Em 2011, Beckham criticou Mundial no Qatar. Agora (por 177 milhões) será embaixador do torneio

Mais de 6500 trabalhadores migrantes morreram na preparação da prova. Amnistia Internacional relembra violações de direitos humanos da nação do Médio Oriente.

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Beckham tem sido alvo de críticas Reuters/TYRONE SIU

Quando foram conhecidas as primeiras suspeitas de corrupção na atribuição do Campeonato do Mundo 2022 ao Qatar, David Beckham foi uma das vozes a criticar a eleição. O antigo jogador integrou o comité de candidatura inglês que sairia derrotado, revoltando-se publicamente contra a FIFA em entrevista ao The Guardian: “Houve obviamente algo de errado com o sistema, quando olhas para as investigações que aconteceram desde a votação e as informações que saíram cá para fora. Na altura, não existiam suspeitas disso. Quando as pessoas te dizem na cara que tens o voto delas, queres acreditar nelas.”

Uma década após estas declarações, feitas em Junho de 2011, Beckham prepara-se para ser o rosto da competição. A cedência da imagem ao Campeonato do Mundo deverá render 150 milhões de libras (mais de 177 milhões de euros) ao inglês, segundo avança a imprensa britânica. O acordo prevê que Beckham receba 17,7 milhões de euros anuais durante os próximos dez anos. O contrato terá sido firmado na semana passada, durante uma deslocação do ex-jogador a Doha.

As notícias geraram uma onda de controvérsia nas terras de Sua Majestade e um pouco por todo o mundo. Apesar de estar ausente dos relvados desde Março de 2013, Beckham continua a ser uma das personalidades mais reconhecidas – e admiradas – no universo do desporto-rei, ocupando o cargo de embaixador na UNICEF há 16 anos. Sacha Deshmukh, director-executivo da Amnistia Internacional no Reino Unido, relembra ao jogador que o Qatar tem um registo “perturbador” no capítulo dos direitos humanos, sublinhando os ataques à liberdade de expressão e perseguição de casais do mesmo sexo.

“Não é surpreendente que David Beckham queira estar envolvido num evento futebolístico desta dimensão, mas gostaríamos de o incitar a tomar conhecimento sobre a preocupante situação dos direitos humanos no Qatar e estar preparado para falar sobre isso. O passado do Qatar no que diz respeito aos direitos humanos é perturbador — desde o prolongado mau tratamento dos trabalhadores migrantes até às restrições da liberdade de opinião e a criminalização da homossexualidade”, escreve o responsável.

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Jogador deixou os relvados em 2013 GONZALO FUENTES/Reuters

Em Fevereiro deste ano, uma investigação do The Guardian revelou que mais de 6500 trabalhadores migrantes morreram durante os trabalhos de preparação da competição. Contas feitas, desde o anúncio da ida do Mundial para o Qatar (Dezembro de 2010) e a data de publicação deste trabalho (Fevereiro de 2021) morreram, em média, 12 trabalhadores por semana. A maioria destes migrantes é natural da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka, mas há a suspeita de que o verdadeiro número de mortes possa ser ainda maior: nações como as Filipinas e o Quénia, por exemplo, não estão incluídos nesta estatística.

Outra das preocupações prende-se com a segurança dos adeptos LGBTI+. A homossexualidade é considerada crime no Qatar, com o The Sun a avançar que os responsáveis pela organização do evento terão garantido a Beckham que a bandeira arco-íris poderá ser utilizada nos estádios. Uma garantia que também foi dada à FIFA no final de 2020.

Fonte próximas do jogador dizem ao The Sun que o inglês acredita que este evento poderá ser uma mudança de página na história do Qatar, esperando que os ocidentais se sintam mais à vontade para colocar esta nação no seu mapa turístico. Beckham foi jogador do Paris Saint-Germain, clube com ligações directas às maiores empresas do Médio Oriente. 

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