No Bairro Alto declara-se guerra às colunas de som no meio da rua

Com as discotecas fechadas, muitos noctívagos dançam onde lhes é permitido: na rua. Moradores, comerciantes e junta de freguesia querem travar o fenómeno. Neste fim-de-semana foram apreendidas 28 colunas.

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À falta de pistas, a dança faz-se em plena rua Nuno Ferreira Santos

Um grupo de amigos traz uma coluna de som portátil, escolhe o melhor passeio e fica ali a dançar ao ritmo da música escolhida no telemóvel. Multiplica-se por muitos grupos e obtém-se o fenómeno que tem marcado o regresso da vida nocturna ao Bairro Alto, em Lisboa: mini-festas em plena rua um pouco por todo o lado.

A situação desagrada à Associação de Comerciantes do Bairro Alto (ACBA), cujo presidente diz que “tem criado um grande mal-estar” para moradores e empresários. Os primeiros vêem-se novamente privados de descanso, os segundos vêem o negócio fugir-lhes para os vendedores ambulantes de litrosas. “Isto está deveras complicado”, comenta Hilário Castro.

Desde que os bares foram autorizados a estar abertos até às duas da manhã, as ruas do Bairro Alto voltaram a encher-se de gente. Muitos restaurantes alargaram ou estrearam esplanadas para tentar compensar dois anos em que a pandemia estragou todas as contas. Mas com as pistas de dança fechadas e a obrigatoriedade de apresentar um certificado de teste negativo ou vacinação para entrar em estabelecimentos durante o fim-de-semana, muitos optam por fazer a festa na rua.

“Com esta dimensão é um fenómeno novo”, assegura Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, onde se insere o Bairro Alto. A autarca diz que as colunas de som se podem encontrar um pouco por toda a freguesia, do Cais do Sodré ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, da Praça D. Luís a Santa Catarina. E não só durante o fim-de-semana, mas igualmente de segunda a sexta-feira.

Neste fim-de-semana, fruto de “uma acção musculada” da Polícia Municipal e da PSP, foram apreendidas 28 colunas no Bairro Alto. Embora não seja proibido dançar na rua, é preciso uma licença para passar música na rua. Além disto, a polícia também tem percorrido as ruas à hora de fecho dos bares para dispersar eventuais multidões, apesar de não estar decretado recolher obrigatório. “Estas acções são para continuar porque isto é um combate que tem mesmo de ser feito”, diz Carla Madeira. “Era algo que tínhamos conseguido diminuir muito, mas agora os moradores voltaram a viver num inferno.”

De acordo com Hilário Castro, “isto não é simplesmente uma moda, porque já acontecia antes da pandemia”, mas “no último mês agravou-se”. “Queremos crer que seja algo temporário”, suspira, ansiando pela reabertura das discotecas.

Depois de um período em que ficou mais afastado da movida lisboeta, na última década o Bairro Alto registou uma renovada procura nocturna, alicerçada em grande parte nos muitos turistas que descobriram a capital. Os moradores, mais rarefeitos, começaram então a queixar-se mais insistentemente de problemas de ruído, insegurança e falta de higiene. Com a imposição de novos horários de encerramento, a instalação de medidores de ruído nos bares e o reforço de algumas rotas de recolha de lixo, o bairro registou algumas melhorias. Porém, o equilíbrio entre habitabilidade e vida nocturna tem sido difícil de manter e todos os quadrantes pedem mais regulação.

A presidente da junta, que ocupa o cargo desde 2013, espera que o fenómeno das colunas de som seja passageiro, pois “provoca muito ruído” e vem associado “a uma onda de destruição” que, assegura, “nunca tinha enfrentado" em oito anos de mandato. Segundo Carla Madeira, “os jardins da freguesia estão sempre a ser vandalizados e os parques infantis a ser destruídos” devido aos botellóns que juntam centenas de pessoas.

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