Jorge Sampaio aos 80 anos: “Este ocaso da vida é um ocaso magnífico”

PS homenageou Jorge Sampaio a 18 de Setembro de 2019, quando celebrou o seu 80.º aniversário. Estava a oito dias de cumprir o 82.º.

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Homenagem dos 80 anos de Sampaio teve lugar na sede do PS Daniel Rocha

No dia dos seus 80 anos, Jorge Sampaio regressou a uma das casas onde foi feliz: a sede do PS, no Largo do Rato. Rodeado de companheiros destes e de outros tempos e perante a homenagem que lhe era então prestada, o antigo líder socialista agradeceu a companhia neste final de vida que designou por ocaso. “Este ocaso da vida é um ocaso magnífico”, disse, com os olhos límpidos. “Não costumo fazer isto sem chorar um pouco”, acrescentou.

Nesse dia de Setembro, quando a pandemia ainda não espreitava no horizonte e as eleições legislativas estavam para breve, Jorge Sampaio teve direito a um bolo de parabéns e um momento musical interpretado pelo quarteto de cordas da Orquestra Juvenil Portuguesa. Mostrou-se feliz pelo aniversário — “A felicidade que tive em cumprir estes 80 anos!” — e por voltar ao Palácio-Praia — “Sinto que aqui não tenho de justificar nada, que me perdoam as faltas, e que nós temos a capacidade, que não devemos em caso nenhum alienar, de ser uma entidade plural, onde o espaço ideológico é vasto (…). Foi por isso que escolhi o Rato” para fazer a festa. Com humor, acrescentou: “É certo que me esqueci das escadas e agora subo escadas com imensa dificuldade”. 

O discurso, proferido com voz frágil e pausada, não foi só sobre emoções. Também teve conteúdo político. Como quando falou sobre a beleza da democracia e o desafio dos tempos que correm. “Tudo está em aberto, essa é a grande complexidade dos nossos tempos (…). Temos de descobrir novas formas de agir, mobilizar os que têm de ser mobilizados, no interesse pela coisa pública”, disse.

A ouvi-lo estava a elite do PS. Ministros, autarcas, dirigentes. Mariana Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos, Francisca Van Dunen, João Gomes Cravinho, Vera Jardim, João Cravinho, Ferro Rodrigues, Magalhães e Silva, Manuel Alegre, Correia de Campos, António Reis, Vital Moreira, Alberto Arons de Carvalho e ainda Jorge Coelho, que morreu entretanto.

Jorge Sampaio foi presenteado com os elogios de António Costa, secretário-geral do PS. “Sob aquela capa fleumática, quase britânica, a verdade é que há qualquer coisa de emotivo”, descreveu. “Tinha todo o direito de estar a gozar a tranquilidade da vida, mas a vida traz-lhe intranquilidade”, destacou, a propósito da criação da plataforma de ajuda aos estudantes sírios refugiados em Portugal.

A surpresa da tarde foi justamente a presença de um casal de estudantes refugiados, que fugiram da Síria para a Turquia rumo à Grécia e que chegaram a 2016 a um país desconhecido – com o apoio de uma bolsa de estudo atribuída pela plataforma que Sampaio criou em 2013. “Quando vim, só sabia que Portugal era a terra de Cristiano Ronaldo”, disse ele. “Agora, é a nossa pátria de adopção. Graças a si, senhor Presidente, podemos sonhar.” É também a pátria da filha de ambos, já nascida na tranquilidade portuguesa. Obra de Jorge Sampaio. 

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