Procuradoria não descarta cenário criminoso no incidente que envolveu Alec Baldwin

“Ainda não excluímos nenhuma opção. Nesta altura, está tudo em cima da mesa, incluindo acusações criminais”, informou a procuradora distrital do Novo México, Mary Carmack-Altwies.

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Vigília em memória da directora de fotografia Halyna Hutchins, no sábado, 23 de Outubro, em Albuquerque Reuters/KEVIN MOHATT
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O acidente tem levantado questões sobre a segurança nas produções cinematográficas Reuters/Kevin Mohatt
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Vigília em memória de Halyna Hutchins Reuters/MARIO ANZUONI
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Reuters/AUDE GUERRUCCI
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Há novos desenvolvimentos sobre o incidente que vitimou a directora de fotografia Halyna Hutchins, de 42 anos, e feriu o realizador Joel Souza, quando, durante um ensaio do filme Rust, o actor Alec Baldwin apontou para uma câmara e a arma disparou.

De acordo com os documentos, Baldwin estava sentado num banco de igreja no cenário do filme enquanto ensaiava uma cena que envolvia o manuseamento de um revólver, apontando-o para a câmara. Hutchins e Souza estavam, simultaneamente, a observar o ângulo da câmara, relatou o realizador aos detectives. Joel Souza, que foi atingido no ombro, estava atrás de ​Halyna Hutchins, que foi baleada no peito. A directora de fotografia ainda foi transportada para o hospital, mas acabou por morrer, na última quinta-feira, 21 de Outubro. Agora, depois de se saber que o assistente de realização que deu arma ao actor tinha sido despedido de um filme anterior por um caso semelhante, a procuradoria distrital do estado do Novo México, nos EUA, diz que não põe de parte acusações criminais.

“Ainda não excluímos nenhuma opção. Nesta altura, está tudo em cima da mesa, incluindo acusações criminais”, informou a procuradora distrital Mary Carmack-Altwies, em declarações ao New York Times. Neste momento, avançou ainda, a investigação está focada na balística, em que tipo de cartucho estava na arma que matou Halyna Hutchins e quem colocou no seu interior as munições reais.

De acordo com a investigação, a arma foi dada a Alec Baldwin, durante o ensaio de uma cena, no local de filmagens de Rust, pelo assistente de realização Dave Halls, que gritou a expressão “cold gun”, um termo usado na gíria cinematográfica que significa que é seguro usar a arma, por não estar carregada com munições verdadeiras. A responsável pelo armeiro no local de rodagem era Hannah Gutierrez, cujo trabalho passava por gerir todas as armas de fogo usadas, garantindo que pareçam reais e sejam apropriadas para o filme em questão.

Mas mais do que “parecer real”, a arma do acidente era verdadeira e a quantidade de balas encontrada no local é precisamente o que estará a intrigar a polícia. “Havia uma quantidade enorme de balas neste set e precisamos de descobrir de que tipo são”, explicou Carmack-Altwies. Os investigadores encontraram no local da produção três revólveres, cartuchos vazios e munições — tanto em caixas, como espalhadas pelo espaço — quando faziam as buscas. A informação foi divulgada no inventário do material apreendido divulgada na segunda-feira. Todavia, a lista não especifica que tipo de munições foi encontrado.

Para os responsáveis pela investigação importa clarificar que a arma do incidente é mesmo verdadeira e não “uma arma cenográfica”, como tem sido descrita em alguns documentos. “Era uma arma verdadeira. Era uma arma verdadeira de uma era antiga”, insiste a procuradora distrital.

“Semanas, se não meses”, até haver acusações

A investigação, por parte do Gabinete do Xerife do condado de Santa Fé, no Novo México, já está a decorrer com precaução, assinalou Mary Carmack-Altwies. O processo inclui um número avultado de testemunhas e os investigadores estão minuciosamente a reunir provas balísticas. Além disso, continuam a decorrer conversas com todos os presentes no set na hora do incidente. “Provavelmente serão semanas, se não meses, de investigação que vamos precisar para chegar ao ponto de proceder a acusações”, avançou a responsável.

Durante os últimos dias, têm sido levantadas questões sobre os protocolos de segurança no local de rodagem do filme de baixo orçamento. Tanto o realizador Joel Souza, como Reid Russel, da equipa de fotografia da produção, relataram que houve uma equipa de filmagem que desistiu de trabalhar neste filme antes do episódio que terminou com uma vítima mortal.

O site de celebridades TMZ vai mais longe, citando fontes não identificadas ligadas à produção, relatando que a arma entregue a Baldwin já tinha sido usada por membros da equipa para praticar tiro ao alvo com balas reais. Mary Carmack-Altwies está ao corrente das notícias que têm sido veiculadas, mas sublinha que tal informação continua “por confirmar”.

Quanto a Alec Baldwin, de 63 anos, foi fotografado no sábado passado, dois dias depois do acidente, do lado de fora de um hotel em Santa Fé, a abraçar e a conversar com Matt Hutchins, o marido de Halyna, e o seu filho de nove anos. Numa declaração lida durante uma vigília à luz de velas, na cidade de Albuquerque, no sábado, o marido lamentou a morte de Halyna, considerando-a uma perda enorme. O American Film Institute criou um fundo para financiar bolsas para cineastas em homenagem à directora de fotografia.

No dia anterior, sexta-feira, 22 de Outubro, o actor e co-produtor do western fez duas publicações na rede social Twitter a oferecer todo o seu apoio à família da directora de fotografia, que era considerada um estrela em ascensão na indústria cinematográfica norte-americana. “Não há palavras para expressar o meu choque e a minha tristeza em relação ao trágico acidente que tirou a vida a Halyna Hutchins, mulher, mãe e colega de trabalho profundamente admirada”, escreveu Baldwin.

Também no sábado, o realizador Joel Souza emitiu um comunicado em que escreveu: “Estou arrasado com a perda da minha amiga e colega Halyna. Ela era gentil, vibrante, incrivelmente talentosa, lutadora e sempre me incentivou a melhorar”. Não acrescentando detalhes sobre o sucedido nem sobre os seus próprios ferimentos, o realizador confessou sentir-se “humilde e grato pela demonstração de afecto” recebida da “comunidade cinematográfica, das pessoas de Santa Fé e das centenas de estranhos que nos contactaram”.

A tragédia tem servido também para alertar para a segurança nas produções cinematográficas. O cineasta Bandar Albuliwi lançou uma petição a propósito do tema. “Não há nenhuma razão para uma coisas destas acontecer no século XXI”, refere o texto do documento, citado pela Lusa. Ainda no fim-de-semana, o senador estadual democrata na Califórnia Dave Cortese tinha afirmado existir “uma necessidade urgente de abordar o problema dos alarmantes abusos (das leis do trabalho) e violações de segurança que acontecem nas gravações dos filmes, incluindo situações desnecessárias de alto risco, como o uso de armas de fogo reais”.

Entretanto, depois do incidente, foi anunciado o adiamento da estreia do documentário ambiental Flint: Who Can You Trust?, narrado por Alec Baldwin. A produção sobre a crise de água na cidade de Flint, no estado do Michigan, durante 2014, deveria chegar às salas de cinema esta sexta-feira. A notícia foi dada no Twitter pelo realizador Anthony Baxter, que assegura que o documentário irá estrear em data a divulgar mais tarde.

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