Ex-namorada de R. Kelly testemunha violência do cantor em tribunal

Ao quarto dia do julgamento do cantor por abusos sexuais surgiram novos relatos dando conta do seu comportamento abusivo e controlador.

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R. Kelly esta segunda-feira em tribunal, junto dos advogados Thomas Farinella e Nicole Blank Becker JANE ROSENBERG/REUTERS

Uma ex-namorada do rapper R. Kelly relatou aos jurados a violência e o controlo de movimentos a que esteve sujeita durante a sua relação de cinco anos com o cantor de R&B, no quarto dia do julgamento a que este está a ser sujeito por abuso sexual.

Chamada a depor pela acusação, a mulher declarou que o cantor verificava regularmente o seu telemóvel para garantir que ela não partilhava com os amigos confidências sobre a relação, que começou em 2015, quando tinha 17 anos. Contou ainda que Kelly a “castigava” pela sua desobediência, nomeadamente espancando-a com força suficiente para lhe deixar marcas e rasgões na pele. “Eu era castigada a cada dois ou três dias”, disse a mulher num tribunal federal em Brooklyn.

Actualmente com 23 anos, a testemunha contou ainda que em 2017 R. Kelly a obrigou a fazer um aborto contra a sua vontade, depois de a ter engravidado.

O cantor de 54 anos, conhecido por temas como I believe I can fly e Bump n’ grind disse-se inocente da acusação que lhe é imputada de abuso sobre seis mulheres e raparigas, incluindo a já desaparecida Aaliyah (1970-2001).

O julgamento deverá estender-se por várias semanas, e o cantor pode ser sentenciado a prisão perpétua, caso venha a ser condenado.

R. Kelly também enfrenta acusações relacionadas com abuso sexual nos estados do Illinois e do Minnesota. Várias das histórias sobre a sua má conduta eram abordadas no documentário Surviving R. Kelly, estreado em 2019.

Coacção e dor

Esta segunda-feira, no quarto dia do julgamento, a testemunha chamada pela acusação recordou como conhecera Kelly num festival em Orlando, onde o cantor lhe dedicou “muita atenção” durante a sua actuação e mandou um membro da sua equipa entregar-lhe o seu número de telefone. Então a frequentar a escola secundária, a rapariga tinha expectativas de iniciar uma carreira como cantora. Terá por isso concordado encontrar-se com o músico num hotel para uma audição, mas Kelly só a terá deixado cantar após ela consentir que ele praticasse sexo oral.

Depois desse encontro, a rapariga passou a ir ter com ele regularmente, tendo mantido relações sexuais com o cantor em várias cidades. Um assistente do músico tratava dos voos. Kelly gravava sempre estes encontros sexuais no seu iPad, acrescentou.

À semelhança de outras testemunhas da acusação, a ex-namorada de Kelly contou aos jurados que este lhe impunha regras rigorosas, obrigando-a a pedir-lhe autorização para fazer praticamente tudo, incluindo sair do aposento onde estava para ir buscar comida ou ir à casa-de-banho.

Disse ainda que Kelly exigia que ela lhe chamasse “Papá” ("Daddy") e que o beijasse sempre que entrava numa divisão.

A certa altura, testemunhou, contraiu herpes após uma relação sexual dolorosa. A doença “piorou” ao ponto de a ex-namorada de Kelly “não conseguir caminhar”.

“Fiquei destruída”, disse, rompendo em lágrimas, e afiançando que nunca tivera relações sexuais com outra pessoa. “[Ele] Transmitiu-me propositadamente uma doença que sabia que tinha.” O músico brincaria até com o assunto, declarando que “toda a gente tem herpes”.

A testemunha declarou que Kelly a esbofeteou pela primeira vez no final do Verão de 2015, depois de ela lhe ter dito que tinha 17 anos e precisava de regressar à escola. O cantor ter-lhe-á proposto que ela frequentasse o último ano de ensino à distância e ficasse a viver com ele em Chicago; os pais da rapariga teriam concordado colocá-la ao cuidado de uma conhecida de Kelly.

A ex-namorada do cantor contou ainda que Kelly se tornou mais violento à medida que o tempo passou, tendo-lhe batido com uma sapatilha numa ocasião em que a encontrou a mandar um SMS a uma amiga sobre a relação dos dois. A rapariga disse ainda que viu Kelly a bater noutras namoradas, e que ele a obrigou a filmarem um vídeo em que ela esfregava fezes na sua própria cara.

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