Racismo, o campeonato onde todos perdem

Infelizmente, o futebol, este campeonato e o desporto em geral acabam nestes momentos, revelando o pior de uma nação ainda a braços com um passado colonial onde a supremacia britânica é ainda um motivo de orgulho.

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Reuters/CARL RECINE

Entre o destino e a sorte, ou falta dela, Marcus Rashford, Jadon Sancha e Bukayo Saka acabaram a noite a falhar os penáltis que deram a vitória à Itália na final do Europeu

A razão do seu insucesso, no entanto, e de acordo com os adeptos ingleses, não está de modo algum na sua juventude, possível inexperiência ou nas escolhas do treinador. Não, a razão do seu insucesso está na cor da pele, ou não tivessem sido os três jogadores vítimas de racismo nas redes sociais imediatamente a seguir ao término do jogo. 

Os insultos, intraduzíveis e rasurados por razões óbvias, foram desde “Go back to Nigeria”, “Get out of my country”, até aos “Take banana n...r” ou “It’s coming Rome!!! F...g n...r!”.

Infelizmente, o futebol, este campeonato e o desporto em geral acabam nestes momentos, revelando o pior de uma nação ainda a braços com um passado colonial onde a supremacia britânica é ainda um motivo de orgulho.

A mesma supremacia usada como argumento para a saída do Reino Unido da União Europeia e onde o emigrante, o mestiço, o negro, o europeu, o asiático, o diferente porque a cor da pele diferente, a língua e a cultura diferentes, o não caucasiano com olhos que não azuis e com cabelo que não louro ou uma estatura nem por isso satisfatoriamente alta, fazendo lembrar tempos nem por isso distantes, é o bode expiatório e o único responsável pelos pecados, insucessos e derrotas de um país.

A mesma supremacia ignorante cuja presença dá razão aos adversários do Reino Unido no palco mundial num mundo que se quer mais justo e igual, mas onde a ignorância é ainda rainha quando o insucesso bate à porta. 

A ignorância de quem procura por todos os meios expulsar todos os que se levantam às 3horas desde sempre para fazer tudo o que os britânicos se recusam a fazer, limpar o chão e as ruas, cuidar dos doentes e idosos, construir estradas, edifícios, infra-estruturas, o país, mas também investigar, ensinar, curar, em suma, ajudar, através do sacrifício imenso de quem está a milhares de quilómetros dos seus, a desenvolver uma nação a troco não de uma vida mas de insultos, medo, ameaças e agressões.

E o que dizer do exemplo de Marcus Rashford ao promover o acesso a refeições gratuitas para famílias carenciadas em plena pandemia?

Porque a culpa do insucesso, a existir, é da mesma sociedade que insulta das bancadas quando a equipa da qual se deviam orgulhar insiste em ajoelhar-se, jogo após jogo, contra a injustiça e o sofrimento, a equipa cujas aspirações, desejos e anseios, pelo futuro que é o futuro de todos nós vai muito além das quatro linhas de um simples relvado.

Perder ou ganhar, no fim é tudo desporto e o importante é competir. Com respeito, maturidade, solidariedade e amizade, revelando o verdadeiro poder de união que só o desporto tem ao trazer-nos todos juntos mais uma vez e depois de tanto tempo.

Dizer mil vezes obrigados a estes jogadores que tantas emoções e alegrias nos trazem pecará sempre por defeito. E sublinhar a nossa presença ao seu lado quando o pior monstro de todos se revela mais uma vez, um monstro que a todos diz respeito e cujo nome, racismo, não é senão o campeonato onde todos verdadeiramente perdem e contra o qual combatemos. Até à vitória final. 
 

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