Ventura foi dizer a Bolieiro que não quer eleições antecipadas nos Açores

Depois de o Chega-Açores ter perdido o líder e um deputado, André Ventura reuniu-se com o presidente do governo regional para reafirmar o acordo entre PSD e Chega para viabilizar o executivo açoriano.

chega,andre-ventura,governo-acores,psdacores,politica,acores,
Fotogaleria
LUSA/EDUARDO COSTA
chega,andre-ventura,governo-acores,psdacores,politica,acores,
Fotogaleria
LUSA/EDUARDO COSTA

A convulsão no Chega dos Açores não se estendeu à política regional. Na semana em que o Chega perdeu o líder regional e um deputado no parlamento açoriano, André Ventura quis reunir-se com José Manuel Bolieiro, para, supostamente, avaliar a sustentabilidade do Governo dos Açores. No final da reunião, Ventura e Bolieiro mostraram-se satisfeitos com o encontro e reforçaram o apoio parlamentar do Chega ao governo açoriano.

“Transmitimos ao senhor presidente do governo regional que não é vontade do Chega, nem do seu presidente, nem da estrutura regional, agora em reorganização, que haja lugar a quaisquer eleições antecipadas”, afirmou Ventura após a reunião, em declarações aos jornalistas. O líder nacional do Chega deixou, aliás, bem claro que o partido não quer promover a instabilidade governativa na região, que “leve ao regresso dos socialistas” ao poder. “O Chega preza a estabilidade que se conseguiu”.

Ventura até aproveitou a ocasião para lamentar a postura do PAN, da Iniciativa Liberal e do PS que pediram a intervenção do Representante da República na região, Pedro Catarino, devido à instabilidade no Chega. “Estamos certos de que os açorianos não querem eleições antecipadas. Fazer o contrário é fazer a vontade ao PS”, afirmou Ventura.

Na conferência de imprensa a meio de semana em que retirou a confiança política ao agora ex-líder do Chega-Açores, Carlos Furtado, Ventura criticou a “excessiva subserviência” do partido para com o PSD na região.

Sobre isso, no encontro com o líder do executivo açoriano, Ventura lembrou duas medidas plasmadas no acordo entre o Chega e a coligação do governo açoriano: a redução do número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) e a criação de um gabinete de luta contra a corrupção.

Nesse capítulo, Ventura está “preocupado” e “vigilante”, mas também ficou “tranquilizado” com as respostas dadas por Bolieiro. O gabinete de luta contra a corrupção “já está definido organicamente” e pronto a “começar a trabalhar”.

Já sobre o RSI, André Ventura anunciou que o Chega irá apresentar uma proposta na Assembleia dos Açores “com metas claras e um quadro calendarizado” para “reduzir a subsidiodependência e promover a inclusão laboral” – uma revelação pouco habitual, uma vez que não é frequente um líder partidário nacional anunciar medidas regionais.

“Estamos preocupados com isso, gostávamos que tivesse sido feito mais, compreendemos também que no quadro actual de pandemia e de gestão é muitas vezes difícil levar a cabo esta missão de forma efectiva”, disse Ventura, sobre a redução do número de beneficiários.

A “estabilidade é tranquilizadora”

Tendo em conta a votação do último orçamento regional, a estabilidade governativa nos Açores estaria assegurada, mesmo que o Chega, agora só com um deputado, deixasse de apoiar o governo regional.

Os três partidos que integram o executivo açoriano, PSD, CDS-PP, PPM, representam 26 deputados. São precisos mais três para alcançar a maioria parlamentar. Exceptuando o BE e o PS, sobram quatro deputados: o da Iniciativa Liberal, o do Chega, o do PAN e o do agora independente Carlos Furtado. Todos estes quatros deputados viabilizaram o Orçamento regional para este ano.

Mas, ainda assim, Bolieiro disse ter tomado nota “com satisfação” de que o Chega irá “garantir o cumprimento dos compromissos” e lembrou que o acordo de incidência parlamentar foi “acordado num diálogo directo” com os deputados do partido e com a direcção nacional de Ventura. “Obviamente que estabilidade é tranquilizadora. Eu estive sempre estabilizado, porque conheço as pessoas e conheço o rigor na honra da palavra dada”.

O social-democrata realçou que o governo açoriano está com “responsabilidade” a “cumprir e a fazer cumprir” os objectivos dos acordos de incidência parlamentar, firmados entre a coligação (PSD, CDS, PPM), da coligação com o Chega e do PSD com a Iniciativa Liberal.

“Renovar, relembrar, [fazer] um esforço de calendarização de todos esses objectivos e monitorizar o que já foi cumprido foi o fruto desta reunião, que devo dizer que me satisfez”, afirmou Bolieiro, que saiu mais cedo do plenário da Assembleia Regional no Faial para se poder reunir com Ventura em São Miguel.

Já sobre uma eventual moção de censura, o presidente do Governo dos Açores disse não viver de “temores” e salientou que não existiu qualquer “perturbação parlamentar” devido ao Chega ter perdido um deputado. “Creio que o caminho está assegurado e vamos chegar com certeza a bom porto”. Portanto, e em suma, dos Açores, nada de novo.

Sugerir correcção
Comentar