Apesar das promessas verdes, emissões de CO2 do G20 voltam a aumentar em 2021

No plano global, os 20 países mais ricos contribuem com 75% das emissões de gases como efeito de estufa. Estima-se que o uso do carvão aumente em 5% este ano, com a China contribuir com 61%, seguida dos EUA (18%) e da Índia (17%).

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A recuperação económica em 2021 está a ser alimentada por combustíveis fósseis, nomeadamente pelo carvão David Gray/Reuters

Depois de uma diminuição de 6% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em 2020 nos 20 países mais ricos do mundo (G20), as emissões estão a voltar a aumentar em 2021 e devem crescer até 4% este ano, minando os esforços para controlar o aumento de temperatura, diz o Climate Transparency Report. E três países (a China, a Índia e a Argentina) encaminham-se para exceder os seus níveis de 2019.

Actualmente, a temperatura mundial está cerca de 1,1ºC mais quente em relação ao nível pré-industrial – perto dos 1,5ºC estipulados pelo Acordo de Paris. Para limitar futuros aumentos, os países que mais geram as emissões de gases com efeito de estufa terão de implementar medidas ambiciosas, começa por dizer o relatório realizado por especialistas de 16 organizações de 14 países do G20.

O uso continuado de combustíveis fósseis está a arruinar os esforços para controlar a temperatura. No plano global o conjunto de países do G20 é responsável por cerca de 75% das emissões globais, que foram bastantes reduzidas no ano passado devido ao encerramento das economias para conter a pandemia, diz o estudo.

Este ano, a recuperação económica está a ser alimentada por combustíveis fósseis, em particular pelo carvão. Para 2021 o estudo prevê um aumento de 5% do consumo do carvão. Só a China contribui com 61% para este crescimento, seguida dos EUA (18%) e da Índia (17%). No que diz respeito ao gás, o Climate Transparency Report revela uma utilização até 12% no G20 entre 2015 e 2020.

Quanto aos países com o maior nível de emissões cumulativas per capita, lideram os EUA (4,9 toneladas de CO2 per capita) e a Austrália (4,1 toneladas). Por comparação, as duas dezenas de países têm uma média de 1,4 toneladas de carbono per capita.

Apenas a duas semanas da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), o relatório reforça a necessidade de se implementarem medidas mais ambiciosas, mostrando que as metas implementadas para limitar o aumento das emissões de CO2 não são suficientes para conter o aumento da temperatura.

E enquanto os líderes políticos têm vindo a prometer uma recuperação verde da pandemia de covid-19, os compromissos financeiros das 20 nações mais ricas não acompanham as promessas. Dos 1,8 biliões de dólares (1,5 biliões de euros) em investimentos para a recuperação, apenas 300 mil milhões de dólares (258 mil milhões de euros) foram destinados a projectos “verdes”. Mas às indústrias fósseis foram atribuídos subsídios no valor de 298 mil milhões de dólares (257 mil milhões de euros) pelo G20.

“Os governos do G20 precisam de trazer para cima da mesa metas nacionais mais ambiciosas para a redução das emissões. Os dados deste relatório mostram que não podemos mudar os valores sem eles. A bola está totalmente do lado deles na véspera da COP26”, disse Kim Coetzee, do Climate Analytics, responsável pela coordenação da análise geral.

Ainda assim, o relatório salienta desenvolvimentos positivos, incluindo o aumento do uso da energia solar e eólica nos países mais ricos. Face a 2020, as energias renováveis fornecerem 12% da energia, mais dois pontos percentuais.

Além disso, a maioria dos países também reconhece a necessidade de atingir a neutralidade carbónica até metade deste século e todos os membros do grupo concordaram em propor novas estratégias antes da conferência em Glasgow. No entanto, a China, a Índia, a Austrália e a Arábia Saudita ainda não o fizeram.

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