Lisboa eleva fasquia na redução de emissões, o que obriga a acelerar mudanças

Para atingir os objectivos a que se propõe, cidade terá de conseguir em nove anos quase o mesmo do que atingiu em 16. Plano está em consulta pública até esta quinta.

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As ondas de calor vão ser mais frequentes, obrigando a medidas de adaptação na cidade DANIEL ROCHA

Chuvas fortes e repentinas que deixam a cidade inundada num abrir e fechar de olhos têm sido um fenómeno relativamente esporádico, mas dentro de poucos anos pode tornar-se recorrente e com maior intensidade. E este não é o único risco climático que Lisboa enfrenta a curto e médio prazo: a subida do nível médio da água do mar deixa vulnerável toda a frente ribeirinha; o aumento das temperaturas perspectiva-se extremo para uma cidade com óptima exposição solar; as rajadas de vento forte, ainda que mais esparsas, podem ficar mais fortes.

O diagnóstico está feito e o caminho é irreversível, daí que as cidades já não falem em “travar” ou “reverter”, assumindo antes o objectivo de “mitigar” e “adaptar”, para tornar mais suportável a vida quando as alterações climáticas se manifestarem de forma mais expressiva.

Lisboa, que tem até esta quinta-feira o seu Plano de Acção Climática 2030 em consulta pública, quer terminar esta década com uma redução de 70% na emissão de gases com efeito de estufa face a 2002. É uma meta mais ambiciosa do que a estabelecida há três anos, no Plano de Acção para a Energia Sustentável e Clima (PAESC), que previa um decréscimo de emissões na ordem dos 60%. E ainda mais ambiciosa do que o objectivo traçado em 2017 na Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, que apontava para uma redução na casa dos 40%.

A câmara municipal, responsável pelos três documentos, afirma que a cidade alcançou a redução de 40% em 2018 e por isso acredita que será possível cumprir a nova meta até 2030. Mas para lá chegar o decréscimo das emissões tem de ser quase tão grande em nove anos como foi em 16.

Na rede C40, uma aliança mundial de cidades pelo clima, Lisboa ocupa uma posição média na emissão de gases com efeito de estufa per capita, mas apresenta um valor superior a capitais como Londres, Roma, Madrid, Copenhaga ou Paris.

O que propõe então a autarquia? O Plano de Acção Climática assume que é no campo da mobilidade e dos transportes que o esforço de redução deve ser maior, comprometendo-se com cinco mil postos de carregamento para veículos eléctricos, com o desenvolvimento de um sistema de logística que tire os pesados da cidade, com uma frota da Carris 100% descarbonizada até 2038. Estão também previstos objectivos que já constavam de outros planos, como a redução das deslocações em automóvel de 66% para 34%.

Ainda no campo dos transportes, o documento revela que as descolagens e aterragens de aviões no Aeroporto Humberto Delgado são responsáveis por 9,5% das emissões de gases com efeito de estufa na cidade – um cenário que se vinha agravando até ao eclodir da pandemia. Neste ponto, o Plano traça como única medida a “redução da actividade do aeroporto de Lisboa”, algo que nem sequer depende da autarquia.

De entre as 110 medidas contempladas no campo dos edifícios, da mobilidade, da energia, dos resíduos, da água, dos espaços verdes, do ordenamento do território e da protecção civil, muitas estão dependentes da vontade de privados, pelo que a autarquia diz querer liderar pelo exemplo. A plantação de 25 mil árvores e arbustos de sombra por ano, a construção de habitação municipal com certificação energética A+, a contratação de electricidade ‘verde’ até 2025, a instalação de um parque fotovoltaico em Carnide e a redução em 30% do consumo de água pela própria câmara são alguns dos compromissos municipais.

Este Plano de Acção Climática, que estabelece 2050 como prazo para atingir a neutralidade carbónica, conhecerá a sua versão final depois da consulta pública e das eleições autárquicas.

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