Numa altura em que o quotidiano conectado começava a ganhar forma, o 11 de Setembro e a então nova ameaça do terrorismo inverteram as prioridades e cortaram as iniciativas em prol da privacidade.

“Se o 11 de Setembro não tivesse acontecido, acredito que teríamos tido uma lei nacional de privacidade em 2001 ou 2002”, afirmou Peter Swire, antigo conselheiro de privacidade da Casa Branca, citado neste artigo da Karla Pequenino

No início do século, a realidade online era muito diferente. As redes sociais que hoje conhecemos estavam para nascer. Faltavam anos para se disseminar o conceito moderno de smartphone. A conectividade móvel não existia em termos práticos. Mas algumas empresas de Internet, como a Amazon e o Google, já estavam consolidadas. E veteranas como a Microsoft e a Apple faziam caminho no mundo online.

Naquela altura, a criação de uma lei americana de privacidade que refreasse alguma da voragem da captação de dados (com os efeitos que também traria para este lado do Atlântico) poderia ter ajudado a que tivéssemos hoje uma Internet diferente, pelo menos em algumas partes do globo: talvez mais privada; talvez de lucro mais difícil para muitas empresas, com todos os entraves que isso significaria para a inovação.

Em todo o caso, não foi assim que aconteceu.

Mais de uma década tinha passado sobre o 11 de Setembro quando Edward Snowden expôs a vigilância massiva levada a cabo pelos EUA, frequentemente em parceria com países europeus. As grandes falhas de privacidade por parte de empresas de Internet surgiriam depois, com os casos do Facebook à cabeça.

A vigilância estatal e o abuso de dados não são a mesma realidade – mas são duas faces de uma mesma moeda. As empresas que abusam dos dados dos utilizadores são muitas vezes as mesmas a que as autoridades recorrem quando querem devassar a vida de um cidadão. 

As consequências, como o artigo explica e como sempre acontece, são piores fora dos estados de direito. 

Digno de nota

 - É um casamento que há uns anos seria improvável: as criptomoedas estão a dar as mãos ao sector financeiro contra o qual foram criadas. O texto, antecipado na última edição desta newsletter, foi agora publicado. Porém, as opiniões divergem e desfecho desta união não é absolutamente claro.

- É uma daquelas falhas a que os sistemas de identificação de imagens nos têm habituado, mas que não podem passar em branco: num vídeo com homens negros, o Facebook perguntava aos utilizadores se queriam ver mais vídeos sobre primatas. A rede social pediu desculpas e desactivou a funcionalidade.

- Parece haver um exército de bots a impulsionar as manifestações de apoio ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que vai ser investigado por ameaças ao sistema eleitoral e pela difusão de fake news

4.0 é uma newsletter sobre inovação, tecnologia e o futuro. Comentários e sugestões podem ser enviados para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.