Instagram pede desculpa por censurar cartaz de filme de Pedro Almodóvar com mamilo

Várias imagens do cartaz de Madres Paralelas, que mostra um mamilo lactante, foram retiradas “por violar as regras contra nudez”.

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"Madres Paralelas" EL DESEO

A rede social Instagram pediu desculpa por censurar o cartaz oficial do novo filme do realizador espanhol Pedro Almodóvar, Madres Paralelas, que inclui um mamilo feminino.

A Facebook, proprietária do Instagram, confirmou à agência Associated Press, na quarta-feira, que várias imagens do cartaz de Madres Paralelas, que mostra um mamilo lactante, foram retiradas “por violar as regras contra nudez”, depois de terem sido publicadas na segunda-feira.

“Fazemos, porém, excepções que permitem nudez em algumas circunstâncias, o que abrange claros contextos artísticos. Assim, restaurámos as publicações partilhando o poster do filme de Almodóvar no Instagram e lamentamos qualquer confusão causada”, disse a empresa num comunicado, entretanto também partilhado pelo autor do cartaz, Javier Jaén, que acusou a rede social de censura.

As regras do Facebook e Instagram, bem como proibições prévias, têm levado à propagação do movimento #FreeTheNipple ("Libertem o mamilo”, na tradução do inglês), usado por artistas e celebridades para retratar mamilos, apesar das regras, que não abrangem os masculinos.

No Twitter, Jaén agradeceu “a todos os que tornaram possível” a reversão da retirada das imagens, estendendo a gratidão também ao realizador Pedro Almodóvar “pela valentia, integridade e liberdade”.

“Esta é provavelmente a primeira imagem que vi quando nasci. Uma empresa como o Instagram diz-me que o meu trabalho é perigoso, que as pessoas não o deviam ver, que é pornográfico. A quantas pessoas estão a dizer que o seu corpo é mau, que o seu corpo é perigoso?”, questionou Jaén, em declarações à AP.

Em reacção, o realizador, num comunicado difundido nas redes sociais pelo irmão Agustín Almodóvar, agradeceu a todos os que apoiaram o cartaz do filme: “Conseguiram que as mentes por trás do algoritmo que decide o que é ou não obsceno e ofensivo tenham feito marcha-atrás e permitam que o cartaz circule livremente”.

“É uma vitória nossa, uma grande vitória. Há que estar alerta antes que as máquinas decidam o que podemos ou não fazer. Sempre confiei na amabilidade dos desconhecidos, mas quando são humanos e um algoritmo não o é. Por muita informação que tenha, nunca terá coração nem senso comum. Mil obrigados a todos, de novo. Oxalá o filme esteja à altura das vossas expectativas”, pode ler-se na mensagem do cineasta.

As polémicas causadas pela actuação dos algoritmos das redes sociais sobre imagens artísticas ou retratando nudez são recorrentes, tendo levado, por exemplo, a uma disputa legal de oito anos, em França, que opôs um utilizador do Facebook àquela rede social por ter visto a sua conta encerrada devido à partilha do quadro A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, que retrata os genitais de uma mulher. Um tribunal deu razão ao utilizador.

Madres Paralelas vai ser o filme de abertura, em competição, do 78.º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que decorre entre 1 e 11 de Setembro naquela cidade italiana.

“Nasci como realizador em Veneza em 1983 na secção Mezzogiorno Mezzanotte. Trinta e oito anos depois sou convidado a abrir o festival. Não consigo explicar a alegria e honra, e o quanto isto significa para mim, sem cair em complacência. Estou muito grato ao festival por este reconhecimento e espero estar à altura”, afirmou o realizador, citado no comunicado.

Pedro Almodóvar estreou-se em Veneza em 1983 com Negros Hábitos. Em 2019, foi distinguido com o Leão de Ouro de carreira e no ano passado regressou para estrear a curta-metragem A Voz Humana, protagonizada por Tilda Swinton.

Madres Paralelas, cujo elenco inclui Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Aitana Sánchez-Gijón e conta com a participação de duas das “actrizes-fetiche” de Almodóvar, Julieta Serrano e Rossy De Palma, conta a história de duas mulheres que partilham o mesmo quarto do hospital onde irão parir.

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