Os intolerantes esbarraram no São Luiz

A 4 de Novembro de 1974 realizou-se o primeiro comício da Juventude Centrista.

Novembro de 1974. Vivia-se um Portugal agitado e confuso, sem rumo nem aspirações claras para o seu dia seguinte. Um Portugal com poucos meios, com o drama dos “retornados à pátria” entre mãos e um sistema de ensino incomparavelmente menos universal face ao que conhecemos.

Era um Portugal em convulsão, com as escolas radicalizadas ora pelo regime deposto, ora pelas intentonas revolucionárias. Um Portugal onde a mobilidade social era uma miragem: o filho do doutor seria doutor e o do sapateiro sapateiro seria.

No dia 4 desse mês de Novembro, pela tarde, a facção mais apaixonada e irreverente do Partido do Centro Democrático Social, mais conhecida por Juventude Centrista, dava uma das maiores lições de liberdade da nossa história recente. No centro histórico de Lisboa, onde proliferavam os devaneios das esquerdas radicais, ocorria o primeiro comício da Juventude Centrista. Na verdade, não foi só o primeiro comício da área política do CDS, mas também o primeiro evento político daquela dimensão da área não socialista na capital.

Foi ali, em pleno Teatro São Luíz, que centenas fizeram o que poucos ousaram: corajosamente, perante a ameaça real e a violência brutal das forças de extrema-esquerda, iniciaram e concretizaram um gesto de liberdade e democracia. Lá dentro o mote era claro: ideias, liberdade e valores. Embora sob cerco e em grande agitação, não se ouviram ataques pessoais.

Fora da JC estavam os que rejeitavam a liberdade e a democracia e, por isso, pretendiam destruir aquela nova geração que garantiria o futuro do CDS. Dentro, no coração da JP, uma moldura humana gigante aguentava firme, ouvindo as intervenções corajosas de João Ferreira Lima, Maria do Carmo Cunha, Carlos Sampaio, José Horta e Costa e António Tânger.

E do que serve hoje, em 2021, invocar este momento de baptismo corajoso, em que os intolerantes esbarraram com a força dos valores da Juventude que hoje lidero? De que serve reavivar a memória de heroísmo e resistência pela democracia que aglomerou aquelas centenas perante a agressividade da UEC e do MRPP e a passividade do Copcon? De que serve, passados 47 anos, recordar uma juventude e um partido que recuperaram literalmente das cinzas provocadas pela pilhagem e fichas de militância queimadas pelos invasores no Largo do Caldas?

Serve para recordar o momento em que a juventude entrou para a primeira linha do combate a favor da liberdade e recusando que o partido do Centro Democrático Social se tornasse irrelevante para a nossa democracia. Aquela era uma nova força de juventude, crente na tolerância e no bom senso. O Homem no centro da acção política, protagonista, dinamizador, a sua causa e o seu fim. Crente na democracia plural e na liberdade, com a liberdade de expressão, imprensa e associação contra um Estado dominante.

Foi uma geração livre cujo centrismo abriu portas à pluralidade autêntica, à diversidade de pensamento nos liceus e nas universidades, sem as amarras daqueles que rejeitavam dogmaticamente uma economia de mercado. Foi uma geração livre que recusou o calculismo do seu conforto pessoal, expôs as suas ideias mesmo sob coação e negou-se a instrumentalizar o aparelho do Estado central e das autarquias locais para seu proveito. Foi uma geração livre, que sonhou com um partido unido, pois sabia que só assim se poderia estar mais próximo de se alcançar um novo Portugal.

Num tempo em que à direita, em geral, e no CDS, em particular, se parece ter perdido a bússola dos princípios e onde objectivos pessoais se sobrepõem à missão de servir Portugal, a JP sabe que o partido não precisa de milagres, mas apenas de relembrar o que o forjou: liberdade, serviço e unidade.

Urge não perder de vista o que nos fundou. Urge não esquecer por que lutámos. Urge relembrar que é por Portugal que aqui estamos.

Urge, mais do que nunca, honrar os bravos do São Luiz.

Creio, sinceramente, que não é pedir muito. 

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