Reino Unido quer devolver barcos com migrantes que atravessam o Canal da Mancha

O Governo francês disse não aceitar a medida, justificando que “salvaguardar vidas humanas no mar é prioritário sobre considerações de nacionalidade, estatuto e política migratória”.

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Um recorde de 13.500 migrantes cruzaram o canal em pequenas embarcações desde o início de 2021, contrastando com os 8.420 que atravessaram em 2020 PETER NICHOLLS/Reuters

Os barcos que atravessam o Canal da Mancha em direcção ao Reino Unido podem ser obrigados a voltar para as águas francesas. A medida foi avançada pela ministra do Interior britânica, Priti Patel, apesar dos avisos das autoridades francesas que pode pôr vidas em perigo e comprometer a relação entre os dois países.

As forças de segurança das fronteiras do Reino Unido estão a ser treinadas para levar a cabo retornos de migrantes, ao abrigo de um plano desenvolvido durante dois anos, refere uma declaração do Ministério do Interior britânico.

Isto significa que os responsáveis britânicos podem enviar barcos para as águas francesas, estratégia que nunca foi usada no Canal da Mancha. Ainda assim, uma fonte do Governo britânico disse à BBC que a táctica apenas seria usada em “circunstâncias muito específicas e limitadas”, embora os detalhes das operações ainda estejam a ser finalizados, diz a fonte.

Depois de um encontro na quarta-feira entre Patel e o seu homólogo francês, Gérald Darmanin, este disse não aceitar a medida, afirmando que “salvaguardar vidas humanas no mar é prioritário sobre considerações de nacionalidade, estatuto e política migratória”, em conformidade com o direito internacional.

Considerou ainda como “imatura” a criação de uma unidade de informações conjunta para combater o tráfico humano. Darmanin avisou que empregar as tácticas propostas pelo Reino Unido teria um impacto negativo na “cooperação” entre os dois países.

Darmanin acrescentou que, embora se tenha registado um aumento no número de pessoas que tentam atravessar o canal, isso é influenciado pelos traficantes, que recorrem a embarcações maiores e outras tácticas. Ainda assim, o ministro do Interior francês disse que as autoridades francesas concordaram com o Reino Unido em “duplicar o número de pessoal destacado na costa”.

Um recorde de 13.500 migrantes cruzou o canal em pequenas embarcações, que contrastam com os 8.420 que atravessaram em 2020. E só nesta semana mais de 1.500 migrantes atravessaram o Canal da Mancha de barco.

O Governo britânico diz que precisa de utilizar todas as estratégias possíveis para responder ao tráfico de pessoas. O Home Office disse que iria continuar a parar pequenas embarcações que tentem fazer a travessia, um problema que Patel afirmou ser “prioritário para os britânicos”.

Em Julho, o Reino Unido e a França assinaram um acordo destinado a abrandar o fluxo de migrantes que tentam atravessar o canal. O Reino Unido prometeu pagar 54,2 milhões de libras (aproximadamente 63 milhões de euros) por acções extra para impedir o fluxo de travessias, como duplicar o número de patrulhas na costa.

Patel ameaçou não pagar a quantia acordada devido ao número de travessias, que permanece elevado. As autoridades francesas, por sua vez, afirmam não conseguir reduzir o fluxo de partidas, apesar de terem interceptado muitas embarcações.

Grupos de defesa dos direitos humanos apelaram ao Home Office para adoptar uma “abordagem mais humana e responsável” em relação aos requerentes de asilo. A Amnistia Internacional do Reino Unido lembrou que as pessoas “apenas optam por travessias mais perigosas e recorrem a contrabandistas, porque não há outras alternativas disponíveis”.

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