Medina e Moedas, sonhos de abóbora e de mudança

Os dois candidatos desceram a Rua Morais Soares na mesma tarde. E no meio da música e dos gritos de apoio voltaram a polarizar as autárquicas lisboetas: ou eu ou ele.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

A tarde foi animada para comerciantes e moradores da Rua Morais Soares. Em três horas, três candidatos diferentes por ali passaram com os olhos postos na Câmara de Lisboa. Primeiro Fernando Medina (Mais Lisboa), depois Bruno Horta Soares (IL), por fim Carlos Moedas (Novos Tempos), todos quiseram picar o ponto numa das artérias mais movimentadas e multiculturais da capital.

Entre os dois principais candidatos houve marcação homem a homem. Ambos rodeados de apoiantes, ambos com direito a fanfarra que tocou marchas populares e músicas de Toy. Só o discurso divergiu. Se Medina diz que é preciso “concentrar os votos” na sua coligação, Moedas contrapõe que é “o único que pode trazer mudança a Lisboa”.

O social-democrata desceu a rua ao lado da antiga ministra Paula Teixeira da Cruz, que esteve muito activa no apelo ao voto. “É para votar em nós, se não nunca mais cá venho buscar frango”, afirmou numa churrascaria. Momentos antes, numa sapataria, o dono queixara-se a Carlos Moedas da ciclovia da Almirante Reis. “Ainda há bocado passou aqui o Medina, queria confrontá-lo com a miséria das ciclovias. Eu daqui para a Praça da Figueira já cheguei a demorar 45 minutos. Era bom que isto mudasse, que estamos fartos disto”, atirou. “Com o seu voto!”, retorquiu Teixeira da Cruz prontamente.

A arruada começou na Praça Paiva Couceiro e terminou uma hora depois na Alameda D. Afonso Henriques, onde Moedas foi carregado em ombros até a um palco que ali estava montado ao lado de bifanas e imperiais. Logo no arranque, enquanto a banda tocava Cheira bem, cheira a Lisboa, um homem quis confirmar com o candidato qual era o seu número de telemóvel. “Não é para se dizer aqui, se não vai parar à Rússia”, disse alguém, arrancando gargalhadas.

E dali a caravana seguiu rua abaixo, espremida no passeio, com contactos que raramente foram além do cumprimento e desejos de sorte de parte a parte. Com a música da fanfarra e os gritos de apoio pouco mais era possível. A meio do percurso, Moedas atirou-se a Medina por causa do comício de segunda à noite em que foi o alvo preferido dos discursos. “Encheram uma Aula Magna só para dizer mal do Carlos Moedas. Medina não tem projecto para a cidade, eu tenho”, afirmou.

“O que se tem visto em Lisboa é betão, é um desordenamento completo”, disse logo de seguida Paula Teixeira da Cruz, que atribuiu a Moedas “um olhar humano que já não víamos há muito tempo.”

O candidato apoiado por PSD, CDS, MPT, PPM e Aliança diz-se convicto da vitória no próximo domingo e voltou a falar de Lisboa como primeiro passo de um sonho laranja para o país. “É a esperança que os nossos filhos já não têm, é essa esperança que vamos trazer a Portugal, porque Lisboa é a capital e é Lisboa que vai trazer esses ventos de mudança”, disse, já na Alameda.

Medina volta a pedir concentração de votos

Sonho por sonho, Fernando Medina prefere os de abóbora. Já quase a chegar à Praça do Chile, o candidato da coligação Mais Lisboa (PS e Livre) entrou no café Estrela de Paris e pediu um descafeinado ao balcão. O dono logo acenou com sonhos feitos de propósito para a ocasião. “São os melhores sonhos de Lisboa, não há iguais”, asseverou, enquanto o actual autarca comia meio bolo para não estragar a linha.

Com o sonho veio o conselho: “O senhor não precisa de andar a fazer muito esforço!” Mas Medina acenou negativamente. “Sinto-me muito confiante, com grande energia, mas só um voto no Mais Lisboa pode assegurar a continuidade do que temos vindo a fazer”, disse logo ali.

Numa arruada que também durou cerca de uma hora, Medina não regateou selfies, apertos de mãos e trocas de impressões sobre o impacto da pandemia. “É uma grande, grande felicidade fazer esta descida e falar com as pessoas que reencontro, agora já com um brilho nos olhos. Já estamos a recuperar”, afirmou, argumentando que foram os apoios económicos dados pela câmara que mantiveram muitos negócios à tona.

Pouco depois, abordada por uma mulher que gritou “já ganhámos!”, o candidato retorquiu “não ganhámos nada!” e aos jornalistas repetiria a mensagem. “Vocês sabem como as sondagens tantas vezes se enganam. A grande questão das eleições é termos força para continuarmos ou não termos força. Concentrem todos os votos na nossa coligação”, apelou.

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