Setúbal é um laboratório para vinhos brancos

Um clima ameno, solos produtivos e muita história com algumas castas fazem que os produtores da região tenham capacidade de se adaptarem rapidamente às solicitações do mercado. Castas regionais, nacionais e internacionais dão vinhos com perfis diferenciados e para todas as carteiras.

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Miguel Manso

A profusão de famílias de moscatéis – com diferentes idades e estilos – e os tintos da casta castelão estão na origem do carácter diferenciador da Região da Península de Setúbal. E se é certo que, nas últimas décadas, o perfil dos tintos mudou muito com a entrada de outras castas nacionais e internacionais, ainda assim, o castelão não só existe em abundância como volta a chamar a atenção dos produtores. Segue-se, então, a pergunta: e em matéria de brancos, a região tem uma identidade própria? Uma identidade que nos leve a entrar num restaurante e pedir um branco de Setúbal como pedimos um encruzado do Dão, um alvarinho de Monção ou Melgaço ou um arinto de Bucelas? Bom, não se dá o caso. Em matéria de brancos – e apesar da presença forte da casta fernão pires –, a Península de Setúbal é uma espécie de laboratório de castas nacionais e estrangeiras. E daqui resultam vinhos com perfis diferenciados e preços para todos os gostos. 

Contudo, esta diversidade de castas acabou por dar origem a alguns vinhos que, vincando a identidade do produtor, acentuam o perfil da região. Um João Pires feito a partir de moscatel de Setúbal, um moscatel roxo rosé ou um Catarina são apenas alguns ícones das suas empresas, mas que, com o tempo, acabaram por tornar-se “vinhos de conceito”, uma vez que deram origem a vinhos semelhantes noutros produtores. 

Sendo uma região bastante produtiva, com solos diferenciados e um clima ameno, é natural que quem seja dono de terra queira plantar as castas da moda. Acontece em todo o lado. E, no caso da Península de Setúbal, esta riqueza de castas acaba por transformar-se em ingredientes para a feitura de vinhos com perfis muito diferentes por via do trabalho criativo dos enólogos na adega. Há enólogos que gostam de apresentar vinhos com notas mais doces, outros que estão a usar ânforas, outros que entendem que a curtimenta faz bem às uvas de fernão pires, outros que estão sempre a inventar a partir das uvas moscatel e outros ainda que andam encantados com uma casta que o dono da empresa descobriu numa qualquer viagem e resolveu plantá-la nas suas terras. 

De uma forma ou de outra, o tal clima ameno, a abundância de água no solo, a proximidade do mar e a colaboração da casta arinto são factores que fornecem frescura natural aos brancos da Península de Setúbal. E que, em consequência, garantem-lhes alguma longevidade. De resto, nesta como noutras regiões, os vinhos brancos dão-nos muito mais prazer com algum tempo de garrafa – coisa que, apesar de ir à velocidade do caracol, começa a fazer escola. Mas, lá está, a beleza da região da Península de Setúbal é fornecer vinhos brancos para todos os gostos. E todas as carteiras.


Este artigo foi publicado no n.º 1 da revista Solo.

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