Pandemia levou às maiores descidas na esperança de vida desde a Segunda Guerra Mundial

Em Portugal, a última vez que os homens tiveram perdas como as observadas em 2020 foi na altura da Segunda Guerra Mundial, mostra estudo publicado esta semana.

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Houve reduções na esperança de vida em 27 de 29 países, incluindo em Portugal Hugo Delgado/Lusa

Em 2020, a esperança de vida diminuiu em 27 de 29 países e, em muitos desses territórios, as descidas ultrapassaram as da Segunda Guerra Mundial. O grande factor? A equipa de cientistas que realizou o estudo publicado na revista International Journal of Epidemiology indica a pandemia de covid-19. A esperança de vida dos homens nos Estados Unidos caiu mais de dois anos. Em Portugal, a última vez que os homens tiveram perdas como as observadas em 2020 foi na altura da Segunda Guerra Mundial.

A esperança de vida desceu mais de seis meses em comparação com 2019 em 22 dos 29 países analisados no estudo, que incluiu territórios espalhados pela Europa, os Estados Unidos e o Chile. Houve reduções na esperança de vida em 27 de 29 países, incluindo em Portugal.

A equipa considera que as maiores reduções na esperança de vida nos diferentes países podem estar ligadas a mortes oficiais causadas pela covid-19. Até agora, há quase cinco milhões de mortes provocadas pelo coronavírus SARS-CoV-2, mostram os cálculos da agência Reuters.

“O facto de os nossos resultados destacarem um grande impacto que é directamente atribuível à covid-19 mostra quão devastador vai ser para muitos países”, afirma Ridhi Kashyap, co-responsável pelo estudo, que inclui investigadores do Reino Unido, da Alemanha e da Dinamarca.

Em muitos dos países analisados, houve diminuições maiores na esperança de vida para os homens do que para as mulheres. O maior declínio foi para os homens norte-americanos, que viram a esperança de vida descer 2,2 anos relativamente a 2019.

Em 11 países houve diminuições de mais de um ano para os homens e em oito deles de mais de um ano para as mulheres. Esse decréscimo afectou o progresso na mortalidade que tinha sido feito nos últimos seis anos.

“A esperança de vida desceu em 27 dos 29 países e, em muitos locais, as perdas ultrapassaram as da Segunda Guerra Mundial”, nota ao PÚBLICO José Manuel Aburto, professor no Centro Interdisciplinar da Dinâmica Populacional da Universidade da Dinamarca do Sul e um dos autores do artigo científico. Em Portugal, as perdas durante a Segunda Guerra Mundial foram ainda maiores do que agora – cerca de dois anos para homens e mulheres, indica o investigador. Para países da Europa ocidental como Espanha, Inglaterra, Itália e Bélgica, a última vez que as grandes perdas na esperança de vida foram observadas num único ano foi na altura da Segunda Guerra Mundial.

Nos Estados Unidos, a subida na mortalidade foi sobretudo observada entre as pessoas em idade activa e nos indivíduos com menos de 60 anos. Já na Europa, o aumento mais significativo na mortalidade esteve sobretudo nas pessoas com mais de 60 anos. 

Os dados para Portugal

Um outro país analisado foi Portugal. Em 2015, a esperança de vida em Portugal era de 83,87 para as mulheres e 78,03 para os homens. E, em 2019, chegou a subir para 84,48 nas mulheres e 78,69 nos homens. Contudo, em 2020, houve uma descida para 83,79 nas mulheres (menos 0,69) e 77,86 nos homens (menos 0,83).

As perdas consideráveis na esperança de vida em Portugal são comparáveis às observadas na Suécia e na Croácia, mas estão longe dos mais de dois anos observados nos homens nos Estados Unidos”, assinala José Manuel Aburto. Mesmo assim, adianta: “A última vez que os homens em Portugal tiveram perdas desta ordem foi na Segunda Guerra Mundial.” Tanto nos homens como nas mulheres, a redução da esperança de vida foi impulsionada pela mortalidade acima dos 60 anos.

Ridhi Kashyap apela a que mais países, incluindo as nações com rendimentos mais baixos e médios, fornecem dados sobre a mortalidade para mais estudos. “Pedimos urgentemente a publicação e a disponibilização de mais dados para que se possa perceber melhor os impactos da pandemia a nível global”, assinalou a investigadora.

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