Prazo da retirada das tropas aproxima-se e “nem todas as pessoas vão sair” do Afeganistão

Os EUA e países aliados trabalham em “ritmo de guerra” para retirar o maior número possível de pessoas, segundo disse à Reuters uma fonte da NATO.

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Países afirmam que o seu "foco é retirar o máximo de pessoas possível" U.S. Marine Corps photo by Sgt. Samuel Ruiz HANDOUT/EPA

“Nem todas as pessoas vão sair” do Afeganistão, admitiu esta terça-feira o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, a uma semana do prazo para as tropas estrangeiras deixarem o país. Além do Reino Unido, outros países anunciaram que, apesar dos esforços de resgate, não devem conseguir retirar todas as pessoas antes de 31 de Agosto e, sem as tropas norte-americanas, não vão manter a sua presença no país.

“O nosso foco é retirar o máximo de pessoas possível. Mas a escala do desafio significa que nem todas as pessoas vão sair”, disse Wallace à BBC. Ao mesmo tempo, a situação no terreno torna-se “mais e mais perigosa”, referindo-se à possibilidade de o grupo fundamentalista islâmico recorrer à força para encerrar o aeroporto de Cabul e à ameaça de outros grupos extremistas.

Sobre a possibilidade de o prazo ser prolongado, Wallace disse à Sky News ser “pouco provável”, não só devido aos taliban, mas pelos comentários do Presidente norte-americano, Joe Biden. “Será uma discussão entre o Governo dos EUA e os taliban”, “mas vale a pena tentar”, continuou.

A Ben Wallace seguiu-se a ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles. Em declarações à rádio Cadena Ser afirmou que as forças espanholas vão “retirar todos os possíveis”, mas “sem dúvida vão ficar pessoas, por razões que não dependem de nós”, disse a governante, acrescentando: “A situação é dramática e cada dia que passa é pior. Os taliban estão a tornar-se cada vez mais agressivos, os controlos são mais duros. Mas vamos tentar tudo até ao fim”.

A ministra salientou que “fora do aeroporto é impossível sair”, porque “os taliban controlam tudo”. Sobre o prazo, admitiu não gostar de adiantar datas, “porque há um risco de segurança”. “Há um drama humano e esta é uma operação militar. Há riscos de todos os tipos”, alertou.

Também a Alemanha reconheceu a impossibilidade de retirar todos os cidadãos de Cabul. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, disse ao jornal Bild estar a trabalhar com o Reino Unido e os EUA para garantir que os parceiros da NATO possam retirar os civis depois do prazo. O objectivo é tentar garantir a retirada de civis do aeroporto mesmo depois da retirada dos militares, porque, “mesmo se [as operações de regaste] durarem até 31 de Agosto ou uns dias depois, não será suficiente”.

“Ritmo de guerra”

Vários países já afirmaram precisar de mais tempo para cumprir as operações de resgate. Nesta terça-feira o G7 irá reunir-se e deve endereçar a situação: o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e aliados dos EUA deverão pressionar Joe Biden para adiar o prazo.

Segundo a CNN, conselheiros militares também deixaram o aviso à Casa Branca que uma decisão sobre o prolongamento da presença das tropas deveria ser tomada nesta terça-feira. E um responsável de defesa disse à emissora que, caso decida estender o prazo, teriam “alguns dias” para retirar os civis antes da saída dos militares.

Enquanto isto, os países aliados trabalham em “ritmo de guerra” para acelerar a retirada do maior número possível de pessoas, segundo disse à Reuters uma fonte da NATO. Milhares de pessoas, afegãos e estrangeiros, continuam a aglomerar-se nas entradas do aeroporto de Cabul, num contexto de segurança no e junto ao aeroporto cada vez mais frágil. E no meio das multidões, muitos têm pouco acesso a comida ou abrigo. 

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