A difícil escolha entre o ambiente e a economia

Baixar o imposto sobre produtos petrolíferos e energéticos, como fez o Governo, também está longe de ser a solução ideal. Se, por um lado, é uma resposta às necessidades de alguns sectores, por outro, não deixa de ser um incentivo ao consumo e uma cedência à pressão pública.

A escolha é difícil: precisamos, urgentemente, de diminuir a nossa dependência dos combustíveis fósseis, mas a retoma económica a nível global depende do seu consumo em larga escala. A conjuntura não ajuda. Os países produtores de petróleo não aumentaram a sua produção, apesar do crescente aumento da procura, e o mais provável é que os preços não parem de crescer. Toda a cadeia logística está sob grande pressão, o que leva a que os preços dos transportes, das operações portuárias, seguros e dos bens tenham subido.

A subida dos preços dos combustíveis tem tudo para gerar indignação. Foi assim que nasceram os “coletes amarelos”, e por cá já existem grupos nas redes sociais, com centenas de milhares de membros, a sugerirem protestos, suspensões de consumo ou cortes de estradas. Percebe-se a indignação: os preços do gasóleo e da gasolina ultrapassaram os dois euros por litro e atingiram os valores mais altos dos últimos três anos.

Mas não foi só em Portugal que os preços dos combustíveis subiram várias vezes num ano. É uma questão de mercado. O preço médio atingiu o valor mais alto em sete anos nos EUA e as bombas de gasolina esvaziaram-se no Reino Unido. Aquilo de que nos podemos queixar, de facto, é de uma carga fiscal mais elevada, comparativamente a outros países, como Espanha, que pesa cerca de 60% da factura do abastecimento.

Baixar o imposto sobre produtos petrolíferos e energéticos, como fez o Governo, também está longe de ser a solução ideal. Se, por um lado, é uma resposta às necessidades de alguns sectores, por outro, não deixa de ser um incentivo ao consumo e uma cedência à pressão pública.

Nesta fase de optimismo e de recuperação pós-pandemia, os congestionamentos nas ruas do Porto e de Lisboa voltaram a níveis anteriores, ou até superiores, aos da pré-pandemia, numa clara opção do transporte pessoal em detrimento do transporte público.

O globo teve alguns meses de regeneração enquanto estivemos em casa e os carros na garagem. Voltamos hoje ao mesmo cenário. Sabemos que só cumpriremos metas ambientalmente sustentáveis se reduzirmos substancialmente a nossa dependência dos combustíveis fósseis. Mas esta retoma económica demonstra bem que ainda não estamos preparados para abdicar desse estilo de consumo em função do ambiente. A transição climática, como diz Francisco Ferreira, da Zero, “vai doer muito nos bolsos dos portugueses”.

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