Trabalhadores da hotelaria pedem contratação colectiva e dizem que pandemia “não é desculpa”

Trabalhadores do sector concentraram-se esta terça-feira em frente à sede da AHRESP, em Lisboa.

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FESAHT entregou à AHRESP uma moção reivindicativa LUSA/ANTONIO COTRIM

Mais de uma centena de trabalhadores do sector da hotelaria e turismo concentrou-se hoje em frente à sede da AHRESP, em Lisboa, para reivindicar a contratação colectiva, considerando que a pandemia “não é desculpa” para perder direitos.

“Temos aqui trabalhadores concentrados de norte a sul do país, fomos apresentar uma moção com as principais reivindicações do sector, que são muitas, nomeadamente a contratação colectiva”, disse aos jornalistas a coordenadora da Federação dos Sindicatos de Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT), Maria das Dores Gomes.

Concentrados em frente à sede da associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal (AHRESP), em Lisboa, os trabalhadores consideraram “fundamental” que a associação empresarial “responda relativamente todos os contratos colectivos de trabalho”.

Segundo Maria das Dores Gomes, “os trabalhadores hoje ganham praticamente o salário mínimo nacional, e portanto é fundamental a contratação colectiva”.

Questionada acerca dos efeitos da pandemia de covid-19 no sector, a dirigente sindical considerou que “não é desculpa, porque houve anos e anos, cerca de sete e oito anos, em que a hotelaria esteve, de facto, em alta, com lucros fabulosos, e aí os trabalhadores não viram as suas condições de vida melhoradas”.

Durante a pandemia, “boa parte das empresas tiveram direito a apoio do Estado, apoios esses com dinheiros públicos”, sinalizando que devido a isso, para a FESAHT, “não foram penalizadas”.

“Estão a ser postos em causa os principais direitos dos trabalhadores, nomeadamente o direito às férias, à conciliação entre a família e o trabalho, uma grande parte das empresas está a impor o banco de horas, portanto neste momento os sindicatos estão muito atentos”, vincou a responsável sindical.

Maria das Dores Gomes denunciou ainda que neste momento as empresas dos vários sectores abrangidos pela FESAHT “vão buscar os estagiários, pagam-lhes apenas o subsídio de alimentação -- nalguns casos, noutros nem isso -- e portanto têm trabalhadores à borla”, falando até em “escravatura”.

“Não é atractivo também para os jovens, porque não estão a ser acompanhados por um profissional. São lançados aos “leões”, como nós costumamos dizer. São estagiários e estão a substituir trabalhadores efectivos. Consideramos que isto é, de facto, um abuso por parte das empresas”, salientou.

A FESAHT entregou à AHRESP uma moção reivindicativa e “pedidos de reuniões ainda para este mês”, segundo Maria das Dores Gomes, devido à questão ser “muito urgente”.

Os trabalhadores em protesto marcharam depois até ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com o objectivo de entregar a moção e solicitar uma reunião com a ministra Ana Mendes Godinho.

Na moção, a que a Lusa teve acesso, os trabalhadores exigem a “reabertura imediata de todas as empresas e estabelecimentos”, a “reposição de todos os direitos dos trabalhadores retirados desde o início da pandemia”, o “pagamento dos salários em atraso” e a “integração nos quadros de todos os trabalhadores despedidos”.

É ainda exigido “respeito pelos direitos dos trabalhadores”, a “negociação da contratação colectiva”, o “aumento salarial mínimo de 90 euros para todos os trabalhadores” e a “anulação de todas as restrições e condicionalismos desnecessários”.

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