Benfica tem de descobrir se Dínamo é “peixe miúdo” ou “tubarão”

O Dínamo de Kiev é, em teoria, o adversário mais frágil num grupo da Liga dos Campeões que ainda tem Barcelona e Bayern Munique. Como crença real ou apenas retórica de comunicação, Jorge Jesus discorda desta ideia. Os ucranianos, acredita o técnico, valem tanto como os “tubarões”.

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Benfica no treino pré-Dínamo de Kiev EPA/MIGUEL A. LOPES

O Benfica inicia nesta terça-feira (20h, Eleven Sports) a participação na Liga dos Campeões frente ao Dínamo de Kiev, o adversário menos forte de um grupo que tem Barcelona e Bayern Munique. Esta não é, em teoria, uma premissa polémica.

Mas nem todos concordam. Jorge Jesus, treinador do Benfica, crê que o Dínamo de Kiev não é a equipa mais frágil do grupo E. O técnico “encarnado” acredita mesmo que os ucranianos são tão fortes como os “tubarões” Barcelona e Bayern de Munique – e repetiu esta ideia três vezes na antevisão do jogo.

“Olho para o Dínamo como olho para o Barcelona ou o Bayern. Se estivermos a olhar para o Dínamo como a equipa mais fraca do grupo não acho que isso seja verdade. Para mim, o Dínamo é tão forte como o Barcelona e o Bayern”, apontou.

Concorde-se ou não, a opinião do técnico é tão válida como qualquer outra. Vamos, portanto, a factos. Das 32 equipas da Champions, o Dínamo é a quinta com menos valor de mercado (cerca de 130 milhões de euros). Em média, segundo o Transfermarkt, site especializado na análise aos plantéis dos clubes de futebol, cada jogador dos ucranianos vale quatro milhões. O Dínamo surge atrás do valor das três equipas portuguesas e até de equipas como o Club Brugge ou o Wolfsburgo.

Na comparação directa dentro do grupo E – e foi essa que fez Jorge Jesus –, o plantel do “Barça” vale cerca de 700 milhões de euros e o do Bayern mais de 800 milhões.

Mas Jorge Jesus justificou a opinião: “O Dínamo tem cinco jogadores titulares da selecção da Ucrânia, que ainda há dias empatou com a França. Tem um treinador, Mircea Lucescu, que é o mais titulado do mundo no activo”.

De facto, nem Bayern nem Barcelona têm um técnico tão titulado como Lucescu, ainda que os tenha conquistado maioritariamente em campeonatos de segunda linha. Mas em matéria de internacionais, os cinco jogadores ucranianos destacados por Jesus esbarram na “concorrência” de nomes como Lewandowski, Neuer, Kimmich, Müller ou Sané, nos alemães, ou Agüero, Ter Stegen, Jordi Alba, Depay ou Busquets, nos espanhóis.

Ainda que estas comparações dificilmente atestem a tese elogiosa de Jorge Jesus, o técnico “encarnado” terá certamente razão se esta retórica pretendesse alertar os jogadores para a importância deste jogo e de levar muito a sério a equipa de formação do benfiquista Yaremchuk.

Encarar o Dínamo como o “bombo da festa”, além de desprovido de nexo, pela força dos ucranianos, colocará o Benfica mais perto de tropeçar num duelo fulcral. É que portugueses e ucranianos estarão à espreita de “enganarem” os dois “tubarões” do grupo, pelo que os duelos entre ambos farão toda a diferença. E, ganhando na Ucrânia, o Benfica dará um passo importante no mínimo na luta pelo acesso à Liga Europa.

Mircea Lucescu, muito elogiado por Jorge Jesus, também deixou palavras de apreço pelo Benfica. “O Benfica está numa boa fase e a liderar a Liga portuguesa. Têm um grande treinador, que trabalha a alto nível há mais de 20 anos, e muitos jogadores com larga experiência internacional, como Vertonghen, Otamendi, João Mário ou Seferovic”, apontou.

Sendo a primeira jornada da Champions, as conclusões a tirar sobre o Dínamo remontam para a época 2020/21, na qual até teve, tal como nesta época, dois “tubarões” (Juventus e Barcelona), além do Ferencváros, equipa menos apetrechada do que o Benfica.

Nessa fase de grupos da Champions, o Dínamo foi, entre as 32 equipas, a quarta com menos posse de bola e a quinta com menos remates por jogo, que mais tempo passou no seu primeiro terço do campo e que menos tempo passou no terço adversário.

Mas se os números gerais, condicionados pelos desafios frente a Barcelona e Juventus, podem ser injustos, vejamos a comparação com o Ferencváros: mesmo frente à frágil equipa húngara, o Dínamo teve menos bola e menos oportunidades de golo em ambos os jogos. Trata-se, portanto, de um adversário sem particular apetência para mandar nos jogos e ser posicionalmente muito ofensivo.

Foi, ainda, uma equipa com limitações claras nas bolas paradas defensivas: sofreu três golos na fase de grupos da Champions e foi a terceira equipa da fase de grupos com menos duelos aéreos ganhos.

Em tese, é uma equipa à mercê deste novo, revigorado e vitorioso Benfica.

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