Reinfecções por covid-19 poderão ocorrer dentro de um ou dois anos, diz estudo

Grupo de investigadores previu quanto poderá durar a imunidade contra o SARS-CoV-2 com base nas relações genéticas entre este e outros coronavírus. Vacinas e máscaras de protecção individual ajudam a prolongar esta protecção.

Foto
Estudo publicado em Agosto concluiu que quem não está vacinado tem duas vezes mais hipóteses de ser reinfectado EPA/ROBERT GHEMENT

Quem já esteve infectado com o SARS-CoV-2 poderá vir a ser reinfectado dentro de um ou dois anos, a menos que tome precauções como vacinar-se ou usar a máscara de protecção individual com frequência. Estas são algumas das previsões que um grupo de investigadores fez com base nas relações genéticas entre este e outros coronavírus e que fazem parte de um estudo publicado no início deste mês na revista científica The Lancet.

No estudo, os autores alertam que as pessoas podem ser reinfectadas em apenas alguns meses, se não forem vacinadas contra a covid-19. “A imunidade tem uma vida relativamente curta. Todos se devem vacinar, mesmo que tenham ficado infectados”, refere Jeffrey Townsend, co-autor do estudo e bioinformático da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos da América.

Townsend diz que serão precisos mais dados nos próximos meses e anos para saber exactamente quanto tempo dura a imunidade natural à doença. “Mas não queremos esperar por isso. E não precisamos de fazê-lo”, diz.

Para estimar a duração da imunidade contra a SARS-CoV-2, o grupo quis entender primeiro como os níveis de anticorpos contra uma doença afectam o risco de reinfecção. Os dados de um estudo de 2020 permitiram à equipa mapear esse efeito ao longo dos anos para coronavírus “endémicos” ou em circulação contínua que causam a constipação sazonal. Mas o SARS-CoV-2 é um vírus demasiado recente para que tais dados a longo prazo estejam disponíveis neste momento.

Para contornar esta falta de informação, os cientistas combinaram dados genéticos do SARS-CoV-2, de três coronavírus endémicos e de dois coronavírus intimamente relacionados entre si, o SARS-CoV e o MERS-CoV, para construir uma árvore genealógica viral. Os autores usaram essa árvore para modelar como as características virais evoluíram ao longo do tempo e obter uma estimativa de quanto demorará a começar o declínio dos níveis de anticorpos após a infecção por SARS-CoV-2.

Os resultados finais sugerem que o risco médio de reinfecção aumenta em cerca de 5% quatro meses depois da infecção inicial e em 50% depois de 17 meses. Em termos gerais, a protecção natural parece persistir menos de metade do tempo do que dura para os três coronavírus da constipação comum.

Jeffrey Townsend afirma que ficou “surpreendido e assustado” com as descobertas, uma vez que estas sugerem que a covid-19 poderá fazer a transição de uma doença pandémica para uma doença endémica.

Apesar do conhecimento adquirido no último ano, há muitas questões sobre a covid-19 a que os cientistas ainda não sabem responder. Não se sabe, por exemplo, qual será a gravidade da doença quando alguém é reinfectado, ou se a susceptibilidade de uma pessoa à doença é diferente na primeira infecção e na reinfecção.

Sarah Cobey, especialista em biologia evolutiva da Universidade de Chicago, estado de Illinois, diz à revista Nature que esta nova investigação tem por base a suposição de que as semelhanças genéticas entre os vírus permitem prever características relevantes para a reinfecção. A professora avisa que pode ser muito cedo para dizer com confiança quanto tempo demora até que a protecção após uma infecção por SARS-CoV-2 começa a diminuir, ainda que saibamos que essa imunidade vai realmente  reduzir-se. “Ninguém espera que a imunidade dure muito tempo num vírus que está a evoluir especificamente para lhe escapar”, diz.

Cobey também lembrou que é essencial que as pessoas infectadas reforcem a protecção contra a covid-19 com uma vacina, ideia que tem sido enfatizada por diversos estudos. Em Agosto, uma pesquisa publicada pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos analisou casos de doentes que contraíram covid-19 em 2020 e alguns foram reinfectadas em Maio ou Junho de 2021. A grande conclusão foi que quem não estava vacinado tinha duas vezes mais hipóteses de ser reinfectado naquele período do que quem tinha tido contacto com o vírus e tomado as duas doses da vacina.

Sugerir correcção
Comentar