Imunidade contra covid-19 sintomática diminui 20 semanas após vacinação, diz estudo britânico

Estudo serviu de base para a decisão britânica de oferecer uma terceira dose aos britânicos maiores de 50 anos ou com fragilidades do sistema imunitário. Mas as vacinas continuam a proteger de hospitalização e morte.

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Vacinação contra a covid-19 no Reino Unido Reuters/POOL

A imunidade conferida pelas vacinas da AstraZeneca e da Pfizer-BioNtech contra formas sintomáticas de covid-19 diminui de forma significativa passadas 20 semanas de se ter tomado a segunda dose, sobretudo nas pessoas com doenças que afectam o sistema imunitário e têm mais de 65 anos, concluiu um estudo da Public Health England (o equivalente à Direcção-Geral da Saúde em Inglaterra).

Apesar de ainda não ter sido avaliado pelos pares ou publicado numa revista científica, este estudo serviu de justificação para a decisão anunciada esta semana pelo Governo de Boris Johnson de avançar com a administração de uma dose de reforço para as pessoas com mais de 50 anos ou que tenham problemas de imunidade. 

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Em Portugal, a Direcção-Geral de Saúde recomendou a terceira dose para pessoas imunodeprimidas e a Agência Europeia do Medicamento está a avaliar se deve ou não recomendar a administração da dose de reforço.

Há nove meses que são administradas vacinas contra a covid-19 no Reino Unido, e durante esse período houve já duas variantes dominantes do vírus SARS-CoV-2: primeiro, a Alfa e a partir da Primavera a Delta, que praticamente a substituiu. O estudo leva em conta esta história da pandemia, e verifica que a eficácia da vacina da AstraZeneca a proteger contra formas sintomáticas de covid-19 causada pela variante Delta caiu para 47,3%, 20 semanas após a toma da segunda dose. Quanto à vacina da Pfizer-BioNtech, a eficácia cai no mesmo período para 69,7%. A imunidade diminui mais nas pessoas clinicamente vulneráveis, com doenças pré-existentes que as tornam mais susceptíveis à infecção.

No entanto, ambas as vacinas mantêm uma boa protecção contra a necessidade de hospitalização por causa da covid-19 – continua a ser de 77% no caso da AstraZeneca e de 97,7% na Pfizer-BioNtech. Mesmo passadas 20 semanas após a toma da segunda dose, ambas as vacinas conferem imunidade suficiente para evitar a morte do doente de covid-19 em grande parte dos casos (78,7% para a AstraZeneca e 90,4% para a Pfizer-BioNtech).  

Um factor comum é que a imunidade se reduzia mais nos adultos maiores de 65 anos e com outros problemas clínicos que os tornassem mais vulneráveis à infecção – daí a recomendação para serem as pessoas mais velhas e com problemas imunitários as seleccionadas para receberem uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 no Reino Unido. Mas o estudo concluiu também que as pessoas que foram vacinadas com um intervalo maior entre as duas doses (oito a 12 semanas) têm uma melhor resposta imunitária do que aquelas que foram inoculadas com o intervalo recomendado pelas farmacêuticas, que é de três semanas.

Estes resultados, dizem os cientistas – o trabalho tem como primeiro autor Nick Andrews, da Public Health England e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres –, coincidem com os verificados em outros países que foram dos primeiros a vacinar a sua população contra a covid-19, como o Qatar e Israel, e que estão agora a avançar com a decisão de administrar a terceira dose, ao verificarem uma diminuição da imunidade.

A equipa britânica sublinha, no entanto, que não são ainda claros os benefícios de administrar esta dose de reforço. “Dado o nível alto e sustentado de eficácia vacinal contra a hospitalização e morte, os benefícios adicionais de uma terceira dose contra desfechos mais graves [da doença] são limitados na actual situação epidemiológica”, escrevem. “A eficácia da vacinas pode, no entanto, continuar a diminuir com o tempo e é provável que uma dose de reforço possa ter um impacto maior contra a doença mais grave”, concluem.

Os cientistas notam também algumas limitações importantes do estudo. Uma delas é que estas duas vacinas foram utilizadas em populações diferentes no Reino Unido – a Pfizer, por exemplo, foi muito pouco usada em lares de idosos e pessoas que pertencessem a grupos de risco clínico, enquanto a AstraZeneca, a partir de cerca altura, passou a ser restringida apenas a pessoas mais velhas, devido às preocupações com os efeitos secundários graves das vacinas de vector viral, as tromboses com hemorragia. Os cientistas fazem correcções estatísticas dos dados, mas é inevitável que persista alguma distorção, avisam.

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