Covid-19: ocupação em cuidados intensivos a 70% do valor crítico. Variante Delta responsável por 95% dos casos

Análise dos vários indicadores revela uma “tendência crescente” da covid-19 em Portugal. A situação está disseminada por todo o país e afecta todas as idades. Aumento da actividade epidémica, associado ao “predomínio crescente da variante Delta, tem condicionado uma subida gradual na pressão dos cuidados de saúde”.

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O grupo etário com maior número de casos de covid-19 internados em UCI é actualmente o dos 40 aos 59 anos Paulo Pimenta

A ocupação das unidades de cuidados intensivos com casos de covid-19 revela “uma tendência crescente” em Portugal continental, correspondendo a 70% do valor crítico definido de 255 camas ocupadas, de acordo com o relatório de monitorização das linhas vermelhas para a covid-19, divulgado esta sexta-feira pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

O documento refere que, a 21 de Julho, havia 178 doentes internados em UCI — o que corresponde a 70% do limiar definido como crítico. Na semana passada, este valor rondava os 68%. “No último mês, este indicador tem vindo a assumir uma tendência crescente”, destaca ainda o relatório. A região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), com 97 doentes com covid-19 em UCI, representa 54% do total de casos em cuidados intensivos “e corresponde a 94% do limite regional de 103 camas em UCI”.

O grupo etário com maior número de casos de covid-19 internados em cuidados intensivos é actualmente o dos 40 aos 59 anos — a 21 de Julho, havia 86 pessoas desta faixa etária em UCI.

Incidência aumenta nos maiores de 80 anos

O INSA revela que, segundo dados de 21 de Julho, a incidência da covid-19 a 14 dias por 100 mil habitantes foi de 427 casos, “com tendência crescente a nível nacional”. A região Norte foi a que apresentou o maior aumento de incidência em relação à última semana, registando actualmente 425 casos por cem mil habitantes. Porém, o INSA destaca “a incidência muito elevada na região do Algarve”, que contabiliza 968 casos.

Lisboa e Vale do Tejo apresenta uma incidência de 513 casos por cem mil habitantes, seguindo-se o Alentejo (264) e o Centro (220).

A “linha vermelha” da incidência de 240 novos casos por 100 mil habitantes já foi ultrapassada a nível nacional e no Norte, LVT, Alentejo e Algarve. Apenas o Centro ainda não ultrapassou este limite, mas “a manterem-se estas taxas de crescimento, estima-se que este limiar seja atingido em menos de 15 dias também na região Centro”.

Segundo o relatório, “todos os grupos etários apresentam uma tendência crescente da incidência”. A faixa etária com a incidência mais elevada é a dos 20 aos 29 anos (1000 casos por cem mil habitantes). O INSA salienta ainda que o grupo etário dos maiores de 80 anos apresenta uma incidência de 128 casos por 100 mil habitantes, o que “reflecte um risco de infecção inferior ao risco para a população em geral, mas que ainda assim apresenta um crescimento de 54% em relação ao observado na semana anterior”. “Este grupo etário foi aquele em que se observou a maior variação relativa face à semana passada, o que poderá vir a traduzir-se no aumento de internamentos e mortes nas próximas semanas”, acrescenta.

O índice de transmissibilidade — R(t) —, para o período de 14 a 18 de Julho, fixou-se em 1,07 tanto a nível nacional como no continente. “Observou-se um valor de R(t) superior a 1 em todas as regiões do continente, indicando uma tendência ainda crescente da transmissibilidade e da incidência de infecção por SARS-CoV-2”, acrescenta o documento. Em território continental, o valor mais elevado do R(t) registou-se na região Norte (1,16).

Em comparação com os valores da semana passada, o R(t) “desceu em todas as regiões, indicando uma desaceleração da transmissibilidade da infecção, embora ainda com tendência crescente”. Face à semana passada, o R(t) desceu de 1,24 para 1,16 na região Norte; de 1,13 para 1,06 no Centro; de 1,07 para 1,01 em Lisboa e Vale do Tejo; de 1,13 para 1,11 no Alentejo; e de 1,15 para 1,08 no Algarve.

A nível nacional, há 67 dias — desde 13 de Maio — que o R(t) apresenta valores acima de 1, “indicando a manutenção da tendência crescente”. As regiões do Norte, Centro, LVT, Alentejo e Algarve apresentam um R(t ) superior a 1 há, respectivamente, 40, 50, 71, 46 e 52 dias.

Variante Delta responsável por 95% dos casos

A variante Delta (B.1.617.2), originalmente detectada na Índia, é actualmente “a variante dominante em todas as regiões”, com uma frequência relativa de 94,8% a nível nacional nos casos avaliados entre 5 e 11 de Julho. A sua frequência tem “aumentado em todas as regiões durante as últimas semanas”, variando entre 87% (Norte) e 100% (Alentejo e Açores e Madeira).

Durante o mesmo período, “não foi confirmado, através de sequenciação genómica, qualquer caso de infecção por SARS-CoV-2 com a variante Delta plus (sublinhagem AY.1), indicando que a sua circulação em Portugal é muito limitada”. Até à data, detectaram-se 56 casos desta variante em Portugal.

A variante Alpha (B.1.1.7), associada ao Reino Unido, apresenta uma frequência relativa a nível nacional de 4,4%, registando uma “tendência decrescente em todo o território nacional”.

Já a variante Gamma (P.1), associada a Manaus, Brasil, tem uma prevalência em Portugal de 0,4%, o que representa “uma transmissão pouco frequente e sem tendência crescente em território nacional”.

Quanto à variante associada à África do Sul, Beta (B.1.351), “não se identificou qualquer caso de infecção”, “o que aponta para uma tendência controlada desta variante”.

Por fim, em relação à variante Lambda (C.37), associada ao Peru, até 22 de Julho foram identificados dois casos em território nacional.

Segundo o INSA, até 22 de Julho, foi realizada a sequenciação genómica em 11.929 amostras.

Proporção de testes positivos de 5,2%

A nível nacional, a proporção de testes positivos, de 8 a 14 de Julho, foi de 5,2%, um valor que se mantém acima do limiar definido de 4%. Na semana passada, este valor rondava os 4,9%. Durante o mesmo período, o total de testes realizados foi de 449.570.

O relatório refere ainda que foi observado “um aumento do número de testes para detecção de SARS-CoV-2 realizados nos últimos sete dias” e que “a proporção de casos confirmados notificados com atraso foi de 4,8%, mantendo-se abaixo do limiar de 10%”.

O INSA salienta que, de 15 a 21 de Julho, pelo menos 86% dos casos foram isolados em menos de 24 horas após a notificação e, “no mesmo período, foram rastreados e isolados, quando necessário, todos os contactos em 73% dos casos”. Neste período, estiveram envolvidos no processo de rastreamento, em média, 435 profissionais a tempo inteiro, por dia, no continente.

Em conclusão, o INSA refere que a análise dos vários indicadores revela “uma actividade epidémica de SARS-CoV-2 de elevada intensidade e tendência crescente, disseminada em todo o país e que afecta todas as idades, actualmente com maior impacto nas regiões do Algarve, LVT e Norte”. “No último mês, o aumento da actividade epidémica, associado ao predomínio crescente da variante Delta, tem condicionado uma subida gradual na pressão dos cuidados de saúde”, acrescenta.

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