O P3 não é só de quem o faz, é de quem o lê

A linha editorial do P3 e a sua representação gráfica começou por ser discutida, ao longo de dois anos, com um grupo de estudantes de Jornalismo e de Belas-Artes.

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O P3 é um caso único na imprensa digital portuguesa. Para quem não saiba, o site que está a ler nasceu de uma maneira invulgar: um consórcio, entre uma empresa privada (o PÚBLICO) e uma instituição pública (a Universidade do Porto), candidatou a fundos comunitários um projecto multimédia destinado a públicos mais jovens e em processo de afastamento dos media convencionais.

O P3 teve, desde o início, em Setembro de 2011, uma faceta muito experimental. A redacção do site juntava jornalistas do PÚBLICO, jovens estudantes de jornalismo, estagiários do Jornalismo Porto Net, o site do curso de Ciências da Comunicação, e académicos de várias proveniências na sala 107 do nr.º 15 da Praça do Coronel Pacheco, no Porto. Este ecossistema deu origem a um site cuja homepage era horizontal, quando todas as outras eram verticais, sem scroll, quando os sites prometiam scroll infinito, e a um menu de navegação composto pelas tags mais vistas, quando todos os outros expunham dia após dia as mesmas e fixas secções de um jornal online.

Não chegamos aqui por birra ou xamanismo. A linha editorial do P3 e a sua representação gráfica começou por ser discutida, ao longo de dois anos, com um grupo de estudantes de Jornalismo e de Belas-Artes e depois, de forma mais restrita, pela equipa que o definiu. As opções que surgiram foram sujeitas a testes de focus groups e de eye tracking, com jovens pré-universitários, universitários e pós-universitários. Quer uns, quer outros validaram o instinto. O laboratório começou a funcionar, o projecto foi objecto de teses de mestrado e de doutoramento, e o P3 ganhou vários prémios, entre os quais o de melhor design, na Península Ibérica, em 2019, para publicações online até aos 12 milhões de páginas vistas por mês.

Tratamos tudo por tu

O P3 é generalista, não é paternalista. Fala de tudo, trata tudo por tu, mesmo quando fala de temas que há dez anos eram tabus nas páginas dos jornais, como nos aconteceu com as primeiras abordagens às temáticas do porno. Rapidamente, surgiu uma forma de abordagem totalmente diferente sobre os mesmos temas de sempre, pelo simples facto de se tratar de um projecto feito pelo target e para o target, que procurava dar voz a quem não tinha nenhum espaço público para se fazer ouvir.

Recuperamos temas esquecidos (design, arquitectura, ilustração) e exploramos novos pontos de vista (emprego, identidade sexual, sustentabilidade). Lembramo-nos da geração rasca e demos voz à geração à rasca que se estava a desenrascar nos primeiros anos da “troika”.

Mas havia, e há, um outro factor distintivo. Na sala de aulas onde trabalhávamos, havia um post it que tinha sobrevivido às várias reuniões de preparação do projecto. Dizia: “Vivemos na era da partilha”. Era verdade. A clássica e anacrónica dicotomia entre emissor e receptor era coisa do século XX.

A partilha foi levada às últimas consequências: o P3 foi o primeiro media em Portugal a abrir uma conta no Instagram, existe uma permanente relação com os leitores por email e pelas redes sociais e, acima de tudo, a criação de uma comunidade, que fez com que o P3 se transformasse num site colaborativo que ia para lá dos seus compartimentos estanques. Um terço dos trabalhos publicados no site ainda são assinados por leitores, quer sejam crónicas, fotografias, vídeos, ilustrações ou qualquer outra forma de expressão. E ainda continua a ser assim no Megafone, esse palco diverso e polifacetado onde os leitores trocam opiniões.

Dez anos depois, o P3 é um caso único na imprensa digital portuguesa. Há temas, causas, opiniões, ideias de trabalhos e abordagens que só fazem sentido da maneira P3: inteligente, culta, contemporânea, mas também mundana, festiva e, sobretudo, livre. Confirmem, se não se importam, aqui, nesta página agregadora, e ali, nesta página especial sobre como é ser jovem em Portugal 2021, se o P3 não é tudo isso.

O P3 não é só de quem o faz, é de quem o lê. E até inspira uma campanha especial de assinaturas: por três euros podes ter acesso durante três meses a todos os artigos do PÚBLICO.

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