidade – esta cimeira foi notícia pela falta de acessibilidade quando a ministra israelita da Energia, Karine Elharrar, que estava na delegação chefiada pelo primeiro-ministro, Naftali Bennett, não pode participar na cimeira na segunda-feira porque não havia acesso para cadeiras de rodas. As vozes de jovens, e de jovens com deficiência, são importantes, disse Grainne McGinn, 22 anos, de Glasgow, que anda de cadeira de rodas, com um cartaz dizendo: “Sustentabilidade implica acessibilidade”.

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