Como consertar a nossa (cada vez mais pequena) rede de amigos e colegas de trabalho?

Fazer networking tornou-se mais difícil com a pandemia: as nossas redes sociais diminuíram quase 17%. Marissa King, autora do livro Social Chemistry, explica o que podemos fazer para recuperá-las.

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Surface/Unsplash

Se a tua rede de contactos sociais e profissionais se desintegrou durante a pandemia, não estás sozinho. 

Marissa King, autora do livro Social Chemistry e professora na Yale School of Management, tem vindo a estudar o que aconteceu à rede de contactos das pessoas na era covid-19 — e é tão mau quanto podes imaginar. 

Numa entrevista à Reuters, King discute como restaurar as nossas conexões pessoais e profissionais. 

Como se saíram as nossas conexões na pandemia?
Olhamos para o tamanho das redes das pessoas em Junho de 2019 e comparámo-las com as de Junho de 2020, durante as medidas de confinamento. Descobrimos que as redes diminuíram quase 17% durante a pandemia. Em particular, foram as camadas periféricas das redes, os conhecidos e os contactos casuais, que levaram a maior pancada.

Que efeito tem isto nas pessoas?
O tamanho da nossa rede tem implicações importantes em termos da capacidade de adquirir informação, de inovar, de nos cruzarmos com novas ideias. Se estiveres à procura de um emprego, por exemplo, é principalmente através dessa parte [periférica] da tua rede que vais encontrar um. 

Encontrou algumas diferenças a nível de género?
A redução no tamanho das redes no geral é quase totalmente devido aos homens. A rede deles diminuiu cerca de 30%, enquanto a das mulheres não diminuiu muito. Há algumas razões para isto: os homens tendem a manter relacionamentos de formas diferentes, como a sair ou a fazerem coisas juntos. As mulheres tendem a ter conversas, por isso não foram impactadas da mesma forma. 

Como é que esta desconexão afecta os nossos sentimentos de proximidade?
Nós já tínhamos falado sobre uma epidemia de solidão, e a pandemia apenas exacerbou isso. As nossas redes tornam-se naturalmente mais e mais pequenas, ao longo do tempo, e é por isso que os idosos têm tantos problemas de solidão. Enquanto sociedade, estamos todos a enfrentar essa chocante transição neste momento. 

Este estrago nas nossas redes pode ser arranjado?
Uma das acções mais simples que podes fazer é estar presente para as pessoas que te rodeiam, numa altura em que estamos todos tão distraídos, com os nossos telemóveis ou em reuniões Zoom, que prejudicam a nossa capacidade de obter os benefícios do apoio e conexão com aqueles que temos em casa. Estar verdadeiramente presente para eles é a forma mais efectiva de lutar contra a solidão.

Um segundo conselho é que as pessoas precisam de dedicar tempo e atenção a tentar aproximar-se dos outros. Nós fizemos isso instintivamente no início da pandemia, mas a fadiga do Zoom acabou por dificultar. Há alguém que influenciou a tua vida? Envia-lhes uma mensagem, pega no telefone e diz que estás a pensar nele.

No seu livro, fala sobre como é importante que as pessoas reconheçam que tipo de networker são.
A maioria das pessoas é um de três tipos. Há os “convocadores”, que gastam muita energia a manter relacionamentos próximos, e cujos amigos tender a ser amigos uns dos outros. Há os “agentes”, que tendem a abranger diferentes mundos, e estão basicamente na ideia de negócio importar-exportar. E depois há os “expansionistas”, que têm uma rede extraordinariamente grande, e tendem a ser populares e influentes.

Muitas pessoas têm aversão a fazer networking. O que lhes diria?
Se não o fizermos, as nossas redes vão ficar mais e mais pequenas. Uma das melhores formas de ultrapassar isso é pensar não no que poderias estar a receber, mas no que poderias estar a dar. Todos temos algo para dar, e isso torna mais fácil uma possível aproximação. 

Estuda este tema a nível académico, mas isto também afectou a sua vida?
A minha rede diminuiu como a de toda a gente, e estou ok com isso. Aceitei que o mais importante neste momento é focar-me nos filhos e no que eles precisam, estar presente para o meu marido. É ok tomar uma decisão como esta a curto prazo. Mas, ao longo do tempo, sei que vou ter que investir mais na minha rede e voltar a conectar. Não existe uma rede certa para todos, nem há uma forma melhor de navegar neste momento da história. É sempre uma troca.

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