Precisamos todos de ir aos bares

Só a ideia de que os restaurantes podem funcionar às horas normais – ainda que sujeitos às regras do certificado digital – e ver todo o comércio a funcionar como antes é um bálsamo para a economia e para as pessoas que estão desesperadas por ter uma vida normal.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES
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A 17 de Março de 2020, o pai de Boris Johnson foi entrevistado num programa da manhã da ITV e recusou o conselho do filho que, na véspera (ainda antes de impor aos britânicos o lockdown) fizera um apelo aos cidadãos, nomeadamente aos mais velhos, para que evitassem frequentar bares.

Stanley Johnson, na altura com 79 anos, disse que iria a um pub sempre que “precisasse” de ir a um pub. O entrevistador pergunta-lhe, estupefacto: “Mas quem precisa de ir a um pub? Ninguém precisa de ir a um pub!”. O pai Johnson precisava. A expressão de Stanley Johnson – “precisar de ir a um pub” – pode ter parecido eventualmente absurda com a covid a invadir as nossas vidas a um ponto quase irreal. A verdade é que, ao fim de tanto tempo sujeitos a várias tipologias de “recolher obrigatório”, “precisar de ir a um pub” é a mais meridiana das verdades.

O primeiro-ministro anunciou esta quinta-feira um roteiro com vista à “libertação” lá para Outubro. Entende-se a precaução – e até se pode compreender a obrigatoriedade do uso de máscara até Setembro, que Espanha e outros países já deixaram “cair” e outros nunca impuseram. Como o próprio Presidente da República fez questão de enfatizar, desta vez o “optimista irritante” foi ele, com Costa a resistir muito mais à abertura e a produzir um rol de medidas que se revelaram inúteis, como as cercas sanitárias das áreas metropolitanas ao fim-de-semana.

Mas o que o Conselho de Ministros decidiu é um razoável compromisso entre os números ainda muito elevados de novos casos de infectados com covid – e o risco de novas variantes – e o sucesso que tem sido o plano de vacinação, com a consequente redução do número de mortes e de hospitalizações. É evidente que o facto de o número de camas disponíveis em cuidados intensivos em todo o país ser reduzido também conta para que o nível de preocupação não desapareça.

De qualquer forma, só a ideia de que os restaurantes podem funcionar às horas normais – ainda que sujeitos às regras do certificado digital – e ver todo o comércio a funcionar como antes é um bálsamo para a economia e para as pessoas que estão desesperadas por ter uma vida normal. O fim do recolher obrigatório, de constitucionalidade duvidosa sem estado de emergência, marca o regresso a alguma normalidade que desapareceu com a chegada da covid-19.

No fim de contas – ou para usar a mais interessante expressão inglesa “at the end of the day” – o pai de Boris Johnson tinha razão. Todos precisamos de ir ao pub. Felizmente já abrem no domingo.

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