O júri da 33.ª edição daquele que é o mais importante prémio literário de língua portuguesa consagrou por unanimidade Paulina Chiziane, autora de Niketche: Uma História de Poligamia, com o Prémio Camões 2021. A escritora moçambicana, que em Portugal é editada pela Editorial Caminho/Leya, foi a primeira mulher a publicar um romance no seu país: Balada de Amor ao Vento, de 1990. É também a primeira mulher africana a receber esta distinção, um aspecto que foi relevante para o júri composto por representantes de Portugal, do Brasil e de países africanos de língua portuguesa.

Há mais de dez anos, Paulina Chiziane esteve no festival literário Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. Nessa altura explicou um pouco do seu processo criativo e definiu um bom escritor como um bom caçador.

Para explicar como os moçambicanos transmitem a sua cultura, a escritora, que hoje tem 66 anos, contou uma história que lhe contaram na infância. Era a história de uma mulher que na ausência do marido decidiu ter um amigo e depois teve um filho. Quando o marido chegou de uma grande viagem, quis obviamente saber de quem era aquele filho. A mulher lá se tentou justificar, mas o homem, zangado, pegou na criança, foi para junto de um rio, cortou-a em quatro e atirou-a à água.

De vez em quando essa mulher passava por aquele lugar para chorar. Um dia, quando lá chegou, as águas começaram mexer-se e ela começou a ouvir uma voz que reconheceu. A voz cantava: "I mame atako, I mame atako." Era, explicou naquele Correntes d’Escritas Paulina Chiziane, a criança no fundo das águas que cantava "é a mãe que vem me visitar e trazer-me comida".

Todos aqueles que tomavam banho naquele rio africano perguntavam quem era a voz daquela criança. As pessoas foram-se aproximando e descobriram ao ouvir aquela voz "I mame atako" que o homem era um assassino.

Já este ano, Paulina Chiziane foi a primeira convidada do podcast Cruzamentos Literários, onde conversou com a jornalista colaboradora do PÚBLICO e curadora do Prémio Oceanos Isabel Lucas. O podcast é ilustrado com leituras de passagens das obras de Chiziane, pela escritora brasileira Veronica Stigger.

Outra das surpresas desta semana foi saber-se que por trás do pseudónimo Carmen Mola, a “Elena Ferrante espanhola”, estavam afinal três homens. A jornalista Joana Amaral Cardoso conta-nos que uma obra da “autora” venceu o Prémio Planeta mas quem subiu ao palco para o receber foram Jorge Díaz, Agustín Martínez e Antonio Mercero. Há quatro anos, escolheram um nome “assim simples, espanholito”, e tornaram-se um fenómeno. Defendem-se: “Não nos escondemos atrás de uma mulher, mas sim atrás de um nome”.

 

Nesta quinta-feira, o festival de banda desenhada Amadora BD regressou com um núcleo central no Ski Skate Amadora Park, mas também com exposições na Galeria Municipal Artur Bual e na Bedeteca da Amadora. Michel Vaillant, Lucky Luke, Mulher Maravilha ou a História do Mangá estão em destaque nesta 32.ª edição, como nos conta o jornalista Rodrigo Nogueira.

Também foi lançado em Lisboa o livro Diário dos Dias da Peste, Março 2020-Março 2021, da Ephemera (Tinta-da-china), de que nos fala Nuno Pacheco na sua crónica “Memórias e escritos que a pandemia nos vai legando”.

Às livrarias portuguesas chegaram também Encruzilhadas, o novo romance de Jonathan Franzen (Dom Quixote), e um volume com o Teatro Completo, de Samuel Beckett. 

Um excerto do primeiro capítulo do romance do escritor norte-americano pode ser lido no Leituras, bem como o início da peça À Espera de Godot.

A biografia que Álvaro Magalhães escreveu sobre o seu amigo, o poeta Manuel António Pina (1943-2012), foi escrita durante os meses de confinamento com “os mecanismos secretos e delicados da amizade". Um capítulo do livro pode ser lido no Leituras.

“Havia muitas coincidências na nossa maneira de ver a literatura, a vida, etc... A preocupação que tive foi que essa minha proximidade, essa afinidade, não falasse excessivamente”, conta Álvaro Magalhães ao jornalista Sérgio C. Andrade no Ípsilon a propósito desta biografia publicada pela Contraponto com o título Para Quê Tudo Isto?.

Depois da leucemia, Suleika Jaouad percorreu os EUA e escreveu Entre Dois Reinos (editora Lua de Papel). A Bárbara Wong já o leu e conta-nos que para escrever este livro, a jornalista autora da coluna “Vida Interrompida” do The New York Times baseou-se nos seus diários, nos registos médicos, em entrevistas que fez com as pessoas que vão aparecendo, sobretudo na segunda parte, e nas suas memórias. Também incluiu excertos de cartas que recebeu.

Por sua vez, María Hesse começou por escrever uma biografia de uma mulher forte e corajosa, Frida Kahlo, depois seguiu a vida do cantor britânico David Bowie, pelo meio pensava fazer um livro erótico, mas nasceu O Prazer. É isso que ela conta à jornalista Bárbara Wong na Ímpar.

No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Patricia Highsmith (1921- 1995), a autora de O Talentoso Mr. Ripley, vai ser publicado em Novembro em língua inglesa um livro que tem vindo a ser apresentado como um dos acontecimentos editoriais deste ano: Patricia Highsmith: Her Diaries and Notebooks, seleccionados e editados por Anna Von Planta. No Ípsilon, Isabel Lucas desvenda um pouco do que lá está.

No podcast do Encontro de Leituras já podem ouvir o episódio dedicado ao escritor brasileiro Laurentino Gomes.

O Festival Literário Internacional de Óbidos parece ter encontrado a sua dimensão, conseguindo encher a Tenda Vila Literária, que tem tido sessões esgotadas, como dou conta nesta reportagem. A historiadora e antropóloga brasileira Lilia Moritz Schwarcz  e o historiador português Fernando Rosas reflectiram no Folio sobre a realidade histórica brasileira e portuguesa.

Até para a semana, boas leituras.