Cancro da mama metastático: atrasar e impedir a progressão

A maioria dos casos são diagnosticados em estadios precoces que podem ser tratáveis com expectativa da doente ficar sem evidência de doença, porém, cerca de 10% dos carcinomas da mama diagnosticados inicialmente tornam-se metastáticos.

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Artur Tumasjan/Unsplash

O carcinoma da mama é o mais frequente na mulher e, em número absoluto, em ambos os sexos, é o segundo mais frequente, só sendo ultrapassado pelo do pulmão. Em Portugal temos, por ano, 6 mil novos casos e morrem mais de 1500 mulheres. A maioria deles são diagnosticados em estadios precoces que podem ser tratáveis com expectativa da doente ficar sem evidência de doença, porém, cerca de 10% dos carcinomas da mama diagnosticados inicialmente tornam-se metastáticos.

O objectivo do tratamento do carcinoma da mama metastizado é atrasar e impedir a progressão, ou, no limite, até eliminar farmacologicamente a doença. Hoje, mais de 20 anos depois de ter começado a dedicar-me a esta doença, tratamos cada doente de forma individual. Os carcinomas da mama têm subtilezas diagnósticas e terapêuticas que os tornam únicos, e, para cada tipo de doença e de doente tentamos recorrer a uma combinação de fármacos que melhor prolongue a vida.

Ter um diagnóstico de cancro da mama metastático significa que o carcinoma não está presente apenas na mama e axila - e que já está presente num ou vários órgãos à distância. Os sintomas do carcinoma da mama metastizado são extremamente variáveis e dependem da quantidade de tumor que está no corpo das doentes, bem como dos locais do corpo que têm as metástases. Os cinco locais mais frequentes de metastização, isto é, para onde a doença se desloca e se fixa são: o osso, os gânglios linfáticos, o fígado, os pulmões e o cérebro.

O diagnóstico do carcinoma da mama metastizado implica a necessidade de construirmos estratégias para aprender a lidar com esta realidade. O nosso trabalho é sermos científica e clinicamente capazes de decidir e aplicar estratégias terapêuticas, mas, também, não menos relevante, sermos capazes de acompanhar e cuidar destas doentes, social e emocionalmente. Temos de conhecer a realidade da vida de cada mulher, para conseguirmos sugerir e gerir a vivência desta doença no dia-a-dia, primando pela manutenção da vida activa. As pessoas com diagnóstico de cancro da mama são profissionais inseridas no universo laboral, são família, são amigas, têm sonhos e ambições que precisam ser conjugados com a sua situação clínica.

Traçar objectivos realistas, celebrar as notícias boas e aceitar as menos boas que podem ir surgindo, pedindo ajuda se necessário, são passos importantes na gestão da doença.

O importante é que a doente tem de ser encaminhada a uma consulta de oncologia, com um oncologista experiente a tratar carcinoma da mama. Também deve ser valorizado o apoio psicológico - muitas vezes conseguido junto de amigos, familiares, profissionais de saúde ou associações de doentes.

A estratégia de tratamento deve sempre ser apresentada e discutida com a doente e os objetivos e as expectativas bem elucidados.

Queria deixar claro que o carcinoma da mama metastizado é uma área onde a ciência está a investir muito e onde existe bastante por descobrir. Actualmente, as terapêuticas já permitem garantir mais e melhor qualidade de vida. Cabe-nos ter uma atitude optimista para fazer a leitura da doença e utilizar as terapêuticas adequadas a cada caso. O nosso sucesso é prolongar a vida com qualidade, traçando objectivos e gerindo expectativas de forma realista, ao longo do tempo.

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