Metade dos chefes de equipa da urgência do Hospital de Braga demitiram-se em bloco

Os chefes de equipa demissionários protestam contra a degradação das condições de trabalho, que pioraram após a saída, nos últimos meses, de vários médicos que ainda não foram substituídos.

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Adriano Miranda

Há mais uma demissão em bloco num hospital público. “Cerca de metade dos 16 chefes de equipa” da urgência do Hospital de Braga pediram a demissão dos seus cargos, confirmou esta segunda-feira a assessoria da unidade de saúde, garantindo que o serviço foi entretanto reorganizado e se “mantém a funcionar normalmente”, pelo que não está em causa o atendimento dos doentes. “O conselho de administração está em diálogo permanente com os chefes de equipa demissionários para tentar encontrar um consenso”. 

O protesto acontece menos de um mês depois da demissão em bloco de 87 médicos (membros da direcção clínica, da direcção de serviços e departamentos, coordenadores de unidade e chefes de equipa da urgência) do Centro Hospitalar de Setúbal.

Os chefes de equipa do Hospital de Braga que pediram a demissão trabalham apenas na urgência e protestam contra a degradação das condições de trabalho, que pioraram após a saída, nos últimos meses, de vários médicos que não foram substituídos porque o hospital, desde que deixou de ser gerido em parceria público-privada, não tem autonomia para fazer contratações, explicou um responsável do estabelecimento, sublinhando que a situação é ainda mais complicada porque a afluência ao serviço de urgência já regressou aos níveis pré-pandemia. 

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, diz ter “indicações de que, dos 16 chefes de equipa da urgência foram nove os que pediram a demissão e alguns dos restantes estão a ponderar fazer o mesmo”. 

A situação agravou-se porque “houve muitas rescisões nos últimos meses”, muitos médicos decidiram ir-se embora e não se conseguiu ainda encontrar soluções para este problema, afirma. Os demissionários protestam por não receberem subsídio de chefe, porque há cada vez mais prestadores de serviços na urgência que ganham mais do que os médicos do quadro, entre outros motivos, especifica Roque da Cunha, enfatizando que este é “só mais um exemplo dos problemas que se sentem em hospitais públicos de todo o país e que a ministra da Saúde teima em não reconhecer” e em não tentar solucionar, não tendo, até à data, recebido os dirigentes sindicais.

Os responsáveis do SIM solidarizaram-se entretanto com os chefes de equipa que se demitiram “para exigir melhores condições de assistência e para evitar o colapso do serviço de urgência”. Em nota publicada no site do SIM, defendem queé fundamental atrair profissionais, não apenas através da correcta remuneração, mas também oferecendo condições de trabalho e de progressão e diferenciação profissional”. “É fundamental tratar bem os médicos e evitar as rescisões que têm ocorrido”, rematam.

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