A Lego vai mudar para romper estereótipos de género

As raparigas estão mais confiantes para diversificar brincadeiras e interesses, mas são as mais limitadas pelos estereótipos de género. No Dia Internacional da Rapariga, assinalado a 11 de Outubro, a Lego promete trabalhar para remover as normas associadas aos papéis de género nos seus brinquedos.

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Daniel Rocha

A Lego anunciou, no Dia das Raparigas, assinalado a 11 de Outubro, que vai trabalhar para remover os estereótipos de género dos seus brinquedos. Um estudo que a empresa financiou concluiu que as raparigas estão com cada vez maior confiança para diversificar brincadeiras e interesses, mas são as mais limitadas pelos ideais de género na sociedade. O mesmo não acontece com os rapazes.

“As conclusões do estudo mostram que as raparigas estão prontas para o mundo, a sociedade é que ainda não está preparada para apoiar o seu crescimento”, afirma a Lego. Para os rapazes, a separação dos papéis de género que distinguem homens e mulheres é ainda vincada: 82% das raparigas acham que é aceitável as meninas jogarem futebol e os meninos dançarem ballet, mas apenas 71% dos rapazes concordam com elas.

Quanto aos pais, independentemente de serem pais de rapazes ou de raparigas, pensam que é seis vezes mais provável que cientistas e atletas sejam homens do que mulheres, e oito vezes mais provável que engenheiros sejam homens. Esta percepção é partilhada pelos seus filhos, mas há algo a sublinhar: as raparigas consideram um maior número de ocupações tão adequadas para mulheres como para homens.

A tendência entre os pais é encorajar as raparigas a dançar, a brincar com mudas de roupa ou com cozinha e pastelaria, enquanto os rapazes são incentivados a praticar desporto ou jogar videojogos. Ao mesmo tempo, são os rapazes que têm mais vergonha de entrar em brincadeiras habitualmente associadas ao género oposto.

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A Lego perguntou às irmãs Fatima e Sheikha o que levariam com elas para o Espaço. "Juntas construíram um veículo lunar fabuloso. É tão incrível que vai ser exposto no Mohammed Bin Rashid Space Centre, a sede do programa espacial dos Emirados Árabes Unidos." LEGO

“Os brinquedos da Lego ainda são considerados mais apropriados para rapazes do que para raparigas, sendo que 59% dos pais dizem que encorajam os seus filhos a fazer construções com peças de Lego, e apenas 48% afirmam fazer o mesmo com as suas filhas”, escreve a Lego, em comunicado. “Queremos garantir que todas as crianças, independentemente da sua identidade de género, se sentem capazes de construir tudo o que queiram e podem brincar de forma a desenvolver e descobrir os seus talentos.”

Este estudo foi feito pelos investigadores do Geena Davis Institute on Gender in Media, na Califórnia, a propósito do Dia Internacional da Rapariga e para assinalar o lançamento de uma nova campanha da Lego: Ready for Girls (na campanha em português: As raparigas estão preparadas), que “celebra as raparigas que reconstroem o mundo através da criatividade na resolução de problemas”.

Foram entrevistados cerca de sete mil pais e filhos, entre os 6 e os 14 anos, em sete países, para compreender como é que se podem transformar acções e palavras para promover a autonomia e criatividade de todas as crianças. “É fundamental promover brincadeiras mais inclusivas e estimular o debate em torno dos papéis de género, não só para as raparigas, mas para qualquer criança.”

Mas há um elefante na sala. Sem qualquer menção ficam colecções como a Lego Friends, desenhada especificamente para agradar a raparigas: bonecas com vários penteados, salões de cabeleireiro, pequenas cozinhas e muito, muito, cor-de-rosa. Todos os elementos de uma visão estereotipada que a marca agora critica.

Há uma década a Lego já era criticada por esta colecção, que levou à criação de petições com dezenas de milhar de assinaturas, sob o lema “Lego é para todos nós!”, para que acabassem com a distinção entre brinquedos de rapariga e de rapaz. Dez anos depois é notório o contraste entre a história da Lego e o comunicado que agora lança.

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