Maior transferência no futebol feminino valeu 634 vezes menos do que no masculino

Há uma diferença tremenda entre o dinheiro movimentado no futebol jogado por homens ou por mulheres. Os números mostram, porém, que não justifica a desigualdade brutal nos mercados de transferências. É o futebol feminino que ainda mexe pouco dinheiro em transferências ou o masculino que mexe demasiado? Provavelmente, as duas visões estão certas.

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Glasgow e Servette em duelo na Champions EPA/SALVATORE DI NOLFI

Milhões para aqui, milhões para acolá. O início de temporada nos campeonatos europeus é fértil em milhões para todos os gostos: os que foram gastos para comprar, os que chegam das vendas e até os que são “prometidos” às equipas que chegam à Liga dos Campeões. E são muitos milhões. Será esta uma verdade absoluta? Sim, mas só para o futebol masculino. Quando se olha para o panorama feminino não há milhões a “voarem” com esta naturalidade.

Numa fase em que os clubes fazem contas ao que receberam no mercado de Verão – uma área em que os portugueses ainda não estão em retoma, como o resto da Europa –, o PÚBLICO foi comparar a diferença entre o mercado de transferências masculino, em clara valorização neste século, e o feminino, cujas transferências são maioritariamente livres.

A maior transferência de sempre no futebol masculino foi a que motivou a ida de Neymar do Barcelona para o PSG. Para rescindir o contrato, o brasileiro teve de pagar 222 milhões de euros ao clube espanhol.

Quantos milhões foram pagos na maior transferência feminina? Nenhum. Não chegou nem lá perto. Pernille Harder fixou o recorde em 2020, quando trocou o Wolfsburgo pelo Chelsea a troco de… 350 mil euros – são menos dois zeros.

O argumento mais comum para esta discrepância remete para a diferença de retorno e dinheiro envolvido nos dois “futebóis”, o masculino e o feminino. Foi, de resto, o argumento utilizado para justificar ao PÚBLICO a desigualdade de salários entre árbitras e árbitros nas primeiras divisões de futebol nacional.

Mas será este um argumento absolutamente imbatível? Talvez não. Comparando a discrepância entre as transferências de Neymar e Harder e, por exemplo, a receita televisiva da Liga inglesa nas vertentes masculina e feminina não há uma relação sequer aproximada.

A transferência de Neymar foi 634 vezes maior do que a de Harder, mas a receita televisiva da Liga inglesa masculina é “apenas” (com muitas aspas) 200 vezes maior do que a da feminina.

No prisma nacional, a maior transferência masculina foi a de João Félix, que trocou o Benfica pelo Atlético de Madrid por 120 milhões de euros, enquanto no sector feminino foi a brasileira Mylena Freittas, que quando foi jogar para o Shangai Shengli rendeu 50 mil euros ao Famalicão.

A actual não-centralização dos direitos televisivos – cenário que está em marcha – impede uma comparação justa destes valores no plano nacional, mas há outras formas de medir a diferença. Nas principais provas do planeta, a desigualdade nos prémios é menor do que faria esperar a discrepância nas transferências de jogadores e jogadoras.

O vencedor da Champions masculina pode amealhar até 85,1 milhões de euros, enquanto na feminina pode chegar, na melhor das hipóteses, a 1,4 milhões de euros – 61 vezes menos. No último Mundial masculino, a França ganhou 38 milhões de euros, enquanto os Estados Unidos, campeões do último Mundial feminino, somou 3,3 milhões – 12 vezes menos.

Daqui se depreende que há, de facto, uma diferença tremenda entre o dinheiro movimentado no futebol masculino e feminino. Mas estes dados apontam, por outro lado, que essa desigualdade não justifica a diferença brutal nos mercados de transferências. É o futebol feminino que ainda mexe pouco dinheiro em transferências ou o masculino que mexe demasiado? Provavelmente, as duas visões estão certas.

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