Lesões da coluna vertebral: a prevenção é o melhor remédio

Embora a coluna vertebral ofereça uma protecção significativa, determinadas lesões podem afectar a medula e, consequentemente, resultar numa incapacidade de conduzir estes sinais com perda da informação sensitiva e do controlo dos músculos.

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GMB Fitness/Unsplash

Todos os anos, mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo sofre uma lesão da coluna vertebral que pode afectar a medula espinal e condicionar incapacidade significativa e irreversível. As principais causas de lesão da coluna e da medula são acidentes rodoviários, quedas, actividades desportivas, mergulho em águas rasas e actos violentos (incluindo tentativas de suicídio), sendo, por conseguinte, evitáveis em muitos casos.

A propósito do Dia Internacional das Lesões da Coluna Vertebral, que se comemora anualmente a 5 de Setembro, é importante alertar para a prevenção deste tipo de lesões.

A coluna vertebral é uma estrutura osteoarticular que simultaneamente estabiliza o nosso corpo e permite mobilidade. No seu interior, protegida pela arquitectura óssea e articular, encontra-se a medula espinal que estabelece a comunicação, em ambos sentidos, entre o cérebro e as diferentes partes do corpo. Feixes de neurónios transportam sinais de, e para o cérebro, veiculando, assim a informação sensitiva (como tacto, pressão ou temperatura) e permitindo a capacidade de iniciar e controlar o movimento.

Embora a coluna vertebral ofereça uma protecção significativa, determinadas lesões podem afectar a medula e, consequentemente, resultar numa incapacidade de conduzir estes sinais com perda da informação sensitiva e do controlo dos músculos.

As lesões medulares têm consequências variáveis, dependendo da severidade e da localização. Em casos mais graves as lesões resultam em perda completa das funções sensitivas e motoras abaixo do nível da lesão, enquanto noutros, estas funções ficam apenas diminuídas. Por outro lado, quanto mais alta a lesão, maior o grau de compromisso funcional. Lesões dorsais e lombares podem afectar a capacidade de mover as pernas e pés (paraplegia), bem como resultar em disfunção urinária, intestinal e sexual, enquanto lesões cervicais podem, igualmente, afectar o movimento dos braços e mãos (tetraplegia) e, eventualmente, a capacidade de fala, de deglutição e respiração.

Deve-se suspeitar de lesão medular sempre que ocorre um traumatismo significativo e, em particular se se observarem alterações sensitivas ou perda da capacidade de mover os membros. Também em acidentados inconscientes esta suspeita deve estar sempre presente. Em caso de acidente deve evitar-se, dentro do possível, mover o sinistrado para não provocar lesões adicionais e contactar de imediato assistência médica que poderá, rapidamente e em segurança, transportá-lo para um centro hospitalar apropriado.

O tratamento médico e cirúrgico de lesões da coluna tem evoluído significativamente nos últimos anos, com procedimentos cada vez mais eficazes e menos invasivos para devolver a o alinhamento e estabilidade. Infelizmente, o potencial de reparação e regeneração medular é muito reduzido, pelo que a nossa capacidade de intervenção directa sobre a medula é extremamente limitada. Por conseguinte, muitas destas lesões medulares não recuperam, ou fazem-no apenas parcialmente, resultando em significativas consequências físicas, mentais, sociais, sexuais e vocacionais para o resto da vida, que vão muito para lá da pura incapacidade de andar, afectando não só o indivíduo mas também a sua família, amigos e colegas. Os impactos e custos para a sociedade são extremamente elevados.

Diversos projectos de investigação, em Portugal tal como em todo o mundo, têm tentado encontrar soluções inovadoras para este problema, mas, embora com resultados promissores, ainda nos encontramos numa fase experimental. Promover a inclusão dos acidentados medulares, mitigando a incapacidade, e fomentando a sua participação em todas as actividades sociais e profissionais deve ser um objectivo de toda a sociedade.

Iniciativas como o Dia Internacional das Lesões da Coluna Vertebral, ou campanhas de prevenção de acidentes como as promovidas pela SPOT – Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia e SPPCV – Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, visam aumentar a consciencialização para o problema, alertar para as suas consequências e apelar à prevenção que, como diz o ditado, é o melhor remédio.

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