Festival Materiais Diversos com 26 actividades e meia centena de artistas

Edição 2021 desenrola-se de 5 a 17 de Outubro entre o Cartaxo, Alcanena e Minde. As actividades paralelas disputam o protagonismo aos espectáculos do programa, alguns em estreia absoluta, como uma nova criação do brasileiro Marcelo Evelin.

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Surma fecha o festival a 17 de Outubro Paulo Pimenta

A conversa Que paisagens pode um festival criar? abre a 5 de Outubro, no Cartaxo, a 11.ª edição do Festival Materiais Diversos, que encerra 12 dias depois, em Minde (Alcanena), com um concerto de Surma.

Apresentada na terça-feira em conferência de imprensa online, esta edição que tem como palavras-chave “repara, cuida, partilha” conta com 26 actividades, 12 das quais conversas, e uma caminhada “imersiva” com pessoas das áreas da criação, da programação e da produção, num projecto da artista chilena Carolina Cifras, investigadora, criadora e docente, em colaboração com Ana Trincão. A agenda de espectáculos inclui sete criações nacionais e duas internacionais, quatro delas em estreia e uma em antestreia.

“Estamos a experimentar, este ano, claramente, um novo formato, em que uma hierarquia muito comum nas programações (os espectáculos e as estreias terem destaque sobre actividades paralelas) não é o que acontece”, disse a directora artística da Materiais Diversos, Elisabete Paiva.

A responsável da organização sublinhou que o festival “continua a afirmar-se como um espaço de criação”, tendo vários projectos em estreia, “muitos deles desenvolvidos ao longo do tempo, em processos de proximidade, de pesquisa, de residências”, e apresentando “dois eixos centrais”, que “anulam essa hierarquia tradicional entre o programa principal e as actividades paralelas”.

A programação da 11.ª edição do Materiais Diversos, que em 2017 assumiu um formato bienal, surge enquadrada pelas expressões “Repara [na dupla acepção de consertar, de refazer, e de parar para observar], Cuida, Partilha”, tendo sido construída a partir da “leitura” dos projectos propostos ou resultantes de convites a artistas, adiantou Elisabete Paiva.

“No último ano e meio temos todos e todas, no sector cultural e fora dele, falado em mudança”, disse, declarando a sua convicção de que “ainda mudou muito pouco”, pelo que, como estrutura cultural, a Materiais Diversos sentiu necessidade de “passar à acção”. Daí as 11 perguntas na base das 11 conversas propostas a uma pluralidade de participantes e a ideia de “desaceleração”, de aproximação ao território e às pessoas e de abertura à acessibilidade, sem abdicar do “espaço para experimentar”.

“Não acreditamos que seja possível experimentar na voragem de querer açambarcar todos os temas urgentes, todas as formas ou todos os artistas emergentes, mas muito mais numa acção de atenção e de cuidado com quem efectivamente podemos e devemos trabalhar, pela consequência que isso pode ter nas pessoas que estão em relação directa connosco e que são muito diversas”, acrescentou.

Além do projecto da chilena Carolina Cifras, o próximo Materiais Diversos traz ainda outra criação internacional, do coreógrafo brasileiro Marcelo Evelin, convidado a criar um objecto artístico de raiz, Filme, em colaboração com Fernanda Silva e o realizador Danilo Carvalho, “a partir da figura emblemática da onça-pintada: um mamífero em extinção que vive nas matas brasileiras, animal selvagem de força e beleza exuberantes, um mito que incorpora os xamãs nos seus rituais de cura, central nas cosmologias ameríndias”.

Da criação, a primeira de um projecto que tem por título provisório Povo da Mata, surgirá a conversa – a única que terá lugar à distância, a partir do Piauí (Brasil) –​ Que povo é esse?, a acontecer também a 5 de Outubro no “ponto de encontro” que funcionará no Centro Cultural do Cartaxo (CCC), disse a directora artística da Materiais Diversos, Elisabete Paiva.

Alina Ruiz Folini, que “investiga a partir da prática da escuta, com o desejo de desierarquizar a relação entre ver, dizer e escutar”, propõe, com Ruído Rosa, uma “experiência corporal de tensão entre pólos não opostos, onde os sentidos não são binários, para observar as várias formas de colaboração, dissociação e ressonância entre oralidade, som e movimento”.

Para além de Filme e de Ruído Rosa, que será apresentado a 9 de Outubro no CCC, o festival apresenta mais três estreias e uma antestreia. Esta última acontecerá a 8 de Outubro, na Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense (em Pontével, no concelho do Cartaxo), com o espectáculo O Estado do Mundo (Quando Acordas), criação de Inês Barahona e Miguel Fragata, da companhia Formiga Atómica, o primeiro tomo “de um díptico que se destina a pensar o estado natural, político, geográfico, social, histórico, económico e humano do mundo”.

Palmira, peça de teatro com música ao vivo de Anabela Almeida e Sara Duarte, em que duas mulheres questionam o que é ser homem e ser mulher, terá a sua estreia no mesmo dia na Galeria José Tagarro, também no Cartaxo.

O trabalho que o Teatro do Frio tem vindo a desenvolver com jovens que frequentam o Centro de Convívio do Cartaxo, na procura de “outras formas possíveis de habitar” o jardim central da cidade, deu origem a Paraíso Bruto, outra das estreias do festival. Terá apresentações de 5 a 10 de Outubro, no próprio Centro de Convívio.

Subterrâneo, instalação de Bruno Caracol a partir do conto Fragment d'histoire future, de Gabriel Tarde, aproveitando a espeleologia e bio-espeleologia da Serra d'Aire, pode ser vista a 15 de Outubro na Fábrica de Cultura de Minde, estando agendadas para os dias seguintes visitas ao polje de Mira-Minde, com o movimento de transição Mira-Minde. A parceria com este movimento proporcionará, no dia 16, no “ponto de encontro” que funcionará no Espaço Jazz, em Minde, uma conversa sobre “o que é isso da transição?”.

Já a 8 de Outubro terá lugar no CCC a conversa Na Prática: que escola é esta?”, sobre a Escola de Verão que a Materiais Diversos tem promovido com o Centro de Estudos de Teatro (CET) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ali será lançado o site da escola e serão partilhadas “reflexões sobre as premissas deste projecto”, com Elisabete Paiva, Rui Pina Coelho e Vânia Rovisco.

Como comunicamos quando queremos falar de cultura? é a pergunta lançada por um grupo de profissionais de comunicação cultural, numa sessão, a decorrer a 9 de Outubro, também no CCC, inspirada na Long Table da artista Lois Weaver, “modelo que será alargado às várias sessões de conversa, procurando incentivar a participação sem hierarquias”, afirma uma nota da Materiais Diversos.

Em outros três debates (Que futuros tenho eu aqui?E depois do Paraíso? e Outra cidadania é possível?), os jovens são convidados a reflectir sobre “as inquietações, os medos, as vontades e os sonhos para um futuro melhor, as questões ecológicas e as responsabilidades da humanidade”.

O festival disponibilizará ainda, nos pontos de encontro, os podcasts resultantes da rubrica O Tempo das Cerejas, espaço de reflexão criado em 2020 pela Materiais Diversos para artistas e pensadores partilharem opiniões.

O encerramento far-se-á a 17 de Outubro com um Piquenique Comunitário, em Minde, com um convite a todos os que participam a levarem “algo para partilhar”, seguido do concerto de Surma, às 18h30, no Coreto de Minde.

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