OMS pede ajuda para fazer chegar 500 toneladas de medicamentos a Cabul

Chegam aviões vazios ao aeroporto da capital, é uma oportunidade perdida para transportar ajuda, nota a Organização Mundial de Saúde. Afeganistão era já o destinatário da terceira maior operação de ajuda humanitária antes desta crise.

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Retirada de afegãos por um avião C-17 Globemaster III da Força Aérea dos EUA no aeroporto de Cabul Reuters/US AIR FORCE

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem 500 toneladas de medicamentos, suplementos alimentares e outros produtos médicos no Dubai, que deviam ter chegado ao Afeganistão na semana passada e nesta semana, mas que não consegue transportar para o seu destino devido ao bloqueio no aeroporto de Cabul, com milhares de pessoas a tentarem fugir do país, agora controlado pelos Taliban.

“Antes desta crise, o Afeganistão já estava a viver uma enorme crise humanitária, e era alvo da terceira maior operação de ajuda humanitária actual, que presta apoio à sobrevivência de 18 milhões de pessoas, cerca de metade da população”, explicou Rana Hajjeh, directora de gestão do programa do Gabinete Regional do Mediterrâneo Oriental da OMS, numa conferência de imprensa online. “A luta contra a malnutrição é fundamental, porque o Afeganistão está a passar por uma seca”, acrescentou.

E a emergência é grande: “Não temos em armazém no Afeganistão medicamentos e suplementos alimentares para mais que uma semana”, afirmou Ahmed Al Mandhari, o director da OMS para a Região do Mediterrâneo Oriental. “Mas vão chegando aviões ao aeroporto de Cabul para evacuar cidadãos ocidentais e alguns afegãos, e que voam para lá vazios – perdendo-se uma oportunidade de transportar bens essenciais para o Afeganistão”, sublinhou Mandhari.

“Estão a decorrer negociações ao mais alto nível e com as autoridades taliban para se poder desbloquear esta situação, esperamos ter novidades dentro de dias”, disse Richard Brennan, director regional para as Emergências. “Os Taliban deram sinais encorajadores de quererem que a OMS permanecesse no Afeganistão, até mesmo de que as mulheres que trabalham connosco continuassem a fazê-lo – embora muitas tenham saído por receio”, afirmou.

“Garantir a segurança do pessoal da OMs foi a primeira preocupação, mas agora estamos a dar prioridade à distribuição de medicamentos e alimentos que podem salvar vidas”, frisou Ahmed Al Mandhari. Num contexto em que há pelo menos 300 mil pessoas deslocadas em todo o país, devido ao avanço dos Taliban após a retirada norte-americana até conquistarem Cabul a 15 de Agosto, e que esse movimento de pessoas pode desencadear uma nova vaga de covid-19 – já houve três no país –, uma das prioridades é tentar dar novo impulso à vacinação contra a covid-19, disse Rana Hajjeh.

Há que continuar com a vacinação contra a covid-19 – apenas 5% da população foi vacinada, e destes 80% só teve a primeira dose, esclareceu Dapeng Luo, representante da OMS no Afeganistão. Antes do conflito que levou à queda de Cabul vacinava-se cerca de mil pessoas por dia – na semana passada vacinaram-se 300 pessoas, acrescentou.

Cerca de 95% das 2200 clínicas operadas pela OMS estão a funcionar e as pessoas que trabalham com a Iniciativa Global para a Erradicação da Poliomielite – o Afeganistão é um dos dois únicos países do mundo, junto com o Paquistão, onde existe a forma “selvagem” do vírus – estão a fazer o seu trabalho e a preparar a próxima campanha de vacinação, garantiu Robert Brennan. “Não temos indicações de que o novo poder se oponha à vacinação”, disse.

“Os maiores riscos que corremos é que se percam os avanços que se registaram nas últimas duas décadas ao nível dos cuidados de saúde primários, da saúde materno-infantil. Continuar a vacinação das crianças, a vacinação contra a covid-19 e fazer chegar ajuda alimentar são agora as nossas prioridades no Afeganistão”, resumiu Brennan.

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